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Dossiê Ivan Cardoso

O SEGREDO DA MÚMIA
Direção: Ivan Cardoso
Brasil, 1981.

Por Matheus Trunk

“Uma múmia no Brasil...Isso sim é cinema” Samuel Fuller

O terrir, gênero inventado por Ivan Cardoso com toda sua criatividade tem como primeiro manifesto cinematográfico este “O Segredo da Múmia”. Resultado de anos e anos de experiências em super-8, Ivan juntou toda uma gama de influências pessoais para compor seu primeiro longa.

Sendo assim, a história é o resultado da obsessão e da influência que sofreu o diretor carioca por filmes B americanos. Isso fica claro na opção pelos personagens principais da trama: um cientista maluco e uma múmia.

O professor Expeditu Vitus (Wilson Grey, pela primeira vez em um papel principal) é um grande e bem-sucedido cientista. Mas, ao enunciar a descoberta do Elixir da Vida fica ignorado por todos, principalmente entre os colegas cientista. Porém, ele não revela que seu fiel seguidor, Igor (Felipe Falcão, antológico) é a prova viva que o Elixir tem seu êxito.

Nesse período de reclusão, o professor Expeditu faz a maior descoberta do século: o túmulo da múmia do faraó Runamb. Runamb teve uma grande paixão na vida: Nadja, uma bailarina. A paixão se tornou tão obsessiva, que ele se torna um assassino, já que a imagem de Nadja acabou indo para todas as mulheres que conhece. Reavivada por Vitus, a múmia vê em Miriam, uma repórter de rádio, a encarnação de sua querida e amada Nadja. A confusão está armada para o terrir gerir. No cartaz original do filme, havia a pergunta que teria de ser respondida após a exibição do filme: pode o amor durar 30 séculos ?

A participação de atores das chanchadas já é algo presente no cinema ivan-cardosiano, seja pela primeira oportunidade dada ao recordista Wilson Grey de ser ator principal ou mesmo a bela presença de Colé Santana, mesmo em uma ponta. Outro ponto a se destacar no elenco, é a presença de Anselmo Vasconcellos, irreconhecível, na pele da própria múmia do faraó Runamb. As participações especiais também são ás vezes inusitadas, quando não bem humoradas. Em participações especiais ao longo do filme, vemos as seguintes personalidades: José Mojica Marins, Paulo César Pereio, Jardel Filho, Joel Barcellos, Nelson Motta e Cláudio Marzo. Até o maestro Julio Medaglia está no filme, fazendo um assistente de Vitus.

Sendo grande sucesso de público, a fita ainda teve grande retorno de crítica, ganhando diversos prêmios. Na XV edição do Festival de Brasília, a fita recebeu quatro prêmios: melhor direção, montagem, cenografia e mesmo ator, para Wilson Grey. O prêmio principal, acabou perdido para “O Homem do Pau-Brasil” de Joaquim Pedro de Andrade. Já no festival de Gramado do mesmo ano, a fita ganhou os prêmios de melhor roteiro, trilha sonora, ator coadjuvante para Felipe Falcão e prêmio especial do júri para Grey. Ainda nos prêmios nacionais, “O Segredo da Múmia” recebeu um prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte e outro da Federação de Cineclubes do Rio de Janeiro. O recordista Grey, teve a honra de receber um prêmio especial dos alunos de cinema da Universidade Federal Fluminense, a chamada “Múmia de Ouro”. Levado ao Exterior, o êxito desse primeiro trabalho de Ivan o levou a ganhar o Grande Prêmio da Crítica no Cine Imaginário e Ficção em Madri, na Espanha.

Com trilha sonora extremamente bem-cuidada feita pelo maestro Julio Medaglia e roteiro assinado pelo roteirista habitual do Zé do Caixão, R.F. Luchetti, “O Segredo da Múmia” não é um mau filme”.

Mas ainda se percebe que Ivan Cardoso era um autor a procura de um estilo próprio, ou seja, que ele não consegue em “O Segredo da Múmia”, por em prática todo talento e conhecimento de cinema/vida que ele tinha. Por isso, esse primeiro filme e debut cinematográfico de seu diretor foi extremamente importante para que Ivan pudesse continuar sua carreira. Como experiência, essa fita valeu a ele por toda uma faculdade de cinema e ainda podendo já ver os meandros que poderia explorar em seus trabalhos seguintes.



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