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Dossiê Ozualdo Candeias

CURTAS

Por Matheus Trunk

Uma Rua Chamada Triumpho 1969/70, 11 minutos
Direção: Ozualdo Candeias

Importante documento histórico do momento da Boca do Lixo, “Uma Rua Chamada Triumpho” tem um valor inestimável. É uma pequena passada pela maior indústria cinematográfica da América Latina. O curta nos leva a ver desde figuras que se consagraram no cinema paulista desde realizadores e atores (John Herbert, Walter Portela, Carlos Coimbra, Carlão Reichenbach, entre outros) e mesmo pessoas mais identificadas ao cinema carioca (Luiz Carlos Barreto, J.B. Tanko e mesmo o genial Nilo Machado). Todos são mirados pelas lentes de Candeias: críticos (Jairo Ferreira, Rubens Ewald Filho, Rubem Biáfora), produtores (Osvaldo Massaini, AP Galante) e sem nenhum tipo de preconceito os técnicos (desde o “homem dos sete instrumentos” Miro Reis, como Eliseu Fernandes, Velho Horácio, George Attili). Até Plínio Garcia Sanchez, pai do genial Conrado e importante professor de cinema aparece no documentário. Pra quem quer saber um pouco o que foi a Boca, é emocionante. A narração é meio chinfrim, mas em nada compromete o conteúdo fílmico.

Uma Rua Chamada Triumpho 1970/71, 10 minutos
Direção: Ozualdo Candeias

Continuação do primeiro, foca mais uma vez os personagens diários das esquinas da Rua do Triumpho. Da mesma forma que o anterior, sua importância está mais em seu valor documental do que como curta mesmo. Nesse, acabam aparecendo diversas pessoas que já tinham no primeiro. O mais inusitado vai para o narrador que proclama no final: “A polícia espera que a Boca deixe de ser Boca”. Passados mais de trinta e cinco anos, a realidade do local piorou tornando o local a Cracolândia.

Festa na Boca, 1976, 12 minutos
Direção: Ozualdo Candeias

Dos curtas aqui citados, “Festa na Boca” é o melhor. Mostrando de forma documental o dia 31 de dezembro de 1976, passagem de ano em que a Boca do Lixo paulistana fervilhava de gente e comemorava a chegada dum novo ano. A festa foi animada, e estiveram presentes diversas pessoas da classe cinematográfica paulista (desde atrizes, atores, artistas, produtores, diretores, críticos, técnicos). Clima festivo, pode-se ver desde fíguras centrais do local (como Cláudio Cunha, Alfredinho Sternheim, Zé Manir, Marlene França, Tony Vieira, David Cardoso) e mesmo pessoas agregadas cultura acadêmica (como Leon Cakoff e Jean Claude Bernadet).

O mais interessante é a premiação. O prêmio “Boca do Lixo” de 1976 diferentemente do Oscar ou dos festivais europeus, não premiou o melhor filme do ano, o melhor diretor ou o ator e atriz. Os premiados foram os técnicos: melhor assistente de câmera (Miro Reis), melhor eletricista (Souza) e melhor maquinista (Padre). Note-se bem que ao contrário das cinematografias que valorizaram os atores, atrizes e artistas o cinema da Boca permanece como um gênero pioneiro que privilegiava e dava valor, antes de mais nada a seus técnicos. Algo que o cinema americano não faz até hoje.

A exibição de “Festa na Boca” deveria ser obrigatória em faculdades de cinema. Eu como pesquisador, não tenho conhecimento de um documento que mostre melhor o que foi o cinema que se fazia na rua do Triumpho, que este singelo e belíssimo curta. Doze minutos de pura emoção pra quem ama essa geração extraordinária que fazia cinema na raça, sem necessitar de mecenato oficial e de estatais.



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