Especial Carlos Motta
O Que Aprendi Com Carlos Maximiliano Motta
Por Sérgio Andrade
Morreu, no dia 28 de dezembro de 2006, Carlos M. Motta. Carlos M. quem? Motta. Não se preocupe se você nunca havia ouvido falar no nome dele. Carlos M. (de Maximiano) Motta, crítico de cinema do Estadão por mais de 20 anos ultimamente estava escrevendo, de forma esporádica, apenas para alguns sites, entre os quais os do Rubens Ewald Filho e DVD Magazine.
Descobri o Motta praticamente na mesma época em que, quando adolescente em meados da década de 70, comecei a ler as “Indicações da Semana” do Rubem Biáfora, que eram publicadas no Estadão de domingo. Do Biáfora você já deve ter ouvido falar, pois alguns teimosos insistem em cultuar seu nome (eu, Matheus Trunk, Andréa Ormond, mais alguns poucos).
O Motta assumia a seção em caso de impedimento do Biáfora, nas férias dele, por exemplo.
Mas ele era o titular da coluna “Filmes na TV”, onde comentava os filmes que seriam exibidos no dia. Era onde ele podia demonstrar todo seu profundo conhecimento sobre cinema, falando sobre o diretor, os atores, a obra em si. Ele foi uma verdadeira “enciclopédia cinematográfica”.
Através de suas dicas pude conhecer obras de Pasolini, Bergman, Fellini, etc.
Foi dessa forma que fiquei sabendo de uma nova sessão de cinema programada pela saudosa TV Tupi, “Cinema de Arte”, que numa iniciativa pioneira passou a exibir filmes clássicos no original com legendas em português toda sexta-feira à noite. Para quem até então estava acostumado a ver apenas filmes dublados, fossem eles japoneses, americanos, franceses, espanhóis etc, aquilo foi uma verdadeira revolução. Pude ver, pela primeira vez, autênticas obras-primas do cinema, como O Gabinete do Dr. Caligari, O Anjo Azul, Ana e os Lobos, A Ilha Nua, Yojimbo, entre muitos outros.
Lendo suas críticas ficava evidente que o Motta havia recebido alguma influência do Biáfora no modo de escrever, mas sempre mantendo seus gostos e preferências pessoais, divergindo muitas vezes da opinião do Mestre.
Quando este, por motivos de saúde, foi obrigado a deixar o jornal para sempre, Motta assumiu, a partir de 30/01/83, as “Indicações da Semana”. E ele substituiu o Mestre à altura, continuando a dar as informações mais corretas possíveis, com as fichas técnicas completas de todos os filmes que estreavam semanalmente na cidade, isso num tempo em que nem se sonhava que um dia existiria o IMDB!
É verdade que ele herdou a coluna num momento difícil, quando o número de estréias em São Paulo, que costumava ser de 8 a 10 filmes por semana, foi caindo cada vez mais, a ponto de ter havido semana sem nenhum filme novo nas salas.
Foi a época também em que os filmes pornográficos estrangeiros começaram a ser lançados através de mandado de segurança. Pois o Motta, numa atitude das mais profissionais, não se intimidou a passou a registrar os pornôs, com ficha técnica e comentário como qualquer outro filme. Graças a ele os poucos que se interessam por pesquisa cinematográfica neste país puderam saber, por exemplo, que Tony Vieira era o diretor de “Meninas de Programa” (que ele assinou com seu nome verdadeiro, Mauri Queiróz). Ou que Vitor Triunfo e Izuaf Rusnam eram alguns dos pseudônimos usados por Fauzi Mansur para assinar seus filmes pornográficos.
Motta continuaria com a coluna, que passou a se chamar “Primeira Visão”, até o dia 05/06/88. Ninguém o substituiu na função, e a coluna foi extinta. Todos os que o acompanhavam sentiram uma enorme tristeza, um grande vazio.
O ostracismo a que ele foi submetido desde então é mais um exemplo do pouco caso com que são tratados nossos grandes homens de cinema, principalmente aqui em São Paulo.
Um dos últimos trabalhos realizados pelo Motta foi a organização do livro dedicado a Rubem Biáfora pela Coleção Aplauso, “A Coragem de Ser”. Ele, que foi o discípulo mais fiel do Mestre, pode então prestar-lhe essa última homenagem.
E eu, aqui na Zingu!, deixo esta singela homenagem a esse homem que foi um dos responsáveis por despertar minha paixão pelo cinema.
Obrigado Mestre Carlos Maximiano Motta!
O Que Aprendi Com Carlos Maximiliano Motta
Por Sérgio Andrade
Morreu, no dia 28 de dezembro de 2006, Carlos M. Motta. Carlos M. quem? Motta. Não se preocupe se você nunca havia ouvido falar no nome dele. Carlos M. (de Maximiano) Motta, crítico de cinema do Estadão por mais de 20 anos ultimamente estava escrevendo, de forma esporádica, apenas para alguns sites, entre os quais os do Rubens Ewald Filho e DVD Magazine.
Descobri o Motta praticamente na mesma época em que, quando adolescente em meados da década de 70, comecei a ler as “Indicações da Semana” do Rubem Biáfora, que eram publicadas no Estadão de domingo. Do Biáfora você já deve ter ouvido falar, pois alguns teimosos insistem em cultuar seu nome (eu, Matheus Trunk, Andréa Ormond, mais alguns poucos).
O Motta assumia a seção em caso de impedimento do Biáfora, nas férias dele, por exemplo.
Mas ele era o titular da coluna “Filmes na TV”, onde comentava os filmes que seriam exibidos no dia. Era onde ele podia demonstrar todo seu profundo conhecimento sobre cinema, falando sobre o diretor, os atores, a obra em si. Ele foi uma verdadeira “enciclopédia cinematográfica”.
Através de suas dicas pude conhecer obras de Pasolini, Bergman, Fellini, etc.
Foi dessa forma que fiquei sabendo de uma nova sessão de cinema programada pela saudosa TV Tupi, “Cinema de Arte”, que numa iniciativa pioneira passou a exibir filmes clássicos no original com legendas em português toda sexta-feira à noite. Para quem até então estava acostumado a ver apenas filmes dublados, fossem eles japoneses, americanos, franceses, espanhóis etc, aquilo foi uma verdadeira revolução. Pude ver, pela primeira vez, autênticas obras-primas do cinema, como O Gabinete do Dr. Caligari, O Anjo Azul, Ana e os Lobos, A Ilha Nua, Yojimbo, entre muitos outros.
Lendo suas críticas ficava evidente que o Motta havia recebido alguma influência do Biáfora no modo de escrever, mas sempre mantendo seus gostos e preferências pessoais, divergindo muitas vezes da opinião do Mestre.
Quando este, por motivos de saúde, foi obrigado a deixar o jornal para sempre, Motta assumiu, a partir de 30/01/83, as “Indicações da Semana”. E ele substituiu o Mestre à altura, continuando a dar as informações mais corretas possíveis, com as fichas técnicas completas de todos os filmes que estreavam semanalmente na cidade, isso num tempo em que nem se sonhava que um dia existiria o IMDB!
É verdade que ele herdou a coluna num momento difícil, quando o número de estréias em São Paulo, que costumava ser de 8 a 10 filmes por semana, foi caindo cada vez mais, a ponto de ter havido semana sem nenhum filme novo nas salas.
Foi a época também em que os filmes pornográficos estrangeiros começaram a ser lançados através de mandado de segurança. Pois o Motta, numa atitude das mais profissionais, não se intimidou a passou a registrar os pornôs, com ficha técnica e comentário como qualquer outro filme. Graças a ele os poucos que se interessam por pesquisa cinematográfica neste país puderam saber, por exemplo, que Tony Vieira era o diretor de “Meninas de Programa” (que ele assinou com seu nome verdadeiro, Mauri Queiróz). Ou que Vitor Triunfo e Izuaf Rusnam eram alguns dos pseudônimos usados por Fauzi Mansur para assinar seus filmes pornográficos.
Motta continuaria com a coluna, que passou a se chamar “Primeira Visão”, até o dia 05/06/88. Ninguém o substituiu na função, e a coluna foi extinta. Todos os que o acompanhavam sentiram uma enorme tristeza, um grande vazio.
O ostracismo a que ele foi submetido desde então é mais um exemplo do pouco caso com que são tratados nossos grandes homens de cinema, principalmente aqui em São Paulo.
Um dos últimos trabalhos realizados pelo Motta foi a organização do livro dedicado a Rubem Biáfora pela Coleção Aplauso, “A Coragem de Ser”. Ele, que foi o discípulo mais fiel do Mestre, pode então prestar-lhe essa última homenagem.
E eu, aqui na Zingu!, deixo esta singela homenagem a esse homem que foi um dos responsáveis por despertar minha paixão pelo cinema.
Obrigado Mestre Carlos Maximiano Motta!
