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Musas Eternas...
PORQUE O QUE É BOM, É ETERNO...

Cláudia Ohana

Por Filipe Chamy

Uma das coisas mais comuns no cinema é o autor se apaixonar pela obra. Com Cláudia Ohana, não foi diferente. Ruy Guerra, seu “criador”, envolveu-se com ela a ponto de casarem por quatro anos (1981 a 1984), terem feito juntos uma filha, Dandara — hoje com 23 anos —, e quatro grandes filmes: Erêndira, Ópera do malandro, A fábula da bela palomera e Kuarup. Os conhecedores de cinema e televisão brasileira não se esquecem de sua figura frágil, os grandes olhos arregalados lembrando uma Lillian Gish moderna, o corpo esbelto e seu jeito tímido e curioso.

Cláudia começou sua carreira no filme Amor e traição, de Pedro Camargo, mas despontou apenas em Erêndira, obra de Ruy Guerra baseada em um livro de seu amigo Gabriel García Márquez (que inclusive roteirizou a fita). No papel-título, Cláudia interpretava uma moça humilde constantemente humilhada pela avó perversa — papel da lendária Irene Papas —, numa espécie de fábula surreal-dramática. O filme foi indicado à Palma de Ouro em Cannes e Cláudia angariou uma projeção que viria a consolidar-se ainda mais com os filmes que faria a partir de então. Sua versatilidade já conquistava o respeito dos críticos e a atenção do público. Foi uma fase de sucessos e experimentalismos; como soltar a voz na Ópera do malandro — há quem diga que cantou muito melhor que outra atriz do filme, Elba Ramalho, cantora profissional consagrada. Alguns anos depois repetiria a dose entoando a conhecida canção dos Rolling Stones Symphaty for the devil, na novela Vamp. Aliás, Cláudia disse que nessa época o assédio dirigido a ela era tão grande que ela mal conseguia sair de casa — mas foi aí que ela realmente tomou gosto pelo trabalho televisivo, do qual falaremos adiante.

Filha do pintor Arthur José Carneiro e da montadora Nazareth Ohana — que se separaram quando a menina tinha apenas um ano —, batizada como Maria Cláudia Carneiro Silva e nascida em 1965, a carioca Cláudia Ohana tem uma fértil carreira também na televisão, onde angariou inúmeros papéis de destaque, como o de Natasha, em Vamp, e Isabela, em A próxima vítima — na qual sua personagem saía de cena através de uma memorável morte por facadas, um dos vídeos mais requisitados da internet. Seu último papel na telinha foi como uma das protagonistas da penúltima fase de Malhação, interpretando Raquel, uma mulher independente e decidida. Outros trabalhos memoráveis foram Tieta (em que fazia a personagem-título quando moça), Rainha da sucata, Fera ferida e Da cor do pecado, obra de autoria de seu irmão João Emanuel Carneiro. Este ano voltará aos lares tupiniquins na novela Paraíso tropical. No teatro, atua esporadicamente, tendo no currículo peças como Carmen e Rock Horror Show.

Cláudia marcou época também com seu ensaio para a revista Playboy em 1985. Bem jovem quando posou, estabeleceu um novo padrão para beleza natural e sem retoques. Sua exuberância só não foi mais marcante que seu estilo único de depilação — ou, para os mais maldosos, de falta dela. Por conta do polêmico ensaio, ainda hoje Cláudia Ohana é para muita gente uma evocação de termos como “matagal” e “selva cabeluda”. Eram os loucos anos 80, e é no mínimo injusto criticar uma das modas íntimas da época.

Os anos passaram, mas Cláudia Ohana nunca sumiu da mídia ou de projetos quase sempre interessantes. Continua uma atriz dedicada e talentosa, com timing para a comédia e naturalidade em dramas. Também continua com uma figura feminina poderosa: ela se orgulha de ainda poder vestir uma saia que usava em seus áureos quinze anos, e, no embalo do neto Martin (recém-fabricado por sua filhota Dandara), disse que é “uma avó sarada, que sai e paquera”. O que demonstra aquela que talvez seja sua maior paixão, mais que a arte: a família. Sua filha, seu irmão, sua irmã mais velha (de nome Cristina), a memória dos pais, o neto, seus ex-maridos, seus amigos, seus amores.

FILMOGRAFIA DE CLÁUDIA OHANA:

No cinema:

Amor e traição (1979)
Bonitinha mas ordinária (1981)
Menino do Rio (1982)
Beijo na boca (1982)
Aventuras de um paraíba (1982)
Erêndira (Eréndira, 1983)
Ópera do malandro (1985)
Les longs manteaux (1986)
Luzia Homem (1987)
Desejo de amar (Love dream, 1988)
A fábula da bela palomera (Fábula de la bella palomera, 1988)
Kuarup (1989)
Erotique (1994)
Dolores (2005)

Na televisão:

Obrigado, doutor (1981)
Amor com amor se paga (1984)
Tieta (1989)
Rainha da sucata (1990)
Vamp (1992)
Fera ferida (1994)
A próxima vítima (1995)
Você decide [quatro episódios feitos entre 1996 e 2000]
Zazá (1997)
A muralha (2000)
Estrela-guia (2001)
As filhas da mãe (2002)
Canavial de paixões (2003)
Da cor do pecado (2004)
Sob nova direção (2004)
Malhação (2006)
Paraíso tropical (2007)




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