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Coluna do Biáfora

O Espírito da Colméia
Direção: Victor Erice
El Espiritu de la Colmena, Espanha, 1973.

Por Rubem Biáfora, artigo selecionado por Sérgio Andrade.

Segundo Saura o filme que o levou a utilizar a menina Ana Torrent em “Cria Cuervos”, senão mesmo que até o levou a imaginar e realizar essa sua magistral obra que amanhã, além do Olido e Bristol, passará também para a tela do Del Rey, tal o êxito (inesperado para os exibidores) felizmente alcançado nesta nossa nem sempre errada cidade. Como Saura depois em “Cria...”, também “El Espiritu de la Colmena” teve problemas e foi embargado algum tempo pela censura franquista. Mas o importantíssimo é que – sem cinismos e desaforos e sem se aproveitar do próprio poder oficial para fazer “festividade” – ambas as películas foram realizadas em pleno regime de Franco. E, ainda que através da alegoria, do fantástico realismo passível no cotidiano e no trivial, dão-nos um excepcional retrato da verdade e do sofrimento, da alma e dos anseios espanhóis de todo esse longo período de 40 anos de ditadura sofrida por seu povo. E ainda por cima, segundo o atestariam, senão os prêmios obtidos nos festivais de San Sebastian, Chicago, Londres e Nova York e os elogios de toda a imprensa do mundo civilizado, com certeza os testemunhos pessoais de nossos colegas Carlos Motta e Ewald Filho que os viram há três e dois anos em Cannes e Buenos Aires. A ação começa numa tarde de domingo, no ano de 1940 (época em que o impacto e as feridas da Guerra Civil ainda se faziam sentir) quando a uma pequena aldeia chega um velho caminhão com dois projetores na sua ronda mensal de cinema ambulante pelo interior do país. E para uma audiência principalmente de crianças exibem “Frankenstein”, o clássico de terror feito por James Whale em 1931. Duas meninas assistem à sessão e se vêm possuídas de fascinação pela película, mas ambas de maneira diferente. Isabel faz de tudo um jogo de imaginação. Ana, porém, cujo pai cria abelhas e cuja mãe tenta reviver o passado escrevendo cartas sem destino a um amor perdido, Ana, dizíamos, num processo de descoberta básica toma a projeção como uma realidade essencial. E quando, identificando-se com o monstro, imortalizado por Boris Karloff, e divagando pelos campos, encontra um homem misterioso, um fugitivo político, todo um processo de confronto entre bem e mal, uma consciência de vida e morte vêm a tona e uma estrutura original de cine-dramaturgia de realismo mágico e expressão poética configuram um filme cuja apreciação e entendimento se tornam capitais. Obrigatório.



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