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Dossiê Howard Hawks

Levada da Breca
Direção: Howard Hawks
Bringing Up Baby, EUA, 1938.

Por Sérgio Andrade

“Bringing Up Baby” é possivelmente a maior das “screwball comedies”, as comédias americanas amalucadas produzidas principalmente nos anos 30, e que tratavam basicamente da guerra dos sexos.

Mas quando de seu lançamento foi um fracasso completo, fazendo com que Howard Hawks perdesse a oportunidade de assinar “Gunga Din”, e pondo um fim no contrato de Katharine Hepburn com a RKO (ela era considerada veneno de bilheteria).

Com certeza era um filme à frente de sua época, já que é difícil lembrar de uma comédia tão perfeita como esta.

Cary Grant é o Dr. David Huxley, o paleontologista de um museu que aguarda a chegada de um osso que falta para completar o esqueleto do brontossauro que está montando.

Ele se casará no dia seguinte com uma colega de trabalho, mas ela não parece muito entusiasmada. Perguntada sobre lua-de-mel, filhos, essas coisas, ela responde que eles não terão tempo para isso, já que vê o casamento como uma dedicação ao trabalho dele!

Ela está preocupada é, sim, com a doação de 1 milhão de dólares ao museu, prometida por uma milionária. David vai então ao encontro do representante da ricaça num campo de golfe, onde acaba conhecendo Susan Vance (Katharine, linda e talentosa como sempre), que descobrirá mais tarde ser sobrinha da tal milionária.

A partir daí o que veremos é a tentativa de Susan “fisgar” o desengonçado, apalermado David. Mas até que isso aconteça eles passarão pelas situações mais absurdas e inesperadas já vistas.

Uma das “armas” que ela usa para mantê-lo ao seu lado é seu animal de estimação, Baby, um leopardo que lhe foi enviado pelo irmão que mora no Brasil. Aqui cabe um esclarecimento: o tempo todo eles se referem ao animal como leopardo (Panthera pardus), cujo habitat é a África. Sendo do Brasil, só pode ser uma onça (Panthera onca), também conhecida como jaguar. Portanto, o bicho que vemos em cena é uma autêntica, nossa, onça-pintada (ou um leopardo se passando por onça).

Um assunto leva a outro, e uma das características principais das “screwball comedies” é justamente a confusão de identidades e o “cross-dressing”. E uma das cenas mais memoráveis de “Levada da Breca” é justamente aquela em que David é pego pela tia de Susan usando um pegnoir. Aparentemente nessa cena é que foi dita, pela primeira vez no cinema, a palavra “gay” significando homossexual. O próprio Cary Grant, que muitos afirmam que era gay, foi quem teria sugerido ao diretor Hawks usar o termo. Grant, alguns anos mais tarde, novamente vestiria roupas femininas num filme do diretor, “A Noiva Era Ele”.

Bom, o tempo está passando, o Matheus está me cobrando, já que sou o único membro da equipe da Zingu que ainda não enviou o texto, e ainda não falei do cão George, que irá pegar e enterrar aquele osso de brontossauro que estava faltando, nem de outro leopardo (ou onça ou jaguar), esse selvagem, que surgirá em cena para complicar ainda mais as coisas. Nem da estupenda galeria de personagens secundários, que inclui um xerife atrapalhado, um jardineiro bêbado, um velho caçador que vive tentando imitar o som dos animais e um psiquiatra cheio de tiques.

E não comentei, também, a seqüência final, em que todos os personagens, incluindo o cão e as duas onças (ou...) vão parar na cadeia.

Sugiro então que você corra agora mesmo pra locadora mais próxima e permita-se o prazer de assistir essa autêntica pérola cinematográfica.



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