In memorian de Jece Valadão
(1930-2006)
(1930-2006)
Por Matheus Trunk
A idéia de “Os Cafajestes” foi feito na base de “uma idéia na cabeça e uma câmera na mão” é falsa. Na verdade, custou muito mais caro do que as produções cariocas da época, e, para concluí-lo, (Jece Valadão) o produtor, se desfez de um imóvel e brigou com a família. Manchete, 29/06/1991.
É difícil falarmos de pessoas que admiramos e gostamos bastante. O resultado é sempre algo muito emotivo, e que a maioria das pessoas não entende, pois não possui a mesma admiração.
Tem algumas pessoas especiais pra mim dentro do cinema brasileiro. Da Boca posso falar uns 50 nomes, fácil, fácil. Do Rio de Janeiro, também posso aqui citar fácil: Wilson Grey, Rodolfo Arena, Stephan Nercessian, Paulo César Pereio, Hugo Carvana, Leogivildo “Radar” Cordeiro, Colé Santana, Mozael Silveira, Roberto Mauro, Carlo Mossy, Victor di Mello, Victor Lima...
E Jece Valadão. O que falar de Jece ? Falar do grande ator que ele foi. Isso é difícil, e Inácio Araújo, contrariando muitos de seus fãs babacas fez com grande brilhantismo na “Folha de São Paulo”. O que me tomou de surpresa, pois vi que não somente eu admiro ele.
Estou chocado até agora com a morte desse mestre. Pra falar a verdade, eu mal sei quem foi Robert Altman, vi dois filmes do cara. Mas o Jece, porra eu sei tudo dele: sei de sua infância em Cachoeiro, de como tornou-se radialista e depois ator.
Como produziu grandes clássicos do Cinema Novo e depois foi renegado pelos integrantes do movimento que jogaram nele o título de “cafajeste”. E pronto, foda-se tudo que Jece produziu, quem ele deu trabalho e fez pela nossa cultura.
Por isso uma vez, ele deu uma entrevista e falou certas verdades, que incomodam muita gente, mas estão anexadas no final dessa homenagem.
Minha admiração por Jece não é somente pelo ator e produtor. Reconheço que como diretor, nunca o achei com o mesmo talento. Mas mesmo assim, sempre o admirei e gostei imensamente dele.
Lembro que em 2003, no começo da minha paixão cinéfila, teve um filme que me marcou muito: “Mineirinho, Vivo Ou Morto” do poeta/mestre/gênio Aurélio Teixeira que me foi fundamental. Quem fala e continua falando mal de Aurélio Teixeira, é porque quando se olha no espelho, espelho vai se quebrar. E toda fez quando essa pessoa for comer, ela vai ficar com uma puta duma dor de barriga. Já “Os Raptores” é outra obra-prima também com Jece dirigida por este que é o maior diretor policial do Brasil. “Paraíba- Morte e Vida de Um Bandido” é outro filme que gosto muito também, dirigido pelo grande e genial chanchadeiro Victor Lima.
Eu, Matheus Trunk, digo que minha formação cinéfila foi mesmo com Jeca Valadão, e suas pornochanchadas maravilhosas como “Memórias de Um Gigolô” com o esquecido Cláudio Cavalcanti e Rossana Ghessa. Esse foi outro filme fundamental pra mim, embora não seja uma obra-prima. Os de Cinema Novo, sinceramente, não foram tão não. Nunca fui fã de Nelson Pereira e “Os Cafajestes” não é meu Ruy Guerra preferido. Mesmo “Eu Matei Lúcio Flávio” do Calmon não gosto. O que é diferente de muitos companheiros da Zingu!.
Eu não sou criado como cinéfilo por Godard, John Ford e Fassbinder. Posso até admirar esses diretores. Mas sou um cinéfilo criado por diretores, atores e atrizes como J.B. Tanko, Hugo Carvana, Victor Lima, Aurélio Teixeira, Rossana Ghessa Carlos Kroeber, Alba Valéria, Maria Lúcia Dahl, Milton Moraes, Carlo Mossy, e Jece Valadão. Isso não me faz melhor, nem pior que ninguém. Me faz diferente, somente.
Jece é uma das pessoas que mais merecem ter sua obra resgatada e redescutida. Que porra de ator hoje consegue a chegar a 100 filmes ??? Que produtor se dedica ao cinema brasileiro, a nossa cultura ???. Jece Valadão, Carlo Mossy, David Cardoso, Cláudio Cunha são modelo de atores-produtores impossíveis de serem reproduzidos hoje. Parece que muita gente está feliz com isso. Eu não. Espero que o senhor Leon Cakoff por exemplo faça ano que vem uma grande retrospectiva do Jece. Eu acho que ele merece. E os intelectuais que fiquem babando...
Eu sou defensor do produtor-popular. Eu defendo Jece Valadão. A paixão pelo cinema não se faz de intelectuais e de estatais. Se faz de pessoas simples, formadas pela universidade da vida que amam o cinema de forma verdadeira.
Pra que eu vou virar cineasta ? Pra que ? As pessoas que amo/admiro e são tudo pra mim estão todas mortas. Digo fácil pra você: Frengolente, Wilson Grey, Jece Valadão, Zezé Macedo, Ronaldo Lupo, Colé Santana, Carlos Imperial, Aurélio Teixeira....Existe dinheiro que pague tudo que esses homens e mulheres fizeram a nossa cultura ? Penso que não.
O texto é errado e escrito de forma não-intelectual. Porque eu, seja por bem ou por mal nunca li Dostoieviesky. Não tenho nada contra. Eu graças a Deus nunca entrei em universidade pública como alguns pra me achar. Eu sou cria do cinema popular, cria de Wilson Grey, cria de Jece Valadão. E tenho enorme orgulho disso.
Quando li “As Memórias de Um Cafajeste” em um final de semana, lembro que tive muita vontade de falar com o mestre. Como meu pai conhecia algumas pessoas no meio evangélico, por ter essa mesma religião, eu consegui o número dele. Liguei. Um senhor me atendeu e perguntou com quem eu queria falar: “Com Jece Valadão”.
Falei rapidamente com ele. Eu planejava fazer algo sobre o Grey na época. Ele me disse que gostava muito dele. Falei também de Aurélio Teixeira, do Radar e do Carlos Duval, se não me engano. Ele foi muito receptivo e me disse: “Nossa, que legal irmão. Eu vivi com todas essas pessoas mesmo”. Ele me chamou de irmão, por ele ter se tornado evangélico. Mas de uma forma extremamente carinhosa e receptiva.
Que Deus guarde Jece ao lado dos verdadeiros gigantes. Que ele agora esteja fazendo mais filmes, ao lado de pessoas da sua grandeza e do mesmo amor pelo cinema e pela nossa cultura. Nós ficamos aqui, esperando que os babacas de sempre pelo menos agora, saem dos buracos e declarem algo. Eu declaro minha enorme admiração pessoal a esse homem, diretor, produtor e ator. Que Deus o guarde ao lado de Colé, Wilson Grey, Sérgio Hingst, Edward Freund, Tony Vieira, Cláudio Portioli e tantos outros gigantes. É só isso. Espero sinceramente, que tenham gostado.
“(...) Dizem que o Cinema Novo nasceu com Nelson Pereira do Santos. Pois bem. Eu estava ao lado de Nelson quando ele filmou “Rio 40 Graus” E “Rio Zona Norte”. Como produtor, deu a Ruy Guerra a chance de fazer “Os Cafajestes”. Lancei Nelson Rodrigues no cinema com “Boca de Ouro”. Sou um ator popular, criei um tipo carismático, mas apesar disso fui esnobado, Será que foi por que não sou comunista ? Não entendo e não aceito essa discriminação. (JECE VALADÃO)” em entrevista a “Manchete” em 29 de junho de 1991 feita pelo jornalista Valério Andrade.
A idéia de “Os Cafajestes” foi feito na base de “uma idéia na cabeça e uma câmera na mão” é falsa. Na verdade, custou muito mais caro do que as produções cariocas da época, e, para concluí-lo, (Jece Valadão) o produtor, se desfez de um imóvel e brigou com a família. Manchete, 29/06/1991.
É difícil falarmos de pessoas que admiramos e gostamos bastante. O resultado é sempre algo muito emotivo, e que a maioria das pessoas não entende, pois não possui a mesma admiração.
Tem algumas pessoas especiais pra mim dentro do cinema brasileiro. Da Boca posso falar uns 50 nomes, fácil, fácil. Do Rio de Janeiro, também posso aqui citar fácil: Wilson Grey, Rodolfo Arena, Stephan Nercessian, Paulo César Pereio, Hugo Carvana, Leogivildo “Radar” Cordeiro, Colé Santana, Mozael Silveira, Roberto Mauro, Carlo Mossy, Victor di Mello, Victor Lima...
E Jece Valadão. O que falar de Jece ? Falar do grande ator que ele foi. Isso é difícil, e Inácio Araújo, contrariando muitos de seus fãs babacas fez com grande brilhantismo na “Folha de São Paulo”. O que me tomou de surpresa, pois vi que não somente eu admiro ele.
Estou chocado até agora com a morte desse mestre. Pra falar a verdade, eu mal sei quem foi Robert Altman, vi dois filmes do cara. Mas o Jece, porra eu sei tudo dele: sei de sua infância em Cachoeiro, de como tornou-se radialista e depois ator.
Como produziu grandes clássicos do Cinema Novo e depois foi renegado pelos integrantes do movimento que jogaram nele o título de “cafajeste”. E pronto, foda-se tudo que Jece produziu, quem ele deu trabalho e fez pela nossa cultura.
Por isso uma vez, ele deu uma entrevista e falou certas verdades, que incomodam muita gente, mas estão anexadas no final dessa homenagem.
Minha admiração por Jece não é somente pelo ator e produtor. Reconheço que como diretor, nunca o achei com o mesmo talento. Mas mesmo assim, sempre o admirei e gostei imensamente dele.
Lembro que em 2003, no começo da minha paixão cinéfila, teve um filme que me marcou muito: “Mineirinho, Vivo Ou Morto” do poeta/mestre/gênio Aurélio Teixeira que me foi fundamental. Quem fala e continua falando mal de Aurélio Teixeira, é porque quando se olha no espelho, espelho vai se quebrar. E toda fez quando essa pessoa for comer, ela vai ficar com uma puta duma dor de barriga. Já “Os Raptores” é outra obra-prima também com Jece dirigida por este que é o maior diretor policial do Brasil. “Paraíba- Morte e Vida de Um Bandido” é outro filme que gosto muito também, dirigido pelo grande e genial chanchadeiro Victor Lima.
Eu, Matheus Trunk, digo que minha formação cinéfila foi mesmo com Jeca Valadão, e suas pornochanchadas maravilhosas como “Memórias de Um Gigolô” com o esquecido Cláudio Cavalcanti e Rossana Ghessa. Esse foi outro filme fundamental pra mim, embora não seja uma obra-prima. Os de Cinema Novo, sinceramente, não foram tão não. Nunca fui fã de Nelson Pereira e “Os Cafajestes” não é meu Ruy Guerra preferido. Mesmo “Eu Matei Lúcio Flávio” do Calmon não gosto. O que é diferente de muitos companheiros da Zingu!.
Eu não sou criado como cinéfilo por Godard, John Ford e Fassbinder. Posso até admirar esses diretores. Mas sou um cinéfilo criado por diretores, atores e atrizes como J.B. Tanko, Hugo Carvana, Victor Lima, Aurélio Teixeira, Rossana Ghessa Carlos Kroeber, Alba Valéria, Maria Lúcia Dahl, Milton Moraes, Carlo Mossy, e Jece Valadão. Isso não me faz melhor, nem pior que ninguém. Me faz diferente, somente.
Jece é uma das pessoas que mais merecem ter sua obra resgatada e redescutida. Que porra de ator hoje consegue a chegar a 100 filmes ??? Que produtor se dedica ao cinema brasileiro, a nossa cultura ???. Jece Valadão, Carlo Mossy, David Cardoso, Cláudio Cunha são modelo de atores-produtores impossíveis de serem reproduzidos hoje. Parece que muita gente está feliz com isso. Eu não. Espero que o senhor Leon Cakoff por exemplo faça ano que vem uma grande retrospectiva do Jece. Eu acho que ele merece. E os intelectuais que fiquem babando...
Eu sou defensor do produtor-popular. Eu defendo Jece Valadão. A paixão pelo cinema não se faz de intelectuais e de estatais. Se faz de pessoas simples, formadas pela universidade da vida que amam o cinema de forma verdadeira.
Pra que eu vou virar cineasta ? Pra que ? As pessoas que amo/admiro e são tudo pra mim estão todas mortas. Digo fácil pra você: Frengolente, Wilson Grey, Jece Valadão, Zezé Macedo, Ronaldo Lupo, Colé Santana, Carlos Imperial, Aurélio Teixeira....Existe dinheiro que pague tudo que esses homens e mulheres fizeram a nossa cultura ? Penso que não.
O texto é errado e escrito de forma não-intelectual. Porque eu, seja por bem ou por mal nunca li Dostoieviesky. Não tenho nada contra. Eu graças a Deus nunca entrei em universidade pública como alguns pra me achar. Eu sou cria do cinema popular, cria de Wilson Grey, cria de Jece Valadão. E tenho enorme orgulho disso.
Quando li “As Memórias de Um Cafajeste” em um final de semana, lembro que tive muita vontade de falar com o mestre. Como meu pai conhecia algumas pessoas no meio evangélico, por ter essa mesma religião, eu consegui o número dele. Liguei. Um senhor me atendeu e perguntou com quem eu queria falar: “Com Jece Valadão”.
Falei rapidamente com ele. Eu planejava fazer algo sobre o Grey na época. Ele me disse que gostava muito dele. Falei também de Aurélio Teixeira, do Radar e do Carlos Duval, se não me engano. Ele foi muito receptivo e me disse: “Nossa, que legal irmão. Eu vivi com todas essas pessoas mesmo”. Ele me chamou de irmão, por ele ter se tornado evangélico. Mas de uma forma extremamente carinhosa e receptiva.
Que Deus guarde Jece ao lado dos verdadeiros gigantes. Que ele agora esteja fazendo mais filmes, ao lado de pessoas da sua grandeza e do mesmo amor pelo cinema e pela nossa cultura. Nós ficamos aqui, esperando que os babacas de sempre pelo menos agora, saem dos buracos e declarem algo. Eu declaro minha enorme admiração pessoal a esse homem, diretor, produtor e ator. Que Deus o guarde ao lado de Colé, Wilson Grey, Sérgio Hingst, Edward Freund, Tony Vieira, Cláudio Portioli e tantos outros gigantes. É só isso. Espero sinceramente, que tenham gostado.
“(...) Dizem que o Cinema Novo nasceu com Nelson Pereira do Santos. Pois bem. Eu estava ao lado de Nelson quando ele filmou “Rio 40 Graus” E “Rio Zona Norte”. Como produtor, deu a Ruy Guerra a chance de fazer “Os Cafajestes”. Lancei Nelson Rodrigues no cinema com “Boca de Ouro”. Sou um ator popular, criei um tipo carismático, mas apesar disso fui esnobado, Será que foi por que não sou comunista ? Não entendo e não aceito essa discriminação. (JECE VALADÃO)” em entrevista a “Manchete” em 29 de junho de 1991 feita pelo jornalista Valério Andrade.
*** In memorian de Jece Valadão (1930-2006)