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IN MEMORIAN DE CARLOS COIMBRA

Por Matheus Trunk

Qual a importância de Carlos Coimbra para o cinema brasileiro ? Para os intelectuais, nenhuma. Sua morte, teve repercussões esparsas na mídia. O curioso é que justamente os “novos meios” (os do momento), “novos críticos” ou “críticos da moda” não deram ou não falaram quase nada sobre ele. O mais curioso de tudo é que qualquer realizador carioca se consagra entre esses críticos somente ter filmes feitos com dinheiros das estatais ou por ter posições ideológicas “inovadoras”. Os filmes ficam num segundo plano.

Nunca conheci Carlos Coimbra pessoalmente. Já tive a honra de conversar com diversas pessoas, inclusive técnicos que trabalharam com ele. Todos sempre falam bem dele. Nunca vi ninguém falar mal de Coimbra, como pessoa ou como realizador. Adorador de carrinho, do travelling, era um homem meticuloso e um grande diretor de atores (vide Leo Villar em muitos de seus filmes).

Eu planejava um dossiê sobre ele com entrevista para o mês de agosto, pois neste agosto de 2007, o mestre completaria oitenta anos. O IMDB está errado, CC nasceu em 1927 e não em 1925. Uso como fonte a biografia dele, recentemente publicada pela Coleção Aplauso. Escrita por Luiz Carlos Merten, é o maior documento que temos sobre esse realizador paulista. Eu já li, e é importantíssimo que qualquer pessoa que queira conhecer o cinema nacional leia-o.

Quando já estávamos com a pauta definida para este fevereiro, com a morte de Candeias, me veio outro (e mais poderoso ainda): a morte deste estupendo diretor. Pois eu fiquei, completamente desesperado, e não sabendo o que fazer com este fevereiro.

Por isso, estou aqui tentando falar um pouco do que significou os filmes e a carreira da Coimbra para mim e para o cinema tupiniquim.

Ele não gostava de ser chamado de autor, preferia ser mesmo de contador de histórias. O curioso é que quando os americanos tem diretores que são simplesmente isso, todo mundo acha lindo. Quando são os brasileiros, não pode precisa ter alguma função ideológica ou ser educativo...

“Independência ou Morte”, foi seu filme mais conhecido e mais polêmico. Contava a história de como Dom Pedro I, feito pelo (na época galã) Tarcísio Meira proclamava a independência nacional. O filme foi produzido por Osvaldo Massaini e a Cinedistri, empresa localizada na Rua do Triunfo, São Paulo.

Por isso, não entendo como essas acusações de Coimbra ou Massaini serem “entreguistas” ou coisa do gênero. Na realidade, filmes como São Bernardo, O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro, Quilombo são muito mais “entreguistas”. Esses foram financiados com dinheiro da Embrafilme da Ditadura Militar. O do Coimbra não, e sim pelo dinheiro pessoal de seu produtor, Osvaldo Massaini que era amigo pessoal de Jânio Quadros (um nome não muito aceito pelos milicos).

A propaganda dos militares pelo filme, foi feita depois que a película estava concluída. O grande sucesso de público, despertou a ira da crítica (nem toda, (salvo exceções como Alfredo Sternheim) que dos colegas “ideológicos”, que o acusaram de diversas coisas.

O mais curioso de toda história é que essas mesmas pessoas que o acusaram de mil e uma coisas continuam fazendo filmes com recursos estatais. Enquanto um homem como CC não realizou um filme desde 1981.

Por ser paulista, não saquear estais e sem objetivos pseudo-ideologias para teses de mestrado (ou doutorado) a obra de Coimbra permanece completamente ignorada. Sem ele, o cinema paulistano está definitivamente entrando pelo ralo. Um homem cordial, que merecia muito mais do que ganhou em vida. Nunca pensou em dinheiro, somente em fazer filmes, pela pura paixão. Se é artesão ou não, não me cabe julgar. Sou apenas um fã de cinema, e seu grande admirador. Pra mim, CC é mais que Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos juntos.

Como cinéfilo, posso dizer que adoro as comédias dele: em Se Meu Dólar Falasse, que Grande Othelo chega a se tornar hippie; O Santo Milagroso que é uma obra-prima, com um elenco extraordinário. Dos dramáticos, Madona de Cedo, é uma fita fantástica em que Leonardo Villar se impõe completamente; O Homem de Papel, um curioso filme policial todo rodado em Fortaleza. Não sou grande admirador de películas como Cangaceiros de Lampião.

Enfim, tentar resumir um homem da dimensão e da importância de Carlos Coimbra é uma missão muito difícil. Praticamente impossível. Eu gostaria muito de conhecê-lo, infelizmente o tempo foi cruel com esse meu sonho. Que Deus receba ele de braços abertos, pois com toda certeza ele merece. Deixo aqui, um texto que o genial Ignácio de Loyola Brandão, publicou na sexta-feira dia 23 de fevereiro de 2007, em “O Estado de São Paulo” falando sobre o diretor:

“Sempre foi um homem simples, um artesão cuidadoso, um apaixonado por cinema. Morto na semana passada aos 79 anos, ele comeu e bebeu cinema, viveu cinema a vida inteira, não ficou rico como certos nomes e nos últimos anos mergulhou num ostracismo”.



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