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Coluna CINEMA Extremo
ONDE O CINEMA PODE SER VIOLENTO...

Por Marcelo Carrard

Baise Moi
Direção: Virginie Despentes e Coralie Irinh Ihi
França, 2000.

O moderno cinema francês dentro do panorama europeu atual, é o mais diverso e com o maior número de filmes produzidos. Muitos jovens cineastas se destacam como Bruno Dumont, François Ozon, Cristophe Gans e Alexandre Aja, só para citar quatro nomes. Recentemente os fãs de cinema extremo, tiveram boas surpresas como o eficiente Haute Tension do já citado Alexandre Aja, com participação de técnicos de efeitos especiais de maquiagem que foram colaboradores de Lúcio Fulci, liderados pelo mestre Gianetto de Rossi. Em 2006, Aja estréia em uma produção norte-americana com Viagem Maldita, sangrento e arrasador remake de The Hills Have Eyes, 1977, de Wes Craven.

Dois clássicos se superam nesse recorte de alegorias extremas da violência, os polêmicos Irreversible, de Gaspar Noé e BAISE MOI perturbador filme escrito, produzido e dirigido por duas jovens mulheres: Coralie Irinh Ihi e Virginie Despentes, autora da novela que originou o filme. O que difere Base Moi de todos os seus contemporâneos, é a coragem das duas cineastas, que já mostram pelo título que não estão brincando. A tradução literal é “Me Estupre”, e justamente o tema do estupro e da vingança que já gerou pérolas como I Slip On Your Grave, é trabalhado de maneira original e ousada. Com cenas de sexo explícito, protagonizadas pelas duas atrizes principais, naturalmente integradas na história, sem a intenção gratuita do escândalo, o filme trabalha com a questão da violência extrema. Ao contrário de outros cineastas que já trabalham a sexualidade explícita aliadas a cenas gore como Joe D´Amato, as diretoras francesas seguem um caminho próprio, com uma visão feminina dessas duas estéticas. As cenas de sexo são sempre iluminadas por tons avermelhados e a trilha sonora eclética vai da sofisticada house francese até o metal pesadíssimo. Cada canção é inserida nas cenas de maneira criativa e eficiente.

Muitas são as seqüências perturbadoras: o estupro da dupla Manu e Nadine, mostrada de forma quase documental, utiliza-se de câmera na mão, câmera essa digital que cria várias texturas de imagem durante todo o filme. A cena em que as duas mulheres matam um homem, pisoteando-o após uma sessão de sexo oral e cocaína, só não é mais chocante que a cena do massacre no bar depois de uma orgia, onde um homem é obrigado a ficar de quatro, nu, imitando um porco para ser executado em seguida numa das cenas mais grotescas da história do cinema O discurso alucinado da dupla parece selar tudo com a frase: “Homens são porcos”.

O final, porém, surpreende o espectador pela sensibilidade e pela inevitável tragédia anunciada. Subversivas em sua jornada de sexo, sangue e crimes se expõe como nenhuma mulher se expõe, num mundo masculino e hostil, elas são forças destruidoras da natureza amorais e desenfreadas. Para os espectadores não iniciados no cinema extremo, Baise Noi pode ser um grande choque. Mais perturbador que Irrevesible, o mergulho anárquico de Coralie e Virginie, não deixa nem os mais frios dos fãs de cinema extremo indiferente. Você não será o mesmo depois desse filme, com certeza. Um excelente exemplo de jovem cinema europeu, que só perde ainda em quantidade e qualidade para o jovem cinema asiático.



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