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Dossiê John Huston

O TESOURO DE SIERRA MADRE
Direção: John Huston
The Treasure of Sierra Madre, EUA /Reino Unido, 1948.

Por Matheus Trunk

“Elia Kazan me disse uma vez que é sempre bom sabermos que estamos no ramo que fez O Tesouro de Sierra Madre” Martin Scorsese.

Há filmes com um começo já genial. Isso pode ser plenamente comprovado no clássico “O Tesouro de Sierra Madre” quando Fred C. Dobbs (feito por Humprey Bogart, extraordinário) pede dinheiro a um compatriota (interpretado pelo próprio Huston) três vezes. Embora peça o dinheiro para comer, em uma ele corta o cabelo e faz a barba e em outra vai atrás dos serviços de uma mexicana muy guapa. Só com isso já teríamos um curta genial: mas Huston propõe muito mais.

Americanos vivendo como vagabundos em Tampico no México, Humprey Bogart e Tim Holt dormem num albergue em que um velho que só fala em exploração de ouro. Os dois ficarão bem assustados com a tal facilidade dita pelo qual velho Howard (interpretado por Walter Huston, pai do diretor do filme) é conseguir muito dinheiro rapidamente pela mineração. Juntando centavo por centavo, eles poderão ingressar na aventura de explorar ouro na selva mexicana.

Chegando a seu destino a Sierra Madre e começando a acumular ouro, Dobbs vai mudando de perfil. Se antes ele tinha amizade pelos outros companheiros de garimpo, a ganância vai tomando conta dele e mudando sua personalidade. Começa a ter paranóias, pensando sempre que os demais irão roubar sua parte do tesouro. Sua ganância o tornará agressivo e mesmo violento com os dois amigos.

O tempo mostrará que sem união e amizade, a aventura será um grande fracasso. Rodado em grande parte no lugar onde os três amigos exploram ouro, o filme cresce justamente aí. Ao contrário de filmes clássicos da época com diversos cenários, “O Tesouro de Sierra Madre” acaba funcionando mais como uma peça de teatro, onde o que tornará tudo especial são os atores e seus personagens.

Se por um lado o personagem de Bogart é traçado principalmente pela ganância e podendo fazer de tudo por ela, Howard acaba sendo uma espécie de contraponto. Experiente conhecedor desse tipo de aventuras, ele parece estar mais preocupado em sair vivo da aventura do que com o enriquecimento próprio. As participações dos dois atores são magistrais. Porém Bogart, acabou perdendo o Oscar de melhor ator de 48 para o não menos especial Laurece Oliver. Mesmo assim Walter Huston pode ter ganhando o seu de ator coadjuvante, pela bela atuação como o velho Howard. Quando recebeu o pêmio Walter disse: “Há muitos anos, disse a meu filho: se você vier a ser roteirista ou diretor de cinema, arranje, por favor um bom papel para seu velho e vejo que pelo jeito ele arranjou”. Este filme também que deu os Oscars de melhor direção e roteiro a Huston, além de ter recebido em seu ano o Globo de Ouro de melhor filme, direção e coadjuvante. Mesmo assim, o filme foi um grande fracasso de público.

Baseado no livro do misterioso B. Traven, “O Tesouro de Sierra Madre” é um filme que consagrou Huston entre os diretores hollywoodianos de seu tempo. E pode mostrar que além de ser um grande jogador, ator, namorador, caçador, boxeador, pintor e tantas outras coisas, um homem como ele poderia ser um grande diretor de cinema, desses que são difíceis de aparecer em tempos como os nossos.



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