Dossiê John Huston
O Diabo Riu Por Último
Direção: John Huston
Beat the Devil, EUA, 1953.
Por Sérgio Andrade
“O Diabo Riu Por Último” (Beat the Devil) é a adaptação de um romance de Claude Cockburn, escrito sob o pseudônimo de James Helvick.
Na trama 4 vigaristas e um casal de golpistas aguardam, num porto italiano, os reparos no navio que os levará até a África. O objetivo da viagem é adquirir, através de um esquema fraudulento, terras no Quênia que seriam ricas em urânio. A eles junta-se um casal de ingleses que acabará tendo papel decisivo na tramóia.
Seguindo uma sugestão de John Huston, Humphrey Bogart, que na época possuía uma produtora cinematográfica, a Santana, comprou os direitos do livro por 10 mil dólares, e o sócio dele convenceu o cineasta a dirigir o filme, em co-produção com a Romulus.
A princípio o roteiro seria de Peter Viertel e Tony Veiller, mas o resultado acabou não agradando a ninguém, fazendo com que o próprio Huston e Truman Capote, que se encontrava na Itália, assumissem a tarefa que foi das mais complicadas.
Com os atores contratados e escolhida a cidade de Ravello, no sul de Nápoles, como cenário das locações, Huston e Capote foram obrigados a inventar uma série de desculpas para atrasar o início das filmagens, até que tivessem resolvido os problemas da adaptação.
Em sua autobiografia, Um Livro Aberto, John Huston conta sobre um acidente que aconteceu com o carro que transportava ele e Bogart, no qual o ator acabou perdendo os dentes dianteiros (na verdade, uma ponte completa). Isso fez com que eles ganhassem alguns dias, até que fosse providenciada uma ponte nova.
Em outra ocasião o diretor escreveu uma cena bastante complicada, fazendo com que os carpinteiros tivessem que tirar paredes do lugar e fazer modificações no cenário para permitir movimentação da câmera, tudo para ter algumas horas a mais para reescrever uma cena.
Quando de sua estréia “O Diabo Riu Por Último” foi muito pouco apreciado. Talvez os espectadores não estivessem preparados para ver na tela um grupo de pessoas das mais excêntricas, cujo único objetivo na vida era se dar bem. Claro que sendo um filme do Huston todos sabemos como essa história irá terminar.
O filme tem como tema também o fator tempo, já que os personagens dependem totalmente dele para poderem executar seus planos. Mas parece que o tempo conspira contra eles. Numa das melhores frases do filme, Peter Lorre diz: “Tempo, o que é? A Suíça o fez, a França o estoca, a Itália o desperdiça, os EUA dizem que é dinheiro e na Índia ele não existe!”.
Os 4 larápios (Robert Morley, Peter Lorre, Ivor Barnard e Marco Tulli) são figuras patéticas, sendo que um deles é admirador de Hitler e Mussolini.
Os casais Humphrey Bogart e Gina Lollobrigida e Edward Underdown e Jennifer Jones, de cabelo loiro, irão trocar de parceiros.
Tudo mostrado de forma cínica e irônica, como na revelação final. São situações que devem ter assustado ou confundido o público na época. Mas, com o tempo, acabou tornando-se objeto de culto, rendendo muito dinheiro.
Os atores estão todos excelentes. A fotografia é do genial Oswald Morris e o gerente de produção Jack Clayton depois tornou-se um grande cineasta (Os Inocentes, Crescei e Multiplicai-vos, Todas as Noites às Nove, etc.).
Enfim, trata-se de mais um grande filme desse Mestre, e merece ser visto e revisto.