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Dossiê Edu Janks

EDU JANKS: UM CRÍTICO DA BOCA

Por Matheus Trunk

O cinema tupiniquim é esquecido com imensa facilidade. Os críticos brasileiros mais ainda. Felizmente, cada vez mais estes vem ganhando antologias de textos. Há alguns anos atrás, foi a vez de antigos críticos cariocas ganharem espaço (Moniz Viana, José Lino Gruenwald). Graças a coleção Aplauso, finalmente alguns críticos paulistas tiveram seu devido reconhecimento estabelecido em antologias (como Rubem Biáfora, Edmar Pereira, Jairo Ferreira). Porém, a situação fica dramática ainda quando falamos dos críticos especializados no cinema da Boca: Edu Janks e Jota Santana. Nenhum dos dois mereceu nada até agora.

Foi mesmo pelas páginas e linhas da revista Big Man Internacional, que Janks pôde dar de alguma forma, um reconhecimento aos diretores da Rua do Triunfo. Num tempo em que não existiam fotos em alta resolução e assessorias de imprensa, o sábio e inteligente, ele percorria as produtoras atrás de algum material para suas colunas. Muitas vezes recebia os fotogramas, que colocava como fotos para as matérias.

A “Nosso Cinema”, publicada mensalmente na revista masculina só é comparável a semanal “Por Dentro da Boca” do célebre Jota Santana do NP- Notícias Populares. Esses dois veículos foram os únicos da época que destacaram a produção cinematográfica paulista de uma forma positiva. Funcionavam como uma espécie de “jornal” informal da Boca informando quais seriam as novas produções e os novos personagens que despontavam no momento. Além das colunas, a Big Man teve três números especiais dedicadas somente ao cinema explícito nativo, com entrevistas com atores, produtores, diretores e matérias especiais.

Diferencialmente desses meios “alternativos” haviam os críticos dos grandes jornais. Por vezes falavam bem da Boca (Rubem Biáfora, Jairo Ferreira, José Julio Spiewak, entre outros). Porém, a maioria falava mal (Ely Azeredo, Valério Andrade e a grande maioria dos críticos cariocas) e outros nem viam os filmes (Moniz Viana).

Já Janks, fazia suas geniais e impagáveis colunas deixando o espectador com vontade de correr ao cinema. Esse tipo de preocupação, muitas vezes é um problema hoje em dia entre os críticos dos grandes jornais. Carlão Reichenbach me disse certa vez que é muito raro que um crítico provoque ele a sair de casa para ir ver uma única película. Já o leitor de Edu, não tinha essa preocupação, pois ele sempre se demonstrou interessado em despertar o leitor para uma produção deixada de lado pelos grandes meios, falando diretamente com o espectador.

Seus textos confirmam seu imenso talento de criar acontecimentos sobre filmes em que praticamente não acontecia nada além de sexo explícito. Seu talento está marcado nas páginas da revisa Internacional de uma forma inovadora e inédita, falando de um cinema completamente esquecido até hoje.

Leitor voraz de Biáfora e Motta, ele tentou falar de cinema sério em publicações como a interessantíssima Cinevídeo, também feita pela Ondas. Contando com colaboradores de peso como Euclydes Mello e mesmo Alfredo Sternheim, essa publicação meio parecida com a Set e a Paisá, teve dois anos de duração. Sobrou a Janks os filmes explícitos da Big Man. Mas isso não é motivo para achá-lo menor que seus mestres.

As parcas informações dos filmes da época deram ao crítico o ingrediente para a sua criatividade. Dezenas de vezes, apressado para fechar a “Nosso Cinema” do mês seguinte, EJ tinha que inventar o conteúdo fílmico da fita, por ter somente o título. Mas isso não era motivo de desespero. Ele provava seu inegável talento e faziam críticas, que sinceramente muitas vezes são melhores que os próprios filmes.

Eu penso que alguma editora, deveria se interessar em reunir todas (ou pelo menos as mais significativas) críticas de Janks e publicá-las em forma de livro. Além de divertidas, bem humoradas e extremamente bem escritas, os textos são um documento histórico de um momento em que o cinema popular brasileiro estava em alta. Como sempre foi um libertário, ele não se importava em escrever sobre filmes de sexo homossexual ou extremo, como hoje é comum mesmo a grandes comentaristas cinematográficos.

Infelizmente jogado no limbo da história bem como as fitas que criticou e as pessoas que conheceu, José Edward Janczukowick é um dos mais interessantes e talentosos críticos brasileiros que já existiram. Criava textos muitas vezes do nada e falava de um cinema diretamente para seu público consumidor, sem nenhuma espécie de rodeios. Sua paixão por esta arte, o cinema permanece como o grande responsável por sua coragem de hoje, mesmo mais de vinte anos após o fim de suas colunas de filmes da Boca, abrir o armário para a Zingu!, da mesma forma corajosa e criativa que fazia seus históricos textos.



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