Dossiê José Mojica Marins
Demônios e Maravilhas
Direção: José Mojica Marins
Brasil, 1976-94.
Por Sergio Andrade
Demônios e Maravilhas é o único documentário realizado por Mojica. Na verdade, trata-se de um documentário ficcionalizado, já que na maior parte do tempo o que vemos são encenações de fatos acontecidos na vida dele. Mojica, sua mãe Carmen, a então esposa Nilcemar Leyart, o amigo Satã e seus alunos interpretam seus próprios papéis.
Desde os letreiros iniciais, ao som de Carmina Burana de Carl Orff, parece que a pretensão é dar à vida de Mojica um caráter épico, no qual ele é o criador que luta para manter sua criação.
Assim acompanhamos, sempre na narração de Mojica e, às vezes, de Nilcemar, a visita ao pai bastante enfermo, a prisão por um motivo injusto - a empresa que o contratou, vendeu ações de um filme que nunca realizou -, a morte do pai, que o deixou tão deprimido que ele se entregou à bebida. Com o apoio da esposa, conseguiu dar a volta por cima. Mas quando estava animado para montar uma peça teatral de terror, caiu da escada fraturando uma costela.
E assim vai. A cada dificuldade enfrentada, segue-se o momento de superação.
As músicas foram selecionadas a dedo. Quando ele recebe um convite para participar de um festival de cinema na França, ouve-se o tema dos filmes de James Bond; na seqüência em que seus alunos têm aulas de montagem, dublagem, sonorização, a música é a do seriado Missão Impossível; e quando, depois de ter sofrido um enfarte que quase o matou, seus alunos e amigos se mobilizam para ajudá-lo, entram os acordes de Vangelis para Carruagens de Fogo. Tudo entremeado com manchetes de jornais da época, como que para provar que aquelas coisas aconteceram mesmo.
Uma das seqüências mais divertidas é a festa de aniversário de 15 anos do caixão do Zé, na qual compareceram, entre outras figuras de destaque, Almeida Salles, Mario Schenberg, Jayme Cortez, Augusto Cervantes, Elza Leoneti do Amaral, Jairo Ferreira, Rubens Luchetti, etc.
No final, uma procissão de mortos-vivos, demônios, vampiras e monstros os mais variados. São os alunos que seguem o carro funerário do Mestre para a Noite do Terror na discoteca Aquarius, uma das mais badaladas da época. Foi assim que Zé do Caixão começou a se tornar uma figura cult, ídolo trash, motivo de piada ou sei-lá-o-quê. O fato é que Mojica continuava sonhando em completar sua trilogia com Encarnação do Demônio, e ele acreditava que num futuro próximo isso seria possível. Demorou, mas aconteceu!
O que fica claro assistindo Demônios e Maravilhas é que vida e cinema, para Mojica, é a mesma coisa.
Direção: José Mojica Marins
Brasil, 1976-94.
Por Sergio Andrade
Demônios e Maravilhas é o único documentário realizado por Mojica. Na verdade, trata-se de um documentário ficcionalizado, já que na maior parte do tempo o que vemos são encenações de fatos acontecidos na vida dele. Mojica, sua mãe Carmen, a então esposa Nilcemar Leyart, o amigo Satã e seus alunos interpretam seus próprios papéis.
Desde os letreiros iniciais, ao som de Carmina Burana de Carl Orff, parece que a pretensão é dar à vida de Mojica um caráter épico, no qual ele é o criador que luta para manter sua criação.
Assim acompanhamos, sempre na narração de Mojica e, às vezes, de Nilcemar, a visita ao pai bastante enfermo, a prisão por um motivo injusto - a empresa que o contratou, vendeu ações de um filme que nunca realizou -, a morte do pai, que o deixou tão deprimido que ele se entregou à bebida. Com o apoio da esposa, conseguiu dar a volta por cima. Mas quando estava animado para montar uma peça teatral de terror, caiu da escada fraturando uma costela.
E assim vai. A cada dificuldade enfrentada, segue-se o momento de superação.
As músicas foram selecionadas a dedo. Quando ele recebe um convite para participar de um festival de cinema na França, ouve-se o tema dos filmes de James Bond; na seqüência em que seus alunos têm aulas de montagem, dublagem, sonorização, a música é a do seriado Missão Impossível; e quando, depois de ter sofrido um enfarte que quase o matou, seus alunos e amigos se mobilizam para ajudá-lo, entram os acordes de Vangelis para Carruagens de Fogo. Tudo entremeado com manchetes de jornais da época, como que para provar que aquelas coisas aconteceram mesmo.
Uma das seqüências mais divertidas é a festa de aniversário de 15 anos do caixão do Zé, na qual compareceram, entre outras figuras de destaque, Almeida Salles, Mario Schenberg, Jayme Cortez, Augusto Cervantes, Elza Leoneti do Amaral, Jairo Ferreira, Rubens Luchetti, etc.
No final, uma procissão de mortos-vivos, demônios, vampiras e monstros os mais variados. São os alunos que seguem o carro funerário do Mestre para a Noite do Terror na discoteca Aquarius, uma das mais badaladas da época. Foi assim que Zé do Caixão começou a se tornar uma figura cult, ídolo trash, motivo de piada ou sei-lá-o-quê. O fato é que Mojica continuava sonhando em completar sua trilogia com Encarnação do Demônio, e ele acreditava que num futuro próximo isso seria possível. Demorou, mas aconteceu!
O que fica claro assistindo Demônios e Maravilhas é que vida e cinema, para Mojica, é a mesma coisa.