Coluna CINEMA Extremo
ONDE O CINEMA PODE SER VIOLENTO...
Por Marcelo Carrard
All Night Long 2
Direção e Roteiro: Katsuya Matsumura
Ooru naito rongu 2: Sanji, Japão, 1995.
Os jogos perversos entre adolescentes, praticados principalmente em escolas, são um fenômeno cultural antigo e que pode ser observado em várias partes do mundo. Recentemente esse fenômeno ficou conhecido como BULLING. Muitos filmes exploraram esse comportamento sombrio e cada vez mais extremo dos jovens contemporâneos. Com maior ou menor intensidade obras perturbadoras como Elefante de Gus Van Sant mostram a fúria das vítimas desses jogos de humilhação e tortura diárias a que são submetidos os jovens que fazem parte de um grupo de possíveis vítimas de seus agressores. O filme de Van Sant ilustra os fatos reais ocorridos em uma Escola de Columbine nos EUA, onde dois garotos promoveram um massacre como “vingança” das chacotas e perseguições de colegas que se julgavam “superiores” a eles.
Esses jogos de Poder que criam relações entre predadores e presas no convívio entre jovens gerou uma série de filmes extremamente polêmicos produzidos no Japão: a Série ALL NIGHT LONG, criada pelo Diretor e Roteirista Katsuya Matsumura. Muitos protestos surgiram após a exibição nos cinemas do primeiro episódio da série. Não satisfeito o diretor lançou em 1995 o segundo episódio: ALL NIGHT LONG 2, que ganhou em alguns países o subtítulo: ATROCITY. Devido ao conteúdo extremo desse segundo filme Matsumura enfrentou uma batalha judicial com grupos de defesa da família e assemelhados e finalmente conseguiu lançar o filme direto em DVD, pois sua exibição em salas de cinema no Japão foi proibida.
Com pouco mais de uma hora de duração, ALL NIGHT LONG 2 consegue proporcionar ao espectador doses cavalares de Cinema Extremo. A trama central gira em torno de um jovem Nerd, magro e com óculos de grau, obcecado por bonecas e computadores, vivendo em seu mundo de timidez e isolamento. Considerado uma figura estranha e patética por uma gangue de jovens locais, sofre uma série de torturas iniciais encenadas com grande realismo. O detalhe que inicia um passeio pelas perversões e questões de gênero, é que o líder da tal gangue é gay. Esse detalhe começa a construir uma leitura inicialmente maniqueísta da trama, onde espectadores mais desavisados parecem acreditar que o Nerd de óculos é a pobre vítima de uma gangue liderada por um “sádico homossexual”. Aos poucos essas relações de gênero irão sofrer reversões nesse teste proposital que o diretor criou para testar os preconceitos do público.
Outro detalhe interessante é a presença de um casal de namoradinhos virginais, amigos de nosso herói Nerd. O surgimento desse casal acentua o falso jogo maniqueísta dos “normais”, dos inocentes vitimizados por um grupo liderado por um jovem cuja orientação sexual remete culturalmente a perversão. Tudo se encaminha para um conjunto inacreditável de seqüências aterradoras encenadas em um apartamento. O jovem Nerd e o casal de namoradinhos são levados a esse local pela gangue de jovens que está com outras garotas aparentemente drogadas. Começa o ritual sádico. De um lado vemos o líder da gangue em uma velada cena de sexo oral forçado com o Nerd. Como brinquedo macabro o líder da gangue usa um mini-lança-chamas que chega a queimar a pele de sua vítima, ao mesmo tempo que vemos imagens de corpos de vítimas da radiação numa alusão a Bomba de Hiroshima. Esse quadro abre uma série de seqüências que incluem golden shower e enforcamento de uma garota em uma banheira, um alucinado garoto “brincando” com uma navalha no rosto de um pobre incauto até o momento da quebra, da ruptura da trama quando as presas se tornam predadores e os “normais” se revelam mais perversos do que seus agressores. Uma observação interessante é a presença de armas que simbolizam a dicotomia tradição/modernidade que tão bem caracteriza o Japão. As personagens usam ao mesmo tempo tacos de baseball e espadas que lembram as usadas por samurais.
Direção e Roteiro: Katsuya Matsumura
Ooru naito rongu 2: Sanji, Japão, 1995.
Os jogos perversos entre adolescentes, praticados principalmente em escolas, são um fenômeno cultural antigo e que pode ser observado em várias partes do mundo. Recentemente esse fenômeno ficou conhecido como BULLING. Muitos filmes exploraram esse comportamento sombrio e cada vez mais extremo dos jovens contemporâneos. Com maior ou menor intensidade obras perturbadoras como Elefante de Gus Van Sant mostram a fúria das vítimas desses jogos de humilhação e tortura diárias a que são submetidos os jovens que fazem parte de um grupo de possíveis vítimas de seus agressores. O filme de Van Sant ilustra os fatos reais ocorridos em uma Escola de Columbine nos EUA, onde dois garotos promoveram um massacre como “vingança” das chacotas e perseguições de colegas que se julgavam “superiores” a eles.
Esses jogos de Poder que criam relações entre predadores e presas no convívio entre jovens gerou uma série de filmes extremamente polêmicos produzidos no Japão: a Série ALL NIGHT LONG, criada pelo Diretor e Roteirista Katsuya Matsumura. Muitos protestos surgiram após a exibição nos cinemas do primeiro episódio da série. Não satisfeito o diretor lançou em 1995 o segundo episódio: ALL NIGHT LONG 2, que ganhou em alguns países o subtítulo: ATROCITY. Devido ao conteúdo extremo desse segundo filme Matsumura enfrentou uma batalha judicial com grupos de defesa da família e assemelhados e finalmente conseguiu lançar o filme direto em DVD, pois sua exibição em salas de cinema no Japão foi proibida.
Com pouco mais de uma hora de duração, ALL NIGHT LONG 2 consegue proporcionar ao espectador doses cavalares de Cinema Extremo. A trama central gira em torno de um jovem Nerd, magro e com óculos de grau, obcecado por bonecas e computadores, vivendo em seu mundo de timidez e isolamento. Considerado uma figura estranha e patética por uma gangue de jovens locais, sofre uma série de torturas iniciais encenadas com grande realismo. O detalhe que inicia um passeio pelas perversões e questões de gênero, é que o líder da tal gangue é gay. Esse detalhe começa a construir uma leitura inicialmente maniqueísta da trama, onde espectadores mais desavisados parecem acreditar que o Nerd de óculos é a pobre vítima de uma gangue liderada por um “sádico homossexual”. Aos poucos essas relações de gênero irão sofrer reversões nesse teste proposital que o diretor criou para testar os preconceitos do público.
Outro detalhe interessante é a presença de um casal de namoradinhos virginais, amigos de nosso herói Nerd. O surgimento desse casal acentua o falso jogo maniqueísta dos “normais”, dos inocentes vitimizados por um grupo liderado por um jovem cuja orientação sexual remete culturalmente a perversão. Tudo se encaminha para um conjunto inacreditável de seqüências aterradoras encenadas em um apartamento. O jovem Nerd e o casal de namoradinhos são levados a esse local pela gangue de jovens que está com outras garotas aparentemente drogadas. Começa o ritual sádico. De um lado vemos o líder da gangue em uma velada cena de sexo oral forçado com o Nerd. Como brinquedo macabro o líder da gangue usa um mini-lança-chamas que chega a queimar a pele de sua vítima, ao mesmo tempo que vemos imagens de corpos de vítimas da radiação numa alusão a Bomba de Hiroshima. Esse quadro abre uma série de seqüências que incluem golden shower e enforcamento de uma garota em uma banheira, um alucinado garoto “brincando” com uma navalha no rosto de um pobre incauto até o momento da quebra, da ruptura da trama quando as presas se tornam predadores e os “normais” se revelam mais perversos do que seus agressores. Uma observação interessante é a presença de armas que simbolizam a dicotomia tradição/modernidade que tão bem caracteriza o Japão. As personagens usam ao mesmo tempo tacos de baseball e espadas que lembram as usadas por samurais.
ALL NIGHT LONG 2 é uma das mais absurdas carneficinas já filmadas até hoje. Os deslimites da violência gráfica encenada com absurdo realismo choca até o mais experiente dos fâs de Cinema Extremo. Matsumura deixa claro que a perversidade, a maldade, estão ocultos na alma humana, independente da orientação sexual de cada um. A excelente trilha-sonora eletrônica de Hirofumi Asamoto, sublinha as imagens inacreditáveis de violência e sexualidade mórbida que surgem a cada momento. Nem o pobre ratinho na gaiola é poupado nesse inesquecível êxtase de horror que até hoje não conseguiu ser superado pelos outros episódios da série. Para quem acha que já viu de tudo em termos de Cinema Extremo e não conhece a série ALL NIGHT LONG, ainda não viu nada...