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Dossiê Howard Hawks

El Dorado
Direção: Howard Hawks
El Dorado, EUA, 1966.

Por Matheus Trunk

Na segunda metade dos anos 60 ocorriam o psicodelisco, o movimento hippie e a contracultura. Mas Howard Hawks e John Wayne iam na contramão de tudo fazendo mais um western.

Para os esquerdistas da época, filmes de faroeste não eram nem um pouco legais. Principalmente por serem em sua maioria protagonizados por ninguém mais ninguém menos que John Wayne, símbolo onipresente do americanismo. Duke (como ele era mais conhecido pelos amigos) não só defendeu a empreitada estado-unidense no Vietnã, como realizou um filme que ele próprio dirigiu defendendo a guerra.

Mas o plot deste “El Dorado” não fala de guerras e muito menos em Vietnã. Como num faroeste hawksiano, ele gira em torno de um matador de aluguel, chamado Cole Thornton (Wayne). Este recebe do proprietário de terras Bart Jason a função de matar o xerife J.P. Hara (Robert Mitchum). Mal sabe Jason, que Thornton e J.P. são velhos amigos e o trabalho torna-se inviável.

Alguns meses depois, Cole recebe a notícia que seu amigo se tornou um bêbado por causa de uma desilusão amorosa. E que perigosos bandidos tentarão executar o trabalho de matar seu velho companheiro. Thornton entrará no conflito, tentando ajudar o seu amigo xerife.

Em “Afinal, Quem Faz Os Filmes” Peter Bogdanovich faz uma longa e importante entrevista com Hawks. Ele conta que quando chamou Wayne para protagonizar esse filme, ele tentou como diretor contá-lo do que se tratava o filme. Mas Duke foi categórico: “Oh Howard, por favor. Não precisa me contar a história, é claro que eu aceito”.

E pode-se olhar esse filme como uma brincadeira de amigos mesmo. O realizador já estava com seus setenta anos e o ator principal já era um sessentão. Eles já tinham mudado a história do cinema, e, portanto, não precisavam provar mais nada a ninguém, já tendo feitos dois grandes filmes juntos (“Rio Vermelho” e “Rio Bravo”).

Mas não se engane: essa fita não é um grande filme, para ser visto e revisto. No DVD, pode-se ainda ver o trailer original, que tem um tom nostálgico das distantes e memoráveis matinês dos anos 60. Deve ser lembrada também a beleza visual de Charlene Holt uma espécie de Angelina Muniz hawkisiana.

Este é o penúltimo trabalho de Howard. Ele só voltaria a fazer um último filme: “Rio Lobo” (ou “San Timóteo”), outro faroeste com Duke no papel principal.

Hawks nunca ganhou um Oscar em toda sua carreira. O que não o torna menor, se nos lembrarmos que o próprio Alfred Hitchcock nunca levou a tão famosa estatueta da Academia. E autores da grandeza deles, não precisavam ter um prêmio pra provar seus inegáveis talentos. Isso fica ainda mais evidente, quando assistimos filmes da qualidade de um “El Dorado”.



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