Dossiê Howard Hawks
O Esporte Favorito dos Homens
Direção: Howard Hawks
Man’s Favorite Sport?, EUA, 1964.
Por Ailton Monteiro, especialmente para a Zingu!
Depois de provar para o mundo que continuava em ótima forma com a obra-prima HATARI! (1962), um dos melhores filmes do mundo, Howard Hawks volta à comédia maluca, gênero no qual ele é o maioral. A comédia de Hawks mais famosa e louvada é LEVADA DA BRECA (1938). Talvez seja mesmo a sua melhor comédia, mas O ESPORTE FAVORITO DOS HOMENS (1964) não fica muito atrás. Hawks lamentou o fato de não ter conseguido Cary Grant para o papel, mas acredito que Grant, apesar de ótimo, já estava um pouco velho para o papel e bem perto de se aposentar. Grant havia feito seis bem sucedidos filmes com Hawks, a maioria deles comédias. Rock Hudson, se não é tão bom quanto Grant (afinal, quem consegue ser?) faz um personagem bem fácil de as mulheres gostarem e de os homens simpatizarem.
Como "filme-irmão" de LEVADA DA BRECA, O ESPORTE FAVORITO DOS HOMENS apresenta até mesmo a reprise de uma cena de humor que deu muito certo no filme que trazia Grant e Katharine Hepburn - a cena do vestido rasgado. Hawks, aliás, não se incomodava em se repetir. Seja porque no original a coisa funcionou muito bem, seja para aperfeiçoar o que já era bom, de vez em quando vemos deliciosas repetições nos filmes de Hawks. (Não é por acaso que ele é acusado de ter feito o mesmo filme três vezes RIO BRAVO, EL DORADO, RIO LOBO.) Repetições essas que nos deixam com um agradável clima de familiaridade e com um sorriso no rosto. Eu, pelo menos fico assim, dizendo pra mim mesmo: "eu adoro esse cara". Já a cena do peixe entrando dentro das calças remete diretamente a O INVENTOR DA MOCIDADE (1952).
Na trama de O ESPORTE FAVORITO DOS HOMENS, Rock Hudson trabalha numa loja de pesca e camping. Ele escreveu um livro sobre dicas de como pescar e de vez em quando dá dicas para os clientes da loja sobre pesca. Sabendo de sua fama, duas mulheres (Paula Prentiss e Maria Perschy) o convidam para participar de uma competição de pesca. Acontece que Hudson nunca pegou um peixe na vida. Ele tem até nojo de pegar em peixes. Assim, as meninas resolvem ajudá-lo, fazendo com que ele aprenda a pescar em apenas três dias. Essa premissa por si só já garante um bom divertimento, mas o recheio, quer dizer, as situações engraçadas que os personagens passam é que fazem a diferença. O que dizer da cena em que Hudson tem o braço engessado? É a piada mais engraçada do filme, a que arrancou a minha maior gargalhada.
Boa parte da graça de O ESPORTE FAVORITO DOS HOMENS está na presença exuberante de Paula Prentiss como o interesse amoroso de Hudson. Ela é uma típica e autêntica heroína hawksiana: falastrona, sexy e que toma a iniciativa. Se não fosse por ela, o namoro com o personagem de Hudson jamais seria possível. Nos filmes de Hawks, é sempre a mulher que dá o primeiro passo. Às vezes elas conseguem ser um pouco vulgares, como as de OS HOMENS PREFEREM AS LOIRAS, mas ainda assim fascinantes. Uma pena que Paula Prentiss não vingou em sua carreira de atriz. Mas o que importa é que sua performance ficou eternizada no filme de um cineasta genial como Howard Hawks.
Hawks reclamava que a Paramount estragara o seu filme ao remontá-lo, cortando cerca de quarenta minutos de sua duração. Fico imaginando como seria essa versão.
Ailton Monteiro é cinéfilo de carteirinha e editor do blog Diário de Um Cinéfilo (http://cinediario.blogspot.com), premiado com o Quepe do Comodoro de melhor blog em 2004.
Direção: Howard Hawks
Man’s Favorite Sport?, EUA, 1964.
Por Ailton Monteiro, especialmente para a Zingu!
Depois de provar para o mundo que continuava em ótima forma com a obra-prima HATARI! (1962), um dos melhores filmes do mundo, Howard Hawks volta à comédia maluca, gênero no qual ele é o maioral. A comédia de Hawks mais famosa e louvada é LEVADA DA BRECA (1938). Talvez seja mesmo a sua melhor comédia, mas O ESPORTE FAVORITO DOS HOMENS (1964) não fica muito atrás. Hawks lamentou o fato de não ter conseguido Cary Grant para o papel, mas acredito que Grant, apesar de ótimo, já estava um pouco velho para o papel e bem perto de se aposentar. Grant havia feito seis bem sucedidos filmes com Hawks, a maioria deles comédias. Rock Hudson, se não é tão bom quanto Grant (afinal, quem consegue ser?) faz um personagem bem fácil de as mulheres gostarem e de os homens simpatizarem.
Como "filme-irmão" de LEVADA DA BRECA, O ESPORTE FAVORITO DOS HOMENS apresenta até mesmo a reprise de uma cena de humor que deu muito certo no filme que trazia Grant e Katharine Hepburn - a cena do vestido rasgado. Hawks, aliás, não se incomodava em se repetir. Seja porque no original a coisa funcionou muito bem, seja para aperfeiçoar o que já era bom, de vez em quando vemos deliciosas repetições nos filmes de Hawks. (Não é por acaso que ele é acusado de ter feito o mesmo filme três vezes RIO BRAVO, EL DORADO, RIO LOBO.) Repetições essas que nos deixam com um agradável clima de familiaridade e com um sorriso no rosto. Eu, pelo menos fico assim, dizendo pra mim mesmo: "eu adoro esse cara". Já a cena do peixe entrando dentro das calças remete diretamente a O INVENTOR DA MOCIDADE (1952).
Na trama de O ESPORTE FAVORITO DOS HOMENS, Rock Hudson trabalha numa loja de pesca e camping. Ele escreveu um livro sobre dicas de como pescar e de vez em quando dá dicas para os clientes da loja sobre pesca. Sabendo de sua fama, duas mulheres (Paula Prentiss e Maria Perschy) o convidam para participar de uma competição de pesca. Acontece que Hudson nunca pegou um peixe na vida. Ele tem até nojo de pegar em peixes. Assim, as meninas resolvem ajudá-lo, fazendo com que ele aprenda a pescar em apenas três dias. Essa premissa por si só já garante um bom divertimento, mas o recheio, quer dizer, as situações engraçadas que os personagens passam é que fazem a diferença. O que dizer da cena em que Hudson tem o braço engessado? É a piada mais engraçada do filme, a que arrancou a minha maior gargalhada.Boa parte da graça de O ESPORTE FAVORITO DOS HOMENS está na presença exuberante de Paula Prentiss como o interesse amoroso de Hudson. Ela é uma típica e autêntica heroína hawksiana: falastrona, sexy e que toma a iniciativa. Se não fosse por ela, o namoro com o personagem de Hudson jamais seria possível. Nos filmes de Hawks, é sempre a mulher que dá o primeiro passo. Às vezes elas conseguem ser um pouco vulgares, como as de OS HOMENS PREFEREM AS LOIRAS, mas ainda assim fascinantes. Uma pena que Paula Prentiss não vingou em sua carreira de atriz. Mas o que importa é que sua performance ficou eternizada no filme de um cineasta genial como Howard Hawks.
Hawks reclamava que a Paramount estragara o seu filme ao remontá-lo, cortando cerca de quarenta minutos de sua duração. Fico imaginando como seria essa versão.
Ailton Monteiro é cinéfilo de carteirinha e editor do blog Diário de Um Cinéfilo (http://cinediario.blogspot.com), premiado com o Quepe do Comodoro de melhor blog em 2004.
