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Dossiê Ozualdo Candeias

O Vigilante
Direção: Ozualdo Candeias
Brasil, 1992.

Por Matheus Trunk

Estranho. Essa é a palavra certa para definir “O Vigilante”, derradeira película do “marginal dos marginais”, Ozualdo Candeias.

Um pacato homem vindo do ambiente rural, chega a São Paulo. Não achando um trabalho facilmente, torna-se vigilante. Como a maioria dos migrantes, acaba indo morar numa favela.

Lá, ele acaba tendo uma série de problemas com um grupo de traficantes que controlam o local. Ao mesmo tempo em que toca em um assunto hoje vingente no noticiário nacional (do controle de uma “facção” a uma favela), OC consegue olhar os moradores populares sem qualquer tipo de preconceito ou de modo esquedizante (tão comum nos filmes do dito Cinema Novo). Ele olha os olha como seres humanos: com suas qualidades e defeitos, como eles são. Não existem traços de heroísmo na obra candesiana.

O longa se torna uma espécie de testamento de seu realizador. Ou uma espécie de último capítulo de sua saga. Como em “Zézero”, o Pasolini brasileiro acaba não vendo com bons olhos a migração do interior aos centros urbanos. O curioso é sabermos que como seus dois protagonistas das duas diferentes fitas, ele Candeias também veio do interior de São Paulo, tentando a vida na capital da mesma forma de seus personagens.

Isso não faz de “O Vigilante” uma obra-prima. Muito menos um filme imperdível. Trata-se mais de uma imensa declaração de amor ao cinema e a vontade de se fazer sétima arte.

Feito na cara e coragem, por seu diretor que fez quase tudo na parte técnica do longa: dirigiu, roteirizou, produziu, fotografou e ainda foi câmera. É notável também não esquecer da bela montagem do professor e gênio da raça Máximo Barro (que montou “A Margem”, vinte e cinco anos antes). O elenco não é saído de cursos de teatro ou da novela. O recrutamento foi mesmo de pessoas simples, gente do povo, que não devem ter ganhado quase nada em troca da presença física na fita. O próprio protagonista, deve ser um vigilante de verdade.

Longas como “O Vigilante” custaram caro a seu autor, pois se viu praticamente sem público e sem alternativas de produção num cinema cada vez mais cheio de linguagem televisiva e de videoclips. Um filme estranho a isso tudo. Mas um belo filme. E onde anda o cinema brasileiro estranho?



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