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Dossiê Howard Hawks

Rio Vermelho
Direção: Howard Hawks
Red River, EUA, 1948.

Por Raphael Carneiro

Alguns filmes são maiores que a vida. "Rio Vermelho", um dos grandes clássicos de Howard Hawks é um deles. Imagino como deve ter sido impressionante vê-lo em uma tela grande de cinema, ainda mais levando-se em conta que poucas aventuras deviam ser mais mágicas que ele em 1948. Embora não seja tão marcante quanto os faroestes de Sergio Leone, a película de Hawks enquadra-se entre os melhores westerns já filmados.

A sensação de liberdade e o realismo ainda são seus maiores trunfos, junto com a interpretação magistral do maravilhoso John Wayne (ainda antes de Ethan Edwards, seu grande personagem em “Rastros de ódio”), como Dunson, o vaqueiro que, junto com seu filho adotivo Matthew (interpretado pelo galã Montgomery Clift, morto em 1966) e mais um grupo de vaqueiros contratados, tem a missão de levar 10.000 cabeças de gado por um deserto cheio de perigos (lindíssimo) com os índios Comanche em sua cola. Embora as cenas de ação sejam impressionantes (ainda mais quando se leva em conta a época em que o filme foi feito), o melhor do roteiro (que é repleto de reviravoltas e surpresas espetaculares) é a relação tensa entre os personagens, especialmente entre Dunson e Matthew.

Wayne está fabuloso em um personagem ambíguo, nunca sabemos se ele é realmente uma boa pessoa, e em diversos momentos ele demonstra ser tudo menos isso. Seu método brutal e despótico acaba por gerar um motim entre seus vaqueiros. As desoladas cenas em que é abandonado apenas com um cavalo no meio do deserto ajudaram a construir o mito de John Wayne no cinema. É um grande ator em um grande momento. O jovem Clift, embora não chame tanta atenção como o veterano Wayne, faz bonito nas cenas difíceis que tem, principalmente nas que tocam ao relacionamento conflituoso com seu "pai". A cena em que Clift finalmente se ergue contra o autoritarismo de Wayne e o enfrenta em uma briga de socos é reveladora, bela e emocionante.
A direção de Hawks é magistral e segura (a cena do estouro da boiada enche os olhos, e é repleta de tensão e suspense) e uma coisa que poucos sabem é que ele dividiu a direção com Arthur Rosson (que dirigiu outros clássicos, entre eles "Jejum de Amor", de 1940). Tudo funciona como uma máquina azeitada, inclusive com a presença de uma mocinha arrogante (e até certo ponto, irritante), salva por Clift dos índios. Ela difere um pouco do modelo feminino que Sergio Leone colocaria 20 anos mais tarde no belíssimo "Era uma Vez no Oeste".

Muitos consideram "Rio Vermelho" a mais perfeita representação do que seria o Western americano. Talvez estejam certos. Concorreu a dois Oscar (Edição e Roteiro) e não ganhou nenhum. Hoje, a obra mostra-se acima de premiações, como os grandes clássicos. Trata-se de um espetáculo mágico e monumental, do tipo que não vemos mais nos cinemas hoje em dia, infelizmente.

É um épico inigualável e influente, muitas situações nele demonstradas seriam vistas mais tarde em outro filmes do gênero. Uma obra imperdível de um dos maiores diretores americanos de todos os tempos. Só por isso já deveria constar em qualquer lista de melhores que se preze.



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