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Dossiê Ivan Cardoso

Curtas

Por Sérgio Andrade e Matheus Trunk

Moreira da Silva, 1973, 10 min.

Uma das primeiras experiências de Ivan dirigindo. Uma espécie de colagem situado entre o documentário e antecipando, o videoclip. Moreira passa por diversos lugares do Rio: o Morro de São Carlos, Hipódromo da Gávea, o Cinema Íris, entre outros. Logo depois, aparece o único ator do curta, o genial recordista Wilson Grey. A cena em que os dois estão no Jockey Clube e mesmo em outra jogando sinuca, são geniais. Os momentos finais são cenas de shows de Moreira na gafieira Elite. Totalmente mudo, sonoramente se resumindo a sucessos de Moreira. Um diálogo entre figuras como Grey e Morengueira seria essencial, ainda mais lembrarmos que são dois gigantes da cultura nacional. (MT)

O Universo de Mojica Marins”, 1978, 26 min.

Hoje em dia José Mojica Marins, o Zé do Caixão, é admirado, reverenciado, idolatrado, considerado um gênio, quase uma unanimidade nacional. A maioria de seus filmes está disponível em DVD para quem quiser conferir.

Mas quem era Mojica em 1978? Um ser exótico, com certeza, uma aberração, um objeto não identificado dentro do cinema brasileiro ou uma simples atração de um teatro de horrores. Uma coisa é certa: ele não era levado muito a sério.

E seus principais filmes estavam fora de circulação há muito tempo.
Coube então a Ivan Cardoso, sempre visionário, revelar quem de fato era essa figura estranha, com imensas unhas e que se dedicava a um gênero totalmente desprezado entre nós, o terror.

Ivan foi então à gênese do ator e do personagem. O primeiro depoimento é justamente da mãe de Mojica, que lembra que ele sempre foi um menino obediente, e que desde os 3 anos dizia ao pai que seria artista.

Mojica cresceu cabulando aulas para ver os filmes proibidos exibidos no cinema onde trabalhavam seus pais.

Ela arremata dizendo que o filho é bom, o personagem é que é mau.
Apresentado o homem, Ivan parte para o personagem, e para isso escolheu o discurso de abertura de “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”: “Quem sou eu? Não interessa! Como também não interessa quem é você. Ou melhor, não interessa quem somos. Na realidade o que interessa é saber o que somos!”

Outras cenas do filme, de tortura e canibalismo, são exibidas e pela magia da montagem de repente estamos no meio do delírio coletivo dos alunos do curso de interpretação ministrado por Mojica.

E quem é Mojica? O Antônio Conselheiro do subúrbio? O pregador antropofágico de Deus?

Despido do personagem, José Mojica Marins se revela.

Ele conta como nasceu Zé do Caixão, a partir de um pesadelo que teve com um homem de preto que lhe mostrava a lápide com a data de sua morte, um fato hoje em dia já bastante divulgado.

Porque o nome Zé? Porque Zé é brasileiro, é nosso, é caboclo!

E o que o espectador procura nos seus filmes? A catarse, que o libertará de suas pulsões negativas.

A trilha sonora vai de “Aleluia” de Haendel até a hoje banida “Quero que vá tudo pro inferno” do Rei Roberto!

Perguntado sobre sua fé, Mojica diz não ser ateu porque acredita em alguma coisa. Sua religião é o cinema!

Amém, Mojica! Aleluia, Ivan! (SA)

Dr. Dyonélio, 1978, 13 minutos.

Mistura de documentário e ficção, o curta fala do escritor gaúcho Dyonélio Machado. Ivan me disse que era fascinado pelas descrições de Dyonélio da Idade Média. Se o cineasta carioca curtia os épicos de Steve Reeves e tudo mais, delirou mais ainda quando leu o romance “Os Ratos” de Dyonélio. O filme serve mais como um documento sobre o cineasta, filmando ele em sua casa e pelas ruas de sua cidade natal, Porto Alegre. Há trechos em que o genial Wilson Grey e outros atores interpretam partes das narrativas do escritor gaúcho. A importância na documentação sobre um esquecido e quase marginal escritor brasileiro, que estava com mais de 70 anos na época do filme, é o que marca o curta. (MT)

Heliorama, 2005, 14 min.

Assisti “Heliorama” na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo de 2005. Na ocasião Ivan Cardoso estava presente para apresentar o filme.

O cineasta comentou que seu amigo Hélio Oiticica disse-lhe uma vez: "Tudo o que disserem que não pode ser feito, pode!". E é o que ele prova, fazendo uma colagem de cinejornais, trailers, cenas que sobraram de outros curtas, etc., mostrando o artista em atividade, criando suas obras, fazendo piadas, se exibindo em seus parangolés. Entremeando tudo isso, trechos da última entrevista de Haroldo de Campos falando sobre o artista carioca. O filme é o resgate de uma época mais libertária, mais criativa, mais revolucionária em termos de idéias e atitudes. Em 14 minutos Ivan Cardoso realizou uma celebração da Vida, da Arte, da Liberdade, do Cinema, de Hélio Oiticica e claro, em se tratando de Ivan, dele mesmo (vide a cena final). Obra-prima absoluta!!! (SA)



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