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RUÍDO
MÚSICA DE VERDADE.

DAVID BOWIE - LOW

Por Raphael Carneiro

No final da década de 70, o mítico David Bowie estava passando por um desgaste emocional terrível. Encontrava-se absurdamente cansado da turnê exaustiva de seu último disco, Station to Station, que ainda por cima não havia sido um sucesso de vendas, estava viciado em cocaína, droga que o deixava física e psicologicamente em frangalhos, além de ser considerado nazista por grande parte de seu público, constando inclusive em uma lista de pessoas potencialmente perigosas para a democracia elaborada pela CIA.

Cansado da vida desregrada que levava em Los Angeles, Bowie optou por procurar refúgio na Europa, escolhendo como local de descanso a pequena Blonay, na Suíça. Era uma pequena cidade, com um rio correndo por perto, o que tranqüilizava o inquieto artista. Dando um tempo de sua vida artística, Bowie aproveitou para pintar e se dedicou a ler a maioria dos livros da biblioteca comunitária. Costumava dizer que queria deixar de ser Bowie e voltar a ser David Jones, seu nome de batismo, e que considerava Bowie um ser “egoísta e indisciplinado”. Durante este período, além de se dedicar a artes mais simples, envolveu-se com ninguém menos que Oona Chaplin, então esposa do lendário Charles Chaplin, e que era 22 anos mais velha que Bowie, na época com 29 anos. Embora apostassem que Bowie a pediria em casamento, tal fato nunca ocorreu.

Em junho de 1976, Bowie passa a produzir em Paris, o primeiro disco de Iggy Pop, The Idiot, ao mesmo tempo que viajava para Munique e principalmente Berlin, envolvido em um projeto secreto. Em setembro do mesmo ano, muda-se para Berlin, fato que viria a aumentar os boatos a respeito de sua obsessão pela Alemanha Hitlerista. Seu maior problema no momento, era o cada vez mais assustador consumo e vício em cocaína, que era consumida de maneira cada vez mais exagerada, embora Bowie tentasse esconder das poucas pessoas que faziam parte do seu convívio pessoal.

Uma semana após comemorar seu trigésimo aniversário, mais precisamente em janeiro de 1977, a obra de arte Low foi lançada, causando escândalo. Bowie havia adotado um perfil de discrição, contestando o rock star que todos esperavam. Além disso tudo, das 11 canções do disco, 6 eram completamente instrumentais, e a gravadora não conseguia enxergar naquele disco enigmático nenhuma canção de trabalho que pudesse ser lançada em formato de single.

A crítica renegou o trabalho, pedindo a volta do Bowie de antes, e desprezavam o fato de um artista do calibre dele, tipicamente vanguardista, não estar antenado com o movimento punk que balançava estruturas em Londres naquele momento. Tony Viscont, co-produtor do disco junto com o próprio Bowie diz: “ David passava por um período de grande depressão. A gravação de The Idiot, em Paris foi um caos e quase um milagre ter sido finalizada, pois ele estava absolutamente sem condições psicológicas e Low acabou sendo uma continuação do processo”.

O disco porém, talvez seja um dos mais (senão O mais) influente da carreira de Bowie. Trata-se de um disco que usa amplamente a música eletrônica, sem ser chato porém. O Lado A do vinil, cujo grande destaque é “Speed of Sound”, é extremamente pop e dançante. Já o Lado B, que tem como destaque a bela “Warsawa” (que entre outras coisas influenciou de forma marcante o grande Ian Curtis da maravilhosa Joy Division), é mais experimental.

Resumindo, o disco é uma obra de arte obrigatória para quem se diz fã do Bowie, ou do gênero Rock em si. Sublime e vanguardista. Biscoito fino para paladares sofisticados.



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