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Musas Eternas...
PORQUE O QUE É BOM, É ETERNO...

Rossana Ghessa

Por Sérgio Andrade

Rossana Ghessa é natural da cidade de Carbonia, na Sardenha, Itália, onde nasceu em 1943. Com sete anos muda-se para o Brasil, país que adota como seu.

Em 1963 ganha o concurso “Miss Objetiva”, chamando atenção da Agência McCann Ericsson, que a contrata para trabalhar como modelo fotográfico e apresentar o programa “Agarre o Que Puder” da TV Rio.

Três anos depois estréia no cinema pelas mãos do diretor Victor Lima em “Paraíba, Vida e Morte de Um Bandido”, biografia do famoso bandido interpretado por Jece Valadão. Ela seria dirigida novamente por Lima em seu filme seguinte: “007 ½ no carnaval”, que tinha no elenco Chacrinha e Costinha.

Seguem-se 3 filmes de pouca repercussão: “Carnaval Barra Limpa”, do esteta J. B. Tanko; “Jogo Perigoso”, uma co-produção Brasil-México em 2 episódios, sendo que ela atuou no segundo, dirigido por Luiz Alcoriza; e “Enfim sós...com o outro”, de Wilson Silva

Mas é em 1968 que Rossana finalmente tem a oportunidade de demonstrar seu talento, quando Maurice Capovilla a chama para ser “Bebel, a Garota Propaganda”. Baseado no romance “Bebel que a cidade comeu”, de Ignácio de Loyola Brandão, o filme conta a história dessa jovem de origem humilde que é escolhida para ser a protagonista da campanha publicitária de uma nova marca de sabonete. O sucesso é estrondoso, mas quando a campanha acaba acompanhamos a queda de popularidade de Bebel, e sua luta para continuar em evidência, envolvendo-se com diversos homens que querem apenas aproveitar-se dela. Porém, na interpretação repleta de nuances da atriz, Bebel não é apenas uma garota ingênua, mas sim uma mulher capaz de transformar os homens de sua vida, em especial um jovem estudante que sonha com uma sociedade utópica, em plena ditadura militar.

Bebel é uma sobrevivente, e não se deixa abater em momento algum, como fica claro na entrevista que dá a um cineasta que estava fazendo um documentário sobre ela, pouco antes de ser leiloada numa boate. Pelo papel Rossana ganhou o prêmio de melhor atriz do III Festival de Brasília.

No ano seguinte participa do ambicioso “Quelé do Pajeú”, de Anselmo Duarte, primeiro filme brasileiro rodado em 70mm, mas que não obteve o sucesso esperado.

Logo depois seria escalada pelo grande Walter Hugo Khouri para interpretar uma jovem que se une com 2 amigas para explorar o lucrativo negócio da prostituição. “Palácio dos Anjos” foi o representante brasileiro no 23 º Festival de Cannes, e é tido por alguns especialistas na obra do diretor como sua obra-prima, o que não representa pouca coisa para quem tem no currículo títulos como “Noite Vazia”, “Corpo Ardente” e “Eros, o Deus do Amor”.

Participa depois de três comédias picantes: “Memórias de um Gigolô”, “Lua-de-mel e amendoim” e “Edy Sexy, o Agente Positivo”, no qual sua personagem atendia pelo sugestivo nome de Tentação!
Em 1971outro projeto ambicioso, Ana Terra, adaptação de um trecho do monumental “O Tempo e o Vento” de Érico Veríssimo, dirigido por Durval Garcia. Claro que o diretor não conseguiu dar conta do caráter épico da narrativa, mas pelo menos Rossana foi recompensada pelo esforço com um prêmio de melhor atriz em sua terra natal, a Placa de Ouro e Prata do Festival de Nápoles.

Seus próximos trabalhos seriam na pornochanchada “Um Marido sem...é como um jardim sem flores”, de Alberto Pieralisi, e no policial “Obsessão”, de Jece Valadão.

Começa então uma fase de trabalho intenso. Em 6 anos, de 1974 a 1979, ela apareceu em 15 filmes, muitos dos quais pornochanchadas (“As Secretárias...que fazem de tudo”; “Quando as mulheres querem provas”; “Tem alguém na minha cama”) que a transformariam numa das maiores musas do gênero.

Mas suas melhores interpretações foram nos dramas “Pureza Proibida”, como uma freira acusada de manter relações sexuais com um pescador negro e “Lucíola, O Anjo Pecador”, caprichada produção de época (final do séc. 19) baseada no romance de José de Alencar, ambos dirigidos pelo subestimado Alfredo Sternheim; na comédia de humor negro “O Vampiro de Copacabana”, de Xavier de Oliveira e em “Snuff, Vitimas do Prazer”, de Cláudio Cunha. Terminando a década, mais 4 filmes: as pornochanchadas “A Virgem e o Bem Dotado”, de um dos mais competentes artesãos da boca, o polonês Edward Freund e “O Inseto do Amor”, de Fauzi Mansur, uma das mais surrealistas comédias eróticas da Boca. O elenco feminino desse filme é uma atração à parte: além de Rossana tem Angelina Muniz, Helena Ramos, Zélia Diniz, Ana Maria Kreisler, Claudette Joubert, Liza Vieira, Alvamar Taddei, Misaki Tanaka etc., todas tendo seus belos bumbuns devidamente picados pelo mosquito Anophelis Sexualis. Um verdadeiro clássico!!!

Reencontra Khouri no sofisticado “Convite ao Prazer”, numa pequena participação, e tem o papel principal em “Bordel – Noites Proibidas”, de Osvaldo de Oliveira.

Já na década de 80 poucas coisas se destacam, entre elas uma nova colaboração com Mansur em “Me deixa de quatro”. Atrás desse título apelativo esconde-se uma deliciosa comédia de costumes, repleta de observações humanas e sociais sobre a fauna da periferia paulistana, quase um tratado antropológico.

“As intimidades de duas mulheres” era um drama “lesbian chic”.
E teve um insólito episódio de “Fantasias Sexuais” (A mulher abelha), dirigido com a competência que era habitual em Juan Bajon, embora pouquíssimos percebessem isso.

Mas com o sexo explícito dominando totalmente a produção de filmes da Boca do Lixo, Rossana, assim como muitas outras atrizes, abandonou o cinema.

Ela faria apenas mais 4 filmes, o último dos quais “Cio dos Amantes”, de Custódio Gomes em 1988, passando em seguida a dedicar-se apenas à produção.

Só voltaria a trabalhar na frente das câmeras em 1996, em “Adágio ao Sol”, do grande Xavier de Oliveira. Um filme recebido à pauladas quando foi lançado em São Paulo com muito atraso, tendo ficado somente uma semana em cartaz. Mas visto recentemente, as críticas mostraram-se injustas. Trata de um triângulo amoroso tendo como pano de fundo a Revolução Constitucionalista de 32 e a crise do café. E Rossana, aos 53 anos, mostrava que continuava em forma, bonita, com um belo corpo e ótima atriz.
Após esse breve retorno, volta a ser produtora.
Rossana Ghessa é um caso raro no Brasil, uma atriz essencialmente de cinema.

Será sempre lembrada pelos grandes papéis em “Bebel, Garota Propaganda”, “Palácio dos Anjos”, “Lucíola”, “O Vampiro de Copacabana”, “Snuff”.

E principalmente como uma das musas da pornochanchada, as quais ela abrilhantou com seu talento, sua simpatia, graça, beleza, sensualidade e plástica invejável.

Filmografia:




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