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Dossiê Luiz Gonzaga dos Santos

Patty, a Mulher Proibida
Direção: Luiz Gonzaga dos Santos
Brasil, 1979.

Por Matheus Trunk

Quem resumir o cinema brasileiro apenas foices e martelos não conhecerá personagens como o anão Jujuba, a vedete Clorofila e o intelectual Escriba.

Esses personagens não estão em filmes financiados pelo Estado e sim em filmes esquecidos e secretos como este “Patty, A Mulher Proibida” assinado por Luiz Gonzaga dos Santos. Baseado no conto “Mustang Cor de Sangue” de Marcos Rey, este filme foi feito na melhor e mais fértil período da Boca do Lixo paulistana.

O anão Jujuba (Dilin Costa), apresentador infantil de grande sucesso tenta a todo custo arrematar mais uma lebre. Vemos que a moça da ocasião é a vedete Clorofila (a musa das musas, Helena Ramos), cujo nome verdadeiro é Patrícia, ou Patty como ela prefere ser chamada.

Mas o personagem mais importante da película é o escritor e intelectual fudido Escriba, personagem do excepcional ator Roberto Miranda. É ele quem narra a fita em flashback, como se a fita fosse um filme noir e Miranda um Humprey Bogart paulistano.

Ele escreve os roteiros dos programas televisivos do anão, um quase Nelson Ned juvenil. Além disso, Escriba é o mentor intelectual, mordomo e motorista do mustang de cor vermelha de seu nefasto chefe. Sempre servil ao seu mestre, o escritor tem seu comportamento habitual mudado após ver seu chefe tentar cobiçar Clorofila.

Pelos flashbacks de “Patty, a Mulher Proibida” podemos perceber que Escriba em suas horas livres freqüenta casas de shows adultos onde Patty mostra seu belo e enlouquecedor corpo. Ou seja: ele sofre uma espécie de paixão platônica por ela que acabará o levando a trocar seu comportamento retraído e cordial frente ao anão.

Podemos então, ver os esforços de Escriba para forçar seu chefe a incluir Clorofila como uma personagem do programa infantil televisivo. Para isso, Patty seduz o facínora anão a assinar um contrato, fazendo um strip-tease todo especial.

Os lances e deslances em torno do contrato são enormes: hora o personagem de Mirando o dá a Clorofila que o esconde e hora ele dá o mesmo contrato ao entroncado chefe. O engraçado é pensarmos que quase todo o filme se passa num só cenário: a casa ou mansão do famigerado Jujuba. Parece que esse ingrediente iria desgastar o filme, mas acontece justamente o contrário, isso acaba levando a criatividade de Gonzaga aos limites. E o tornando um dos mais talentosos diretores em voga no cinema paulista naqueles anos.

Embora tenho seu lado “pornô” (pelas curvas e pelo corpo da atriz principal) e até noir ou policial (por ser narrado em flashback e pelo final criminal), o melhor modo de encarar “Patty, a Mulher Proibida” é como uma comédia.

É digno de nota também a sutileza de Gonzaga em algumas cenas em que podemos ver um grande tratamento artesanal seja pelos enquadramentos, pela composição dos personagens ou mesmo pela brilhante direção de atores. Se destacam Miranda e o brilhante Dilin, que se usado em mais filmes com o mesmo tratamento, teria se tornado um dos maiores humoristas do país.

Tornado-se cults por platéias após exibições em mostras como “Os Maiores Clássicos da Boca do Lixo- vol 1” na Cinemateca Brasileira, este filme funciona como uma boa introdução da pequena e interessantíssima obra de seu realizador.




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