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Musas Eternas...
PORQUE O QUE É BOM, É ETERNO...

Simone Carvalho

Por Matheus Trunk

Nos período de ouro da famigerada Boca do Lixo (1976-1982), Matilde Mastrangi, Helena Ramos e Aldine Muller formavam o “trio de ferro” das atrizes/musas do lugar. Qualquer produção que contasse com uma das três não iria mal na bilheteria.

Mas e quando as três estavam ocupadas ? O que os produtores e diretores faziam ? Eles recorriam a outras atrizes tão bonitas como elas e ás vezes até mais talentosas. Uma dessas foi Simone Carvalho.

Musa fetiche do mestre Cláudio Cunha, com quem foi casada, Simone teve uma rápida e fulminante carreira no cinema e na TV brasileira.

Nascida em 1960, veio de uma família artística. Sua mãe Lia Farrel também era atriz, tendo participado de diversas pornochanchadas. Sua irmã Suzane de Carvalho, que também participou de alguns filmes, porém, se destacou mais ao automobilismo, onde deixou marcas.

De beleza fora do comum, iniciou-se como atriz infantil, sendo depois modelo e manequim. Se casou com o mestre e poeta Cláudio Cunha em 1978, mesmo ano em que estreou nas telas brasileiras em “Amada Amante”.

Esse filme foi todo rodado no Rio de Janeiro. Parecendo um livro ou uma peça de Nelson Rodrigues, o filme narra a decadência sexual de uma família burguesa que vem do interior para o Rio. Com roteiro do craque Benedito Ruy Barbosa, o resultado do filme não podia ser diferente: uma obra-prima de rara beleza.

O elenco é extraordinário: Rogério Fróes como o pai burguês, Neuza Amaral como a mãe reprimida sexualmente; a bela Ana Maria Kreisler como a secretária fogosa; a mulher mais desejada do Brasil na época, Sandra Bréa (no auge) como a irmã certinha e até o figura Luiz Gustavo dublado como o namorado dela. Mesmo o homem multimídia Carlos Imperial faz uma participação mais que especial. Simone faz um papel da namoradinha do filho do casal, que acaba o levando a “maus caminhos”. Aqui já da para notar toda a explosiva sensualidade da moça, que desvia um “inocente”. Um papel inicialmente pequeno, mas que acaba, de certa forma, chamando a atenção no filme seja pelo talento já demonstrado pela musa.

Simone torna-se peça importante para Cunha em seu próximo projeto. Em “Sábado Alucinante” uma espécie de resposta da Boca a discotecas, John Travolta e “Nos Embalos de Sábado A Noite”, ela ganha um papel de maior. Com a personagem Gina, uma grande dançarina da boate em que se passa o filme. Mesmo sua mãe, Lia Farrel também participa do filme fazendo Lenita, uma mulher que trai o marido com garotos mais novos. Mas a grande estrela de Cunha para a película é ainda Sandra Bréa (que tinha mais fama e chamava mais bilheteria) que interpreta a mulher de um homem que participa de uma espécie de Guerrilha. Distante do estilo de Cunha, acaba sendo um filme menor, tendo ainda grandes momentos, mas nem sombra do que viria depois.

Uma pausa entre os trabalhos do marido, a musa participa do estranho “A Mulher Que Inventou O Amor” de Jean Garret, que teve o roteiro do importante escritor José Silvério Trevisan. Filme deferenciado dos demais da Boca, é um grande veículo para Aldine Muller (na época namorada de Jean) que faz o papel principal de uma moça simples e ingênua se vê obrigada a se tornar uma garota de programa. Com o passar do tempo, e tendo se envolvido com um homem mais velho (o genial Rodolfo Arena) ela acaba pagando para sair com diversos homens. Simone faz um papel discreto, quase uma ponta que aparece principalmente no início do filme convencendo a amiga Aldine a tornar-se prostituta.

Até aí sem grandes possibilidades no cinema, a musa tem sua grande chance com a televisão, participando da segunda versão da novela “Cabocla” (a primeira é de 1959 e a última de 2004) exibida em 1979 no horário das seis pela Rede Globo. Veículo para o casal Glória Pires e Fábio Júnior, grande par romântico da época. Simone faz a personagem secundária Belinha. Formando par romântico com Kadu Moliterno, os dois acabaram tomando mais atenção dos telespectadores que o casal principal. A partir daí, a atriz se tornou pelo menos do grande público, aparentemente bem conhecida. Ela participa logo depois de outra novela de época na hora das seis: “Olhai Os Lírios dos Campos”.

Seu trabalho seguinte no cinema foi mais uma vez com o maridão Cunha. Ele acaba dando a Simone sua grande chance de ser atriz principal de um filme pela primeira vez.

Esse projeto talvez o mais ambicioso da carreira do diretor/produtor/ator. Para o roteiro, ele chamou o crítico cult Inácio Araújo para colaborar com ele. Na fotografia, deixou Carlos Reichenbach e na assistência de câmera a lenda viva Luizinho Oliveira. O filme recebeu o nome de “O Gosto do Pecado”, sendo a obra-prima máxima do cinema de Cunha e que documenta e guarda a grande musa/atriz que é Simone.

A história era totalmente khouriana: um homem de meia-idade após se separar da esposa (Maria Lúcia Dahl) entra em depressão e se envolve com várias mulheres. Ele mantém relacionamento com uma amante (a musa das musas Alba Valéria), mas muda depois para a secretária, a personagem de Simone. O tom masculino do filme é altíssimo, mas mesmo assim Cunha com um misto de gênio e poeta, consegue também fazer seu filme mais feminino deixando Simone brilhar. É o maior trabalho da história da atriz, que aqui consegue deixar seu grande talento como moça aparentemente ingênua e irresistível com claras segundas intenções.

Em 1980, talvez o melhor de toda sua carreira, Simone participa da novela “Coração Alado”, sua estréia no horário nobre das oito horas. É também o ano em que faz a capa da revista masculina “Playboy” pela primeira vez, no mês de novembro que a torna ainda mais musa. Ganha também grande participação na novela das sete da Globo “O Amor É Nosso”, exibida entre abril e outubro de 1981.

Volta as lentes de Cunha em “Profissão Mulher” de 1982, outro grande sucesso de público. A história deste quarto filme que o casal fez junto trata das relações de modelos e do mundo da moda. Simone faz uma modelo, sendo a atriz principal do filme. Participa também de mais uma novela da Globo “Paraíso” realizada no mesmo ano de “Profissão Mulher”. Foi um dos grandes destaques da novela de clima rural, em que interpretando uma mocinha de interior que fica deslumbrada com tudo que vem da cidade grande por seus dois pretendentes (Mário Cardoso e Caíque Ferreira).

Porém, infelizmente, no campo do cinema sua carreira ia chegando ao fim. Nesse momento, o cinema de pornochanchada do qual musas como ela e muitas outras faziam parte, ia se acabando. Muitas atrizes não voltariam as telas, virando dubladoras ou seguindo outras áreas. Poucas foram as que adentraram o explícito, que agora tomava conta dos cinemas do Brasil a partir daquele momento.

Cunha após rápida experiência no novo filão, dedicou-se ao teatro montando a peça “O Analista de Bagé”, do qual Simone chegou a participar. Sem maiores opções de emprego, Simone pousaria novamente para a revista masculina “Playboy” em abril de 1984. Depois de ter dois filhos com o ator/diretor/produtor Cláudio Cunha ela se divorciou, tentando continuar a sendo atriz, mas perdendo seu grande patrocinador. Ficou por algum tempo afastada dos grandes veículos, embora ainda estivesse no auge da beleza e com seu inegável talento.

Redescoberta por Ivan Cardoso, aparece novamente com sua beleza e graça na obra-prima “As Sete Vampiras” (1986), sendo uma das vestais vampirinhas da trama. Embora o Nicole Puzzi e Andréa Beltrão tenham participação maior na fita, Simone não é uma mera coadjuvante. Sua cena marcante no filme é quando ela vai tomar banho nua é brutalmente assassinada. Voltaria para o cinema logo depois em “Solidão, Uma Linda História de Amor” último filme do diretor carioca de Victor di Mello, fazendo um pequeno papel.

Ficando desempregada de 84 a 90, a musa se vê obrigada a se desfazer de utensílios pessoais como jóias para continuar vivendo razoavelmente bem.Tendo enormes dificuldades pessoais, o que a levaria a procurar outro tipo de visão de mundo que só conseguiria pouco tempo depois, ao se converter a uma outra religião.

Na TV, retorna somente em 1989, fazendo parte da versão de Jorge Amado “Tieta”, fazendo a personagem Bebê na segunda fase da novela. Essa seria sua última novela na Rede Globo. Participa em seguida do filme: “O Escorpião Escarlate” de Ivan Cardoso em um pequeno papel. O filme foi um grande fracasso, se arrastando durante anos para ser produzido. Sendo até hoje, o último filme que conta com participação da musa.

Simone teve rápida passagem pela Rede Manchete, participando da novela “Tocaia Grande” (1995) e depois indo para a Rede Record. Lá, participou da telenovela “Canoa de Bagre” (1997) e da minissérie “Do Fundo do Coração” (1998).

Convertida ao protestantismo, a musa hoje participa de eventos evangélicos enfocando que só aceita participar como atriz de novelas, filmes ou peças de cunho religioso.

Simone Carvalho foi na primeira metade dos anos 80, juntamente com Alba Valéria a mais genial atriz/musa do período. Seu jeito de moça irresistível foi seu grande apelo, mas tirando sua inegável beleza, foi uma grande atriz. Comparada a suas contemporâneas da Boca, com certeza está entre uma das mais talentosas. Pena que como ela muitas acabaram pagando o preço por terem participado desse período encarado até hoje de forma preconceituosa pela mídia e demais pessoas. O grande atestado de seu talento, continua sendo seus filmes, e principalmente a obra-prima “O Gosto do Pecado” onde dá um show de interpretação. Sendo sempre a moça irresistível e acanhada, se tornou uma das maiores atrizes que o nosso cinema já conheceu.

Filmografia:

1978- Amada Amante de Cláudio Cunha
1979- Sábado Alucinante de Cláudio Cunha
1979- A Mulher Que Inventou O Amor de Jean Garret
1980- O Gosto do Pecado de Cláudio Cunha
1982- Profissão Mulher de Cláudio Cunha
1986- As Sete Vampiras de Ivan Cardoso
1989- Solidão, Uma Linda História de Amor de Victor di Mello
1990- O Escorpião Escarlate de Ivan Cardoso




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