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O que a Crítica sabe?!

Por Gabriel Carneiro

TOP 10
o que de pior eu vi que a Crítica viu de melhor em 2006


Ou as maiores decepções: filmes muito elogiados que se revelam baboseiras. Não necessariamente os piores do ano. Ou os filmes mais superestimados do ano pela Crítica.
Critério de análise: filmes lançados comercialmente no Brasil em 2006.

10. A Dama na Água (Lady in the Water, 06) Dir.: M. Night Shyamalan

Por mais que haja detratores do filme, e que a crítica americana tenha sido morna, foi comum um certo apreço nacional. Há aqueles inclusive que o conclamam como melhor do ano. Talvez meu maior problema com a obra seja a falta de intensidade da obra. E mesmo a resolução ridícula. Durante boa parte da película esperei um certo aprofundamento na história seja na personagem de Howard, seja na de Giammati, o que não ocorre. Não desprezo a mentalidade do filme, mas densidade dramática e exploração das personagens fariam do filme algo mais do que blasé. Sim, porque nem o tradicional final “surpreendente” de Shyamalan existe. E coitada da filha de Ron Howard, ela é tão ruinzinha.

9. O Sabor da Melancia (Tian Bian Yi Duo Yun, 05) Dir.: Tsai Ming-Liang

Coerência e coesão são dois aspectos ausentes nesse filme. As imagens bizarras e os acontecimentos desconexos devem tentar transmitir algo, eu não consegui identificar. Sei que até boa parte do filme o clima de entretenimento absurdo, com músicas divertidas e esquizofrênicas, e coreografias bem entusiasmantes, a receita incomum para um filme talvez artístico estava funcionando. O problema é que num momento aquilo tudo simplesmente cansa, passa-se uma hora e o filme não se reinventa, as cenas tornam-se maçantes e repetitivas, e as alegorias ao sexo tornam-se uma alegoria para o consumismo. Sim, para que as pessoas consumam aquele filme como brilhante e consagrem-no, além daquela velha história em que tudo que relaciona sexo ou mulheres nuas recolhe muito dinheiro. Pelo menos se explora de maneira muito boa a melancia, especialmente na cena de abertura.

8. O Novo Mundo (The New World, 05) Dir.: Terrence Malick

Acho que o número de admiradores de Malick é muito grande, tanto que vi pouquíssimas críticas contra seu filme da atual década. O Novo Mundo é aclamado por ser onírico, visualmente belo, puro exercício de arte. E sim, esteticamente é belo, mas a história contada é tão insossa. Porque sai o Colin Farrel e a história até então contada se repete com Christian Bale, com pequenas alterações. A relação se mantém, mudando apenas o objeto em questão. E outras coisa, o filme é deveras chato. Não acontece muito. Talvez seja apenas birra com essas histórias, porque, francamente, Pocahontas e Iracema é tudo igual. E ambos são chatíssimos.

7. O Segredo de Brokeback Mountain (Brokeback Mountain, 05) Dir.: Ang Lee

Escuto muitas coisas sobre o filme de Lee, desde sua intensidade sutil à sua evocação melodramática. Intensidade é algo que não vejo, e sim um desejo ardente pela cópula. Insisto no fato de não acreditar no fato que alguém já nasça homossexual e que do sexo nasça amor. Realmente não consigo crer nisso, sendo assim, o filme torna-se muito inverossímil. Pois o desejo latente se transforma numa paixão, num amor. Ainda acho que não existe. Seus diversos encontros se resumem à compatibilidade sexual. Gostam da coisa, simples. Perde-se todo o sentido criar uma película com cenas violentas de sexo, sem grande envolvimento emocional, que num momento se perde e transforma-se num novelão. Um dramalhão sentimental brega e clichê, com um final óbvio, que ao invés de me fazer chorar, entediou-me.

6. O Céu de Suely (Idem, 06) Dir.: Karim Aïnouz

O melhor do filme é a fotografia, e como diria Carlão Reichenbach, esse é um dos grandes insultos que se pode fazer a um filme. Considerem-no como um. O Céu de Suely é um filme que tenta encontrar o Brasil de cada indivíduo, no caso, de Hermila, quer mostrar que há mais do que miséria e violência num país que só isso sabe retratar – retiro daqui 90% dos filmes patrocinados pela GloboFilmes, já que essa é café-com-leite. A questão é que como um filme ‘autoral’, O Céu de Suely mostra-se desinteressante. Há um momento em que a história parece não progredir, e a venda do corpo pela rifa esvazia-se. Os conflitos decorrentes da tentativa de angariar fundos para sumir são de pouca importância, e sim, Suely à procura de sua individualidade resultaria em algo melhor, muito melhor, se não fosse Karim à procura de seu próprio cinema – e que, aparentemente, não consegue encontrar.

5. Bubble – Uma Nova Experiência (Bubble, 05) Dir.: Steven Soderbergh

Bubble não é ruim. Tem momentos em que é muito interessante. A atriz principal, Debbie Doebereiner, é fantástica, e dona de uma das melhores interpretações femininas do ano. Mas faço das palavras de Inácio Araújo as minhas: “Ok, mas serve para quê?”. Exato, pois o filme é feito sem propósito algum. Soderbergh talvez quisesse contar simplesmente a história de uma mulher. Sim, mas com qual objetivo? Creio que há uma intenção por trás de qualquer obra, e fazê-la por fazê-la é torná-la medíocre. A história cotidiana perde o rumo, e para acabar de um modo triunfal, talvez surpreendente, e de fácil culto, encerra nas grades Martha, com um final fácil. Fácil porque é a melhor maneira de dar certa dignidade a um filme sem destino, que se perdeu há muito na falta de interesse.

4. Orgulho e Preconceito (Pride and Prejudice, 05) Dir.: Joe Wright

Sinceramente não sei se é a obra do Jane Austin ou a adaptação de Wright, seja como for, que história escabrosa. A partir do primeiro momento da projeção já conhecia todo desenrolar da trama, portanto todo conflito, todo baque e reviravoltas tornam-se extremamente desnecessárias. E se ainda nos reveses algo novo modificasse minimamente a estrutura, ou um novo olhar, uma nova maneira de filmar se instaurasse; mas não, é piegas, é clichê, é muito mal aproveitado. Os atores estão insípidos – indicar a Keira ao Oscar por esse filme é o cúmulo -, principalmente os coadjuvantes de renome, tais como Donald Sutherland e Judi Dench. E procurando subsídios para esse pequeno comentário, leio que os diálogos são ótimos e prazerosos. Faça meu favor!

3. Pai e Filho (Otets i Syn, 05) Dir.: Alexander Sokurov

Digam o que disser. Não tenho outro argumento a esse filme, senão: CHATO. Provocador de (muito) SONO. Sokurov pode ser um brilhante diretor, e seus filmes podem ser dos mais belos e poéticos existentes, mas enquanto não conseguir concentrar-me nele, e enquanto pestanejar durante sua projeção, achar-lo-ei ruim. Nunca dormi ou quase dormi vendo um filme no cinema. Pai e Filho mudou isso e é com muito grado que o coloco nessa posição. Para gostar, preciso assistir, concentrado. Pai e Filho não conseguiu tal postura de mim. Sinto muito. Chatíssimo.

2. O Arco (Hwal, 05) Dir.: Kim Ki-Duk

Muitos devem pensar que estou equivocado em colocar um filme do coreano Kim ki-duk na lista, afinal que Crítico no Brasil gosta de seus filmes. É raro abrir o jornal e reparar em algo mais que uma bola preta para o filme. De fato. Porém a Crítica internacional o vangloria – e inclusive Críticos brasileiros de pequenas instâncias, evidenciado nas minhas conversas durante a Mostra -, portanto sinto-me à vontade. O mais triste para mim foi o fato de eu gostar dos filmes do homem, inclusive o tão mal-dito Time. O Arco deprime pelo seu excesso de virtuosismo, sua plasticidade exacerbada. Kim Ki-Duk sabe fazer imagens belíssimas, sabe explorar as paisagens, não precisa tentar convencer-nos disso, não precisa ser tão artificial. As tomadas são desnecessárias, a partir do momento em que não contribuem para a fábula. E aquele final, pelo-amor-de-deus, que coisa horrenda. Um dos piores finais já feitos na história do cinema. Ninguém merece.

1. A Criança (L’Enfant, 05) Dir.: Irmãos Dardenne

Especula-se muito sobre esse filme, afinal ele foi o ganhador da Palma de Ouro em Cannes do ano passado. Não conhecia o cinema dos irmãos Dardenne, porém a história desse filme sempre me pareceu muito boa. Ledo engano ao comprovar que A Criança é extremamente super estimado, desprovido de senso crítico e sensibilidade; tentando chocar e ao mesmo tempo pontuar a vida de jovens sem perspectiva, eles se perdem e fazem um filme muito abaixo do medíocre, que passa a única sensação de estar diante de algo fútil. O impressionante é como o filme me irritou, como seu caráter pseudo-realista e suas imagens de irresponsabilidade. As personagens são dotadas de uma debilidade mental surpreendente, principalmente o rapaz. Não consegui depreender ainda se o título A Criança se refere ao infante recém-nascido ou rapaz que age como uma. Seja qual for, nenhuma confere a austeridade do culto.



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