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Dossiê Ozualdo Candeias

A Opção
Direção: Ozualdo Candeias
Brasil, 1981.

Por Matheus Trunk

Muito mais para Cinema Marginal que para a pornochanchada “A Opção” é um autêntico filme de Ozualdo Candeias. Como em “Zézero” e (para um exemplo mais recente) “O Vigilante”, a vinda do migrante para o grande centro urbano é de certa forma “condenada” pelo cineasta paulista.

A história gira em torno de prostitutas de beira da estrada. Sua trajetória e seus encontros com homens, geralmente caminhoneiros. Se lembrarmos que Candeias foi durante um certo tempo carreteiro e gostava de afirmar “gigolô de prostituta pobre”. Portanto, ele conhecia o universo que retrata com propriedade no longa.

Se em trabalhos anteriores como “Zézero” o migrante é condenado por se viciar no jogo ou em “O Vigilante” por ser comandado por bandidos, em “A Opção”, o problema central é a prostituição.

O filme roda as estradas do Brasil, chegando a lugares nunca pensados para uma fita de Candeias, como a cidade religiosa de Aparecida. Praticamente mudo, tem incursão de diversos gêneros musicais populares, outra coisa típica na obra do autor. Diversas vezes parece mais um filme de uma Belair paulista, lembrando bastante o estilo de Júlio Bressane ou de Sganzerla.

Realizado com parcos recursos, foi concluído em sociedade com os técnicos. A dificuldade foi imensa. Para se ter uma idéia, foi um dos únicos filmes nacionais filmado nos anos 80 em preto e branco, quando ter um longa colorido era o máximo do máximo. O realizador de “A Margem”, fez nesta película de 1981 não somente o roteiro, a direção, a fotografia, a câmera e montagem do filme. Ainda foi ator, fazendo uma pontinha.

Difícil e com o começo bastante enrolado, a película não se explica e dá pra ver que não foi feito para ser explicada. O melhor fica quando as protagonistas chegam finalmente a cidade grande, no caso representada pela figura de São Paulo. Filmando a Boca do Lixo e alguns de seus bizarros personagens, funcionando como um interessante registro histórico do local e das pessoas que por ali transitam.

A sinopse do catálogo da Empresa Brasileira de Filmes afirma que: “mulheres simples, semi-analfabetas e ingênuas vivem á beira de estradas, envolvem-se com todos os tipos humanos e buscam novas chances nos grandes centros. Numa luta pela sobrevivência e em busca das regiões mais desenvolvidas do país, que oferecem melhores condições de trabalho, acabam aceitando todos os tipos de serviços, incluindo sexo”.

Bem, sinceramente eu não vi todo o “jogo sociológico” que os executivos pseudo-intelectuais viram. OC joga luz sobre a questão da prostituição, não faz achando elas “heroínas” (como o gênio Orlando Dias) ou mesmo “bandidas” (como faziam entidades como as senhoras da Liga das Senhoras Católicas). Elas são pessoas como eu, você e todos nós, com qualidades e defeitos. Não tem a tal “ingenuidade” e não são “vítimas da sociedade”, ou coisa do gênero. Pelo menos fui isso que vi e pelo que senti do filme.

O caso de “Opção” ter recebido o Leopardo de Bronze no Festival de Locarno na Suíça, tem uma história engraçada. Diz a lenda que os magnatas da Embrafilme prometeram a Candeias (que não foi ao festival europeu) além do troféu, um expressivo cheque. O cheque não chegou até hoje. O troféu deve ter sido comemorado em algum bar da Boca do Lixo, com presença em massa de técnicos, diretores e de belas moças que o cineasta de Cajubi tanto conviveu e defendeu com unhas e dentes.



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