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Dossiê Edu Janks

NOSSO CINEMA

O que leva uma mulher jovem, bonita, casada, mãe de dois filhos, a procurar violentas fantasias sexuais fora do casamento ? A resposta está no mais novo filme de Jean Garret, Estranho Desejo, interpretado pela sensualíssima Márcia Porto, a linda morena global da novela das seis.

Big Man Internacional viu também, com exclusividade, o mais novo filme de Tony Vieira, Prostitutas pelo Vício, uma aventura policial, no universo da cocaína. De passagem pelos cinemas da cidade, viu Os Trados, que narra, com muita violência, a história de dois raptos; e conversou com Deni Cavalcanti, ator de vários filmes eróticos e realizador de Aluga-se Moças.

Por Edward Janks

SE É MACHO, SENTE

Quem não se lembra de Gretchen, nua em pêlo, mostrando generoso bumbum e aquela xoxota desejada por tantos brasileiros; ou de Rita Cadillac, sem nenhuma roupa, num filme cheio de lances quentíssimos ?

O responsável pelas proezas é Deni Cavalcanti, um paulista de 33 anos, hoje um dos mais conhecidos e conceituados realizadores da Boca do Lixo (SP). O filme é Aluga-se Moças.

Deni Cavalcanti, originariamente cantor da noite, conta que a sua carreira começou há seis anos, quando um dia foi ao escritório do diretor Roberto Mauro, “que olhou pra mim e achou que eu tinha cara de galã de cinema”. Seu primeiro filme foi Será que Ela Agüenta ?, ao lado de Wilza Carla, passo inicial de uma carreira hoje com vários trabalhos como ator, o nascimento de uma empresa muito bem situada- a Madial Filmes- e a passagem para produtor e diretor de seus filmes.

Como foi a sua primeira cena de sexo filmada ? Deni responde, sorrindo: “Um desastre. Era uma cena na cama. Eu olhava para a moça e pedia pra ela: será que dá licença...como é que faz, onde eu posso pegar ?”.

Uma curiosidade muito provável de boa parte do público que curte cinema erótico é saber se, nas cenas de sexo implícito ou explícito, o ator e atriz sentem mesmo a cena, fingem ou realmente vão a luta e gozam. Deni não se faz de rogado ao abordar tal questão:

- Claro que sente, seria anormal se fosse ao contrário- eu encosto numa mulher e não sinto nada. Conversa; se é macho, sente. Não tenha dúvida.

Possuidor de uma filmografia invejável, cerca de vinte filmes, Deni afirma que ainda não realizou nenhum filme com cenas de sexo explícito. Como ator diz que não faria sexo explícito, mas como diretor “encara qualquer barra”. Cenas de homem com homem jamais faria como ator e provavelmente não filmaria como diretor.

- O meu conceito não permitiria. Aceito, até. Filmaria muitas cenas de mulher com mulher, eu acho bonito.

O trabalho dos atores e atrizes que atuam na Boca é visto com certa ironia por algumas pessoas. Deni discorda: “Acho que na pior das hipóteses é um trabalho que se faz e em que se ganha honestamente”.

Mas nem sempre a carreira do ator de filmes eróticos é pontilhada de realizações favoráveis por parte dos espectadores.

- Tem aquele camarada que olha pra minha cara e diz: cara de moleque, de bonzinho e faz umas puta sacanagens.

Tais reações Deni classifica de moralismo, ou mais precisamente de um falso moralismo, porque, explica “no fundo, este cara queria ser você”.

Outros espectadores, por sua vez reagem com admiração.

- Alguns homens me acham um puta de um herói e comentam: pô, este cara com este bando de mulheres...

Sobreviver como diretor e produtor no cinema é uma verdadeira arte. Nesse ponto, Deni apresenta uma carreira de acertos que ele contribui ao seu faro em escolher boas estórias e ao trabalho com uma equipe competente.

Saber comercializar um filme é outro ponto vital. Deni diz que “conhece todos os cinemas do Brasil”. Antes do filme estar censurado ele já está providenciando a sua provável carreira e lhe garantindo o sucesso.

Uma questão fundamental: pornôs brasileiros versus pornôs estrangeiros. Deni se mostra muito tranqüilo em responder os filmes brasileiros tem mais molho. “Eles (o pornô estrangeiro) são uma coisa muito fria, calculista, matemática. A gente tem muito mais jogo de cintura”.

Para finalizar, Deni enumera os filmes que a sua empresa deverá lançar brevemente e revela alguns projetos em andamento.

“Para lançar um filme dirigido pelo John Doo, que é A Cadela da Praia, uma estória que gira em torno de três ou quatro moças e foi filmada em Ubatuba, num cenário maravilhoso. Um filme de José Miziara, Mulher, Sexo e Veneno e um filme de Diogo Angélica, produção minha e do Geraldo Meireles. Não é um filme sertanejo, é um filme de sacanagem mesmo. Estou filmando com o Sérgio Reis, um trabalho intitulado O Filho Adotivo, que será censura livre, e provavelmente faça outro filme com a Gretchen”.

ESTRANHO DESEJO

Estranho Desejo, dirigido por Jean Garret, deverá estrear brevemente nos cinemas de São Paulo. É um ótimo trabalho e provavelmente se constituirá num dos grandes êxitos da próxima temporada.

Um dos muitos méritos do filme é presentear o espectador com o esplendor e a sensualidade da nudez total de Márcia Porto- atriz global da novela das seis- em situações que a televisão jamais terá coragem de mostrar.

Clarisse (Márcia Porto) estaciona seu carro à noite, em uma rua em um bairro afastado. Aparentemente volta para casa, ou vai visitar alguém. Não longe dali, dois indivíduos bem fortes a observam. Desprotegida, ela desce do carro e caminha pela rua. Os dois homens começa a persegui-la, e a alcançam em frente a uma construção abandonada, para onde a levam à força. Clarisse é estuprada de forma violenta.

No dia seguinte, um dos estupradores aparece na casa de André (Renato Kramer), um homossexual que é ator e autor teatral, para receber um cheque como pagamento pelo ato praticado.

Clarisse segue vida normal, cuidando dos filhos, praticando esportes, encontrando amigos. Até que num outro dia, em plena Marginal, fura o pneu do seu carro. Aparecem dois homens que a seqüestram e levam á força para um barco. Clarisse é estuprada novamente.

Ela volta para um outro apartamento, troca de roupa, troca de carro e vai embora para a sua casa. Neste mesmo dia seu marido (Paulo Ramos), numa rara atitude, procura-a para uma relação sexual. Ela aceita sem a menor contestação e sem saber que estava com uma doença venérea, contraída num dos estupros.

Clarisse aparece no apartamento de André e ficamos sabendo que os dois são amigos. E o que é mais surpreendente: é a seu pedido que André contrata e envia homens para estuprá-la. Ela paga para que André produza estas encenações que, na prática, são o fruto de suas fantasias sexuais.

Michel- o marido de Clarisse- descobre que está com gonorréia. Mas, como ele costuma ter relações extraconjugais, nem de longe suspeita que foi a própria mulher que lhe passou a doença venérea. A partir deste momento evita relacionar-se sexualmente com ela.

Por seu lado, Clarisse, tendo também descoberto estar com gonorréia gfinge uma viagem e vai para o apartamento emprestado de uma amiga, para se tratar da doença.

Nestes dias em que fica sozinha, Clarisse é seguida por um desconhecido. Armado de um revolver, o estranho invade o seu quarto e a estupra violentamente.

Furiosa, Clarisse vai procurar André, dizendo que não havia combinado este encontro e acaba descobrindo que foi estuprada pra valer, desta vez o ato não foi encenado.

Apesar de já estar curada, o trauma causado pelo estupro verdadeiro faz Clarisse pensar que foi contaminada novamente. Ele prolonga a sua estada no apartamento para realizar novos exames médicos. Só depois, ao saber que está tudo bem, volta para casa sem enfrentar outros problemas.

Mas um dia, Michel, alertado por uma mancha no pescoço de Clarisse, deixada indevidamente por um dos homens com que ela transou, resolve contratar um detetive particular para segui-la.

Informado do resultado da investigação, Michel não consegue entender como sua mulher está tendo um caso com um homossexual, mas acaba convencendo-se do fato e vai procurá-la para tomar satisfações.

André tenta explicar o mal-entendido e Michel reage com violência, obrigando o homossexual a contar todos os detalhes da história.

Abalado com a verdade, Michel diz para André que gostaria de estuprar sua mulher. Sem saber de nada, Clarisse liga para André e pede que lhe “prepare” uma transa qualquer. André prepara tudo e avisa Michel. No dia e hora marcados, Michel comparece ao encontro, venda os olhos de Clarisse e a estupra.

Quando percebe que é seu marido que está ali, Clarisse deamais. Quando acorda, depara com Michel sentado ao lado de André- que ali acorrera uma tragédia- e sente-se humilhada e indignada com aquela invasão de sua privacidade.

Michel, por sua vez, está calmo e contente por descobrir uma nova faceta de sua mulher. Num diálogo final, os dois concordam que estas fantasias sexuais não seriam necessárias se houvesse um relacionamento mais ativo e um diálogo constante entre o casal.

Marinha Guzman, um dos produtores de Estranho Desejo, comenta que houve extremo cuidado na realização do filme, para que o público recebesse “um trabalho bonito, ao mesmo tempo violento e muito bem interpretado”.

Em sua opinião, Estranho Desejo não pretende ser só um filme da Boca. “Ele é um filme que vai passar na Boca, nos Jardins, na Zona Sul do Rio de Janeiro; porque além de sexo, ele tem conteúdo”.

Concluindo, Marinho afirma que o filme pode criar uma polêmica em âmbito nacional sobre “os direitos do homem e da mulher, do mau relacionamento e do sexo fora do casamento”.

PROSTITUTAS PELO VÍCIO

Tony Vieira é um conhecido realizador do cinema erótico brasileiro, e nesta área ele é provavelmente o diretor que mais procurou variar o tema ação-sexo-violento.

Sua nova incursão Prostitutas pelo Vício é um filme policial que invade o universo da cocaína, mostrando os personagens que os freqüentam, algumas conseqüências do vício e a dificuldade em se acabar com este comercia tão rendoso quanto mortal.

Três homens e três mulheres gostossísimas fazem um bacanal. As mulheres são viciadas; os homens, traficantes de cocaína. Durante o bacanal, não faltam os lances das trepadas, mulher chupando mulher e muita sacanagem. Mas um incidente corta o barato do pessoal: uma moça exagera na dose e acaba morrendo.

Apavorados, os traficantes tem que se livrar do cadáver e para tanto escolhem o barco de Nilo, um salva-vidas- interpretado por Tony Vieira.

Ao descobrir o corpo, Nilo chama a polícia. Mas a sua honestidade não é premiada com muita compreensão por parte dos homens da lei. Afinal de contas fica difícil explicar como aquela moça foi morrer ali no seu barco, aparentemente estrangulada.

Nilo é preso. De posse do laudo médico, a polícia descobre a causa da morte: cocaína no uísque. Nilo é liberado, mas fica sob suspeita.

Acusado por um crime que não cometeu. Nilo perde o emprego e jura vingança. Ajudado pelos motoqueiros e por todas as pessoas da praia que o estimam, ele parte em busca dos assassinos. Faz perguntas nos botecos, boates, strips, locais freqüentados por viciados, através dos quais chega à máfia da cocaína.

Nesta caminhada pelo universo do vício, Nilo testemunha cenas de orgias, strip-teases, shows eróticos e encontra mulheres viciadas que se entregam á toa, por uma dose do pó maldito.

Um dos pontos culminantes desta busca é quando Nilo descobre que o chefão da máfia tem uma filha. Nilo resolve raptá-la e, em troca, pede o assassino que provaria sua inocência. A máfia topa a parada. Nilo devolve a filha do chefão, mas é sacaneado. A máfia lhe entrega o assassino, morto. Claro, morto não fala.

Nilo não perde o pique. Auxiliado por seus amigos e por suas tesudíssimas transas coloridas, chega à cúpula dos contrabandistas. Em cenas de extrema violência, ele é aprisionado pelos quadrilheiros, consegue escapar e, no tiroteio final, acaba levando vantagem. A quadrilha, aparentemente, é destruída.

O desfecho do filme traz uma surpresa. A filha do chefão da máfia, que parece uma vítima das circunstancias, se revela a sucessora de seu pai nos negócios. Nilo não fica sabendo- só o espectador- que ela assume a cadeira do pai e vai dar continuidade à organização.

Tony Vieira diz que a idéia para este filme surgiu quando recentemente leu sobre um caso semelhante, publicado na grande imprensa: “Claro, depois eu floreei”.

Em tese, comenta Tony, o filme pretende mostrar que a cocaína, o vício, não leva a nada, só a destruição.

Com o final inesperado do filme, Tony diz que procurou o tráfico de cocaína de forma realista.

“O objetivo é mostrar que isso é um buraco sem fundo e dificilmente você vai combater e terminar com o mundo da coca”, conclui.

OS TARADOS

O que pode sair errado num filme que tem cenas de orgia, raptos, espancamentos, violência sexual e muitos crimes ?

Os Tarados, filme dirigido por Francisco Cavalcanti, trabalha com todos elementos e decepciona.

O título, à primeira vista, é muito atraente para um filme erótico, traz mil sugestões e cria expectativa de muita sacanagem. O filme, á primeira vista, peca pela forma como aborda violência e como explora as cenas de sexo.

Abusando de uma violência por vezes gratuita, o filme detalha em demasia as cenas de crime, suicídio e atropelamento. Por outro lado, e apesar de todas as sugestões eróticas vividas por seus personagens, o filme se mostra excessivamente tímido ao abordar as cenas de sexo, principalmente sexo grupal, realizado sem nenhuma curtição.

Os Tarados sofre de uma falta de equilíbrio que poderá decepcionar até o espectador menos exigente.

A história de Os Tarados se inicia no ano de 1953. Um menino de sete anos, escondido num armário, vê sua mãe ser espancada, violentada e morta por um homem chamado Ferreira. Diante do cadáver da mãe, o menina segura nas mãos o relógio de pulso do assassina, única prova do crime. Trinta anos depois, agora homem formado, ele prepara sua vingança: raptar a filha do assassino de sua mãe, e dar-lhe o mesmo tratamento.

Ao mesmo tempo em que André espera Miriam, a filha de Ferreira sair da escola, um grupo de tarados rapta Lídia, a filha de um milionário. O rapto é violento. Lídia é mantida prisioneira num hotel do centro de São Paulo, enquanto suas amigas são levas para uma ilha, onde o bando se esconde.

No quarto do hotel, Lídia é vigiada por um negro que não perde tempo. Vendo a moça nua, ensina-lhe a arte de trepar. Lídia resiste, grita que não quer, mas é obrigada a ceder. Humilhada, sem vontade de viver, ela aproveita que o estuprador foi ao banheiro e se atira da janela do hotel, morrendo instantaneamente.

É neste momento que as duas histórias se cruzam. Quando o corpo de Lídia é cercado por curiosos, o carro de André, que acabou de raptar Miriam, está passando pelo local. Ocorre-lhe uma idéia: trocar os documentos da morta pelos de Miriam, para que Ferreira sofra duas vezes com a morte da filha.

Sem saber ainda que Lídia estava morta, os tarados telefonam para sua família e exigem resgate. Ao mesmo tempo, o pai de Miriam, enquanto está transando com uma morena gostossísima, é avisado que sua filha ainda não chegou da escola. Ele pressente uma tragédia, mas não interrompe a trepada.

Muito tranqüilamente, os tarados levam as amigas de Lídia para o seu esconderijo. No meio do caminho, as meninas, que são obrigadas a ficar o tempo todo sem roupa, têm uma idéia tentadora- fingir que estão a fim de transar com os tarados e esperar que assim eles não as matem logo que recebam o dinheiro do resgate. Dito e feito, as moças começam a atrair os tarados, que não se vexam em atender-lhes o desejo e a lancha serve como palco de uma suruba generalizada.

André leva Miriam para seu apartamento. Com algum receio, ela aceita usar o seu chuveiro para uma ducha refrescante. Pela primeira vez seu corpo tesudo é mostrado por inteiro. Ao saber dos motivos do rapto e da vingança, Miriam não acredita que seu pai seja o assassino. Seminua, fica em prantos. André se mostra inflexível quanto à vingança. Nesta mesma noite, Miriam sente uma estranha atração por seu raptor e percebe que está apaixonada. Tira toda a roupa, confessa-lhe o amor e os dois transam de maneira explosiva.

Os pais de Lídia, não sabendo de sua morte, procuram atender o pedido do resgate. O pai de Miriam age por vias menos legais. Pensando que o cadáver da moça que se atirou do hotel seja de sua filha- a troca de documentos funcionou-, contrata um bando de pistoleiros para procurar os culpados. Os pistoleiros agem rapidamente. Seus métodos: violência e tortura.

Na ilha, sem saber que os seus minutos estão contados, os tarados curtem uma transa com as meninas raptadas. Informado da morte de Lídia, assim mesmo o chefe do bando pretende receber o resgate. É acusado e morto pelos pistoleiros contratados por Ferreira. Estes invadem a ilha, atrapalham a festa dos tarados e descobrem o segredo: não era a filha do Ferreira que os tarados tinham raptado, e sim outra moça.

Sem perder de vista seu plano de vingança, André transa com Miriam de todas as maneiras. O amor entre os dois é forte, mas o plano de vingança precisa ser concretizado. Tendo Miriam nua ao seu lado, ele telefona para Ferreira e diz que vai matá-la. Ferreira lhe propõe uma troca: a sua vida pela de sua filha. Aceita a troca, os dois marcam um encontro numa casa velha. Aramado de um rifle e um revólver, André leva Miriam como sua refém. Quando chega o momento fatal, Miriam, que ama muito os dois, não permite que a vingança aconteça. O amor e o perdão triunfam, num final romântico.



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