Dossiê Luiz Gonzaga dos Santos
Anúncio de Jornal
Direção: Luiz Gonzaga dos Santos
Brasil, 1984.
Por Matheus Trunk
Quem julgar o melodrama paulistano “Anúncio de Jornal” como uma pornochanchada, não sabe nada de cinema e vida.
Curioso e interessante exemplar dos anos 80, o filme nos apresenta a trajetória da personagem Linda Blanche (Eliana do Vale). Moça simples e de origem humilde, ela pensa em arrumar sua vida e ajudar a família nas despesas cotidianas. Para isso, arranja emprego por um anúncio de jornal como secretária.
O filme é baseado na música “Anúncio de Jornal”, da cantora Júlia Graziela, uma cantora brega romântica dos anos 80 que cantava na linha da paraguaia Perla. Pensando no sucesso comercial da fita, num modelo cinematográfico que a Boca já tinha adquirido, de basear filmes com títulos de canções e com a presença de cantores populares. Um exemplo da mesma época é Almir Rogério (“Fuscão Preto”), Roberto Leal (“Milagre- O Poder da Fé”) e mesmo Sérgio Reis (“O Menino da Porteira”, “Mágoas de Boiadeiro” e “Filho Adotivo”). O certo é pensarmos que essa tendência estava em todas as faixas do cinema brasileiro naquele início de anos 80, chegando até Nelson Pereira dos Santos (“Estrada da Vida”, com a dupla Milionário e José Rico).
Linda Blanche é prima em profissão e em destino da personagem Vânia da musa Simone Carvalho de “O Gosto do Pecado” de Cláudio Cunha. Profissional exemplar, a moça se dedica integralmente a nova opção da carreira, muitas vezes esquecendo os estudos, o namoradinho, as amigas e mesmo a família. A moça está apaixonada e com obsessão pelo chefe, doutor Maurício, feito pelo ator Paulo Leite. Ele logo falará a Blache: “Não me chame de doutor. Pra você é só Maurício”.
Ela não perceberá, mas ele é praticamente um especialista em seduzir e namorar jovens e atraentes secretárias. O que o interessa nelas é conquistar logo o que deseja e as demitir logo.
Rico e bem sucedido, Maurício se torna o novo namorado da protagonista em poucos dias, para desespero dos pais da moça. Mas ele a alerta de não contar sobre ninguém do novo romance. Eles vão a diversos lugares, entre eles ao show da cantora Júlio Graciela, cantora favorita da nossa heroína e amiga de infância.
Após conseguir o que queria, o devasso patrão descarta a boba apaixonada e se despede rapidamente, como fez com suas vítimas anteriores. Mas a protagonista, agora se vê sem o novo e importante amor e sem o emprego que tanto gostava. Some a isso, que Linda Blanche se vê grávida do antigo chefe, um verdadeiro Jece Valadão paulistano.
Indo a uma clínica de aborto e correndo pelas ruas da cidade de São Paulo, ela está desiludida e perdida. Linda Blanche está a um passo de suicídio, representado aqui como o salto do Viaduto do Chá (como em “Tchau Amor” de Jean Garret).
Aqui é o momento máximo da película. Tudo parece apontar para o convencional, e parece que o filme pode ser encerrado no mesmo momento. Mas Luiz Gonzaga dos Santos, um diretor dos mais originais e talentosos que o cinema paulista conheceu, muda completamente a fita, a transformando em um melodrama Douglas Sirkiano por exelência.
A partir do desaparecimento da protagonista, o antes aproveitador e “galinha” Maurício se vê completamente mudado. Começa a sentir a falta de Blanche, de um modo torturante e angustiante. Para tentar reavê-la, ele começa a procurá-la por toda a cidade. Ele chega a ir até a casa dela, mas ela não mora mais ali.
Termina quase toda a noite enchendo a cara em um bar qualquer e ouvindo sempre a mesma canção: “Anúncio de Jornal” da cantora Júlia Graziela. Na sua trajetória e procura, deve-se notar forte presença do ator Paulo Leite, hoje injustamente esquecido.
Jogado com vagabundos e maltrapilhos, o todo poderoso chefe de um “respeitável escritório” é mais um bêbado abandonado na noite paulistana. Andando perdido e sozinho, acaba tomando o mesmo passo de sua amada: se jogando do Viaduto do Chá. Vemos no final, a jovem saindo viva do hospital enquanto é levada para a vida pelo antigo (e verdadeiro) namorado.
Com uma sinceridade imensa, um instinto de leão e de gigante, Luiz Gonzaga dos Santos seria capaz de escalar o Everest para terminar esse filme. Fez tudo e mais um pouco para que este “Anúncio de Jornal” fosse um sucesso de bilheteria. Mas infelizmente, por ação de terceiros, ele não conseguiu isso. Mesmo assim, esse filme saiu das telas para permanecer como o exemplo de um cinema criativo e talentoso de uma época em que o cinema da Boca já estava ficando entupido do sexo explícito, gênero que levaria o modelo cinematográfico da Boca a seu fim.
Anúncio de Jornal
Direção: Luiz Gonzaga dos Santos
Brasil, 1984.
Por Matheus Trunk
Quem julgar o melodrama paulistano “Anúncio de Jornal” como uma pornochanchada, não sabe nada de cinema e vida.
Curioso e interessante exemplar dos anos 80, o filme nos apresenta a trajetória da personagem Linda Blanche (Eliana do Vale). Moça simples e de origem humilde, ela pensa em arrumar sua vida e ajudar a família nas despesas cotidianas. Para isso, arranja emprego por um anúncio de jornal como secretária.
O filme é baseado na música “Anúncio de Jornal”, da cantora Júlia Graziela, uma cantora brega romântica dos anos 80 que cantava na linha da paraguaia Perla. Pensando no sucesso comercial da fita, num modelo cinematográfico que a Boca já tinha adquirido, de basear filmes com títulos de canções e com a presença de cantores populares. Um exemplo da mesma época é Almir Rogério (“Fuscão Preto”), Roberto Leal (“Milagre- O Poder da Fé”) e mesmo Sérgio Reis (“O Menino da Porteira”, “Mágoas de Boiadeiro” e “Filho Adotivo”). O certo é pensarmos que essa tendência estava em todas as faixas do cinema brasileiro naquele início de anos 80, chegando até Nelson Pereira dos Santos (“Estrada da Vida”, com a dupla Milionário e José Rico).
Linda Blanche é prima em profissão e em destino da personagem Vânia da musa Simone Carvalho de “O Gosto do Pecado” de Cláudio Cunha. Profissional exemplar, a moça se dedica integralmente a nova opção da carreira, muitas vezes esquecendo os estudos, o namoradinho, as amigas e mesmo a família. A moça está apaixonada e com obsessão pelo chefe, doutor Maurício, feito pelo ator Paulo Leite. Ele logo falará a Blache: “Não me chame de doutor. Pra você é só Maurício”.
Ela não perceberá, mas ele é praticamente um especialista em seduzir e namorar jovens e atraentes secretárias. O que o interessa nelas é conquistar logo o que deseja e as demitir logo.
Rico e bem sucedido, Maurício se torna o novo namorado da protagonista em poucos dias, para desespero dos pais da moça. Mas ele a alerta de não contar sobre ninguém do novo romance. Eles vão a diversos lugares, entre eles ao show da cantora Júlio Graciela, cantora favorita da nossa heroína e amiga de infância.
Após conseguir o que queria, o devasso patrão descarta a boba apaixonada e se despede rapidamente, como fez com suas vítimas anteriores. Mas a protagonista, agora se vê sem o novo e importante amor e sem o emprego que tanto gostava. Some a isso, que Linda Blanche se vê grávida do antigo chefe, um verdadeiro Jece Valadão paulistano.
Indo a uma clínica de aborto e correndo pelas ruas da cidade de São Paulo, ela está desiludida e perdida. Linda Blanche está a um passo de suicídio, representado aqui como o salto do Viaduto do Chá (como em “Tchau Amor” de Jean Garret).
Aqui é o momento máximo da película. Tudo parece apontar para o convencional, e parece que o filme pode ser encerrado no mesmo momento. Mas Luiz Gonzaga dos Santos, um diretor dos mais originais e talentosos que o cinema paulista conheceu, muda completamente a fita, a transformando em um melodrama Douglas Sirkiano por exelência.
A partir do desaparecimento da protagonista, o antes aproveitador e “galinha” Maurício se vê completamente mudado. Começa a sentir a falta de Blanche, de um modo torturante e angustiante. Para tentar reavê-la, ele começa a procurá-la por toda a cidade. Ele chega a ir até a casa dela, mas ela não mora mais ali.
Termina quase toda a noite enchendo a cara em um bar qualquer e ouvindo sempre a mesma canção: “Anúncio de Jornal” da cantora Júlia Graziela. Na sua trajetória e procura, deve-se notar forte presença do ator Paulo Leite, hoje injustamente esquecido.
Jogado com vagabundos e maltrapilhos, o todo poderoso chefe de um “respeitável escritório” é mais um bêbado abandonado na noite paulistana. Andando perdido e sozinho, acaba tomando o mesmo passo de sua amada: se jogando do Viaduto do Chá. Vemos no final, a jovem saindo viva do hospital enquanto é levada para a vida pelo antigo (e verdadeiro) namorado.
Com uma sinceridade imensa, um instinto de leão e de gigante, Luiz Gonzaga dos Santos seria capaz de escalar o Everest para terminar esse filme. Fez tudo e mais um pouco para que este “Anúncio de Jornal” fosse um sucesso de bilheteria. Mas infelizmente, por ação de terceiros, ele não conseguiu isso. Mesmo assim, esse filme saiu das telas para permanecer como o exemplo de um cinema criativo e talentoso de uma época em que o cinema da Boca já estava ficando entupido do sexo explícito, gênero que levaria o modelo cinematográfico da Boca a seu fim.