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Coluna do Biáfora

EXCITAÇÃO – Nacional (São Paulo), 30 de maio de 1977, 90 minutos. Produção: MASP Filmes. Distribuição: Progron. Produtor: M. Augusto Cervantes. Direção: Jean Garrett. Roteiro, argumento: Jean Garrett, Ody Fraga. Fotografia: Carlos Reichenbach Filho. Música: Beto Strada. Montagem: Walter Vani. Em Eastmancolor. Elenco: Kate Hansen, Flávio Galvão, Betty Saddy, Zilda Mayo, João Paulo, Carlos Meni e Liana Duval, Abrahão Farc. Amanhã, nos Cines Marrocos, Augustus, Gazetinha-Centro e circuito.

Por Rubem Biáfora, artigo selecionado por Sérgio Andrade

Longe da bitola do estrelismo narcísico-comercial de David Cardoso (“A Ilha do Desejo”, “Amadas e Violentadas”, “Possuídas Pelo Pecado”, obras que no entanto facultaram sua revelação e os indícios de uma tendência plástico-formal para situações efeitos sado-eróticos-masoquistas), com “Excitação” o jovem diretor Jean Garrett surpreende até mesmo àqueles destituídos de preconceitos “culturais” que conseguiram aquilatar de suas potencialidades em melhores circunstâncias. Pois elas se impõem neste novo filme, o mais profícuo e caprichado que M. Augusto Cervantes produziu até hoje. Não que inexistam assimetrias, contradições e fortes lapsos de entrecho, com situações e personagens desnecessariamente tomados de empréstimo a muitas obras anteriores (“Suspeita”, “À Meia luz”, “A Teia de Renda Negra”, e até “A Sétima Vitima”, de Val Lewton). Mas é quase a primeira vez que algo saído da Rua do Triunfo revela um gosto e uma capacidade de manipulação, um germe de linguagem para realizações de diverso teor: unidade, plasticidade, imaginação cinemática. Outro tento é a belíssima fotografia colorida de Carlos Reichenbach, toda em tons neutros e esmaecidos (como se fosse concebida para a Kim Novak de “Uma Vez por Semana” ou a Dominique Sanda de “Une Femme Douce”), bem dosada, atmosférica – uma das melhores que nosso cinema apresentou em muito tempo. Sugestiva também a escolha de locais “marinhos” e o emprego das roupas (ponto sempre ridículo nas fitas nacionais do atual e falso “boom” comercial). Inesperadamente efetivo o “modernoso” comentário musical de Beto Strada. E só dignas de elogios as atuações de Kate Hansen com sua entrega e Betty Saddy com seu “charme” carioca, ainda que seja de lamentar as poucas oportunidades a Liana Duval e Abrahão Farc. Não há “engagement”, falta certamente o grande entrecho, mas é flagrante uma capacidade de vir à tona para as exigências visuais expressivas e atmosféricas do cinema. E isso é muito.

*Publicado originalmente no “O Estado de São Paulo” de 29 de maio de 1977



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