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Carta ao leitor.

Foi uma loucura definir o dossiê dessa edição. Porque o número sete é extremamente cabalístico e forte. Uma árdua tarefa incomodou os fiéis colaboradores da Zingu!: qual seria o dossiê especial para conseguirmos dobrar o tal número?

Consultei horóscopos dos grandes jornais: nada. Eduardo Aguilar me lembrou de olhar os horóscopos dos jornais populares. Nada novamente. Fui de novo ao Walter Hugo Khouri do Teatro Imprensa, e ele me sugeriu mais uma vez o horóscopo. Mas agora um barra-pesada americano na internet. Novo fracasso. Mas que catzo? Como eu poderia determinar o poderoso assunto, que poderia combinar com o tão ambicioso e flamejante número sete?

O inteligente Domingos Ruiz Júnior me lembrou do Bola Sete. Mesmo assim não funcionou. Prestativo, Marcelo Carrard me falou para procurar uma cigana. Então fui à tal cigana. Mas saí como Nelson Ned (“acho graça da ironia que um dia/uma cigana leu a minha mão/ disse que viu no meu destino muita alegria para o meu coração”).

A carioquíssima Andrea Ormond em sua empreitada em São Paulo, me sugeriu ir a Boca do Lixo procurar assunto. Lá estive. Passei pelas esquinas, como um bom repórter procurando um bom assunto para ser a pauta de abril. Anda que anda, não achei ainda o assunto. Ele não vinha nem da minha amada Boca do Lixo. Fui ficando depressivo e obsessivo.

O amigo Salomão me sugeriu um conhecido dele que jogava búzios para o Vampiro de Osasco. Pois fui lá. Mas nada funcionou: aqueles dados me atrapalhavam muito mais do que me ajudavam. Fiquei mais desanimado ainda. Procurei alegria com os velhos discos de Waldik Soriano, Osvaldo Fahel, Velhinhos Transviados...Mas nem no bolero achei assunto.

Sérgio Andrade, como bom bibliotecário me recomendou clássicos da literatura mundial. Mas eu não nasci para clássicos e sim para Victor di Mello, Ody Fraga, Nicole Puzzi, Sandra Midori. Já com o Filipe Chamy não houve opção: ele me recomendou ver todos os filmes do Hitchcock. Claro que não vi, mas agradeci ao sábio conselho deste precioso colaborador.

Gabriel Carneiro deu risada da situação e acompanhado de Melody e de seu primo Raphael me deu uma sugestão: “Cara, pare de ser paranóico. O assunto virá rápido na cabeça”. Ele foi um bom amigo, mas a tal pauta não veio. Fui ficando desesperado e sem qualquer tipo de esperança.

Andei pelas ruas da capital paulista, perdido e desiludido. Não fazia mais a barba e nem tomava mais tubaína. Eu estava tão triste, precisando tanto conversar com Deus, falar dos meus problemas e também lhe confessar tantos segredos meus. De repente, encontrei uma igreja evangélica. Tardei um momento: será que só assim eu conseguiria o assunto? Não sei. Entrei no templo. Lotadíssimo. O pastor, com a bíblia na mão e muito bem vestido, falou-me:

- Eu sinto que entrou um pecador no templo!

E eu fui ao encontro dele. Subi ao palco e ele:

- Meu jovem, o que acontece com você?

Eu falei:

- Seu pastor, eu procuro...

Ele me interrompeu pela primeira vez:

- Procura a Jesus?

- Talvez...

Ele me interrompeu mais uma vez:

- Vejam vocês! Um jovem hoje procura a Jesus! Aleluia!!

E eu tentava falar, mas todas as pessoas dentro da igreja começaram a gritar:

- Aleluia! Aleluia!

Eu tentava falar que eu procurava algo sim. Mas era o assunto da Zingu! de abril. Poderia também achar Jesus eventualmente, mas meu problema era achar o dossiê da sétima edição. Não teve como. Ele pediu pra tirar o “encosto” de mim. Pois eu pensei: agora consigo achar o assunto! Mas até sem o encosto eu não tinha o dossiê.

Saíram todos felizes da tal igreja, menos eu. Não tinha mais encosto. Mas também não tinha nada, estava no fim de carreira e da minha revista eletrônica.

Os dias seguintes foram, talvez, os piores da minha vida. Eu mal escolhia uma roupa para vestir e nem vendo filmes da Alvamar Taddei eu ficava feliz. Tentei olhar o pôster da Aldine Müller, mas mesmo assim minha desilusão era completa, fechada.

Caminhando novamente pelas ruas, olhando discos de Ed Carlos, José Roberto, Roberto Luna... Mesmo assim não resolvia o meu assunto. De repente, no meio de uma esquina da cidade, uma criança fala comigo:

- Tio, onde é a festa?

Eu, estranhando, falei:

- Que festa, baixinho?

Ele, meio nervoso, chutou-me o saco. Caí no chão com uma dor imensa. De repente, no meio da rua alguém me agarra. Não, leitor pornochanchadeiro: não se trata de nada disso que você está pensando. Eu simplesmente acordei e estava vestido de mágico. Isso mesmo! Com cartola, varinha mágica e tudo. Não me encontrava mais na rua, sim num lugar bonito: num salão quase francês (eca!)... Aí chegou uma moça lindíssima, que parecia muito a Neide Ribeiro e me disse:

- Você é o próximo!

Aquele olhar moreno e de uma beleza intensa e sensual me deixou completamente apaixonado. Bem, mas isso não resolvia o problema do dossiê. Mais uma vez fui eu, e caminhei. Tal qual foi minha surpresa ao ver um bando de pirralhos gritando:

- Mágico! Mágico! Mágico!

Pois nunca fui mágico. E pela primeira vez justamente, eu ia dar vexame junto àquele emaranhado de pivetes. Eu nunca fui David Cardoso, Ewerton de Castro, Nuno Leal Maia e nem Roberto Bolant, mas iria dar um jeito. Eu botei minha cartola no chão e falei:

- O que vocês vêem aqui?

As crianças, em prosa:

- Uma cartola!

E eu:

- Pois bem, e eu pego essa cartola e a transformo...

Peguei a varinha mágica. De repente, do nada, começo a falar as palavras mágicas, que eram, na verdade, uma música do Orlando Dias:

- Ele é meu amigo, é meu irmão. Não posso ter um caso com você, não dá certo a nossa união! É melhor você me esquecer!

Tal qual foi a minha surpresa, quando encontrei uma lebre em vez da cartola. A lebre resolveu meus três problemas:
1)- a criançada adorou e virei mágico. Do nada.
2)- a moça que parecia a Neide Ribeiro simplesmente me agarrou e me beijou.
3)- o que saiu da cartola foi uma lebre. Ora, quem falava em lebres toda hora? O Imperial! Pois, eu tinha achado o assunto do mês para reconforto meu e dos meus colegas de publicação.

Matheus Trunk
Agora mágico e ainda redator-chefe da Zingu!




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