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Dossiê Ozualdo Candeias

Zézero
Direção: Ozualdo Candeias
Brasil, 1974.

Por Fernando Niero, especialmente para a Zingu!

Truffaut certa vez disse que gostava de filmar "conto-de-fada para adultos", é um pouco o que Ozualdo Candeias fez em Zézero. Após ter colocado a barca de Caronte no rio Tiête e adaptar Hamlet para o mundo rural de Minas Geraes, Candeias produziu essa inventiva e escrachada fábula em forma de média-metragem, falando da migração nordestina sem o olhar paternalista do Cinema Novo.

Zézero aparece com em sua cidade pequena e sua família, a canção de Vidal França já adianta a narrativa e pergunta "o que lá na cidade que não tem no meu sertão?" quem responde é uma moça com negativos de filme na cabeça. Sempre sorridente, uma espécie de símbolo do progresso e civilização e mídia, e que está rodeada de jornais, revistas e um rádio, as imagens da cidade fascinam os olhos rurais de Zézero: o sorriso de Sílvio Santos, o rádio de pilha sobre a revista Realidade, as manchetes do Pasquim, Folha, Estado, e Noticias Populares. O que se vê após isso é um genial trabalho de montagem/colagem: fotografias de do personagem principal são coladas em fotos de revista junto a modelos e em demais cenas de luxo e a fama, representando os sonhos prósperos dele.

Chegando em São Paulo, Zézero torna-se pedreiro, as promessas da sorridente moça não se concretizam. Ele só pode conseguir algo na base sorte (pagando em dia as mensalidades do carnê do baú da felicidade) ou pela violência (como nos estupros em terrenos baldios, um deles sendo pioneiro no uso de cenas de sexo entre pessoas feias) já lembrando um clássico ditado Sganzerliano "quando a gente não pode fazer nada a gente avacalha".

Por fim, há uma reviravolta na vida da personagem, não contarei o final, mas só digo que é um dos mais apoteóticos e avacalhados do cinema brasileiro. Perguntado sobre o porque frase final, em palestra, Candeias respondeu: "Porque não havia nada melhor para ele dizer do que isso. Ele só podia falar isso”.



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