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Zingu!NEWS

Por Matheus Trunk

FRASE PHODA
Mulher e livro, emprestou, volta estragado
Stanislaw Ponte Preta

MOMENTO PHODA
- Homem só serve pra isso: pra gente trepar !
De Maria Lúcia Dahl, ex-mulher do atual presidente da ANCINE, a Alba Valéria.
Cena do clássico “Giselle” de Victor di Mello

CONTRACAPA DE LP
No ano da graça de 1969, o homem conquista a lua. A técnica e a ciência caminham a passos gigantescos na busca de um mundo novo. Até as artes procuram novas formas. A própria música encontra na eletrônica novos sons e harmonias. Tudo isso retrata o mundo atual. A correria, a sofreguidão que nos impõe a vida que vivemos. Mas o coração e a sensibilidade são os mesmos de sempre. A lua conquistada, é a mesma que inspirou essas canções de dezenas de anos atrás. Quando no dia 1º de outubro, em companhia de Canhoto, Dino, Meira e Carlos Poyares terminamos este Vol IV, comentamos e concordamos todos, que a seresta continua viva. Estará sempre viva, porque a beleza, a autenticidade e a qualidade, são eternas. Vejo em meus shows, que pessoas de todas as idades, pelo Brasil inteiro, aplaudem e vibram com as canções de seresta. Por isto estamos entregando a vocês este Vol. IV.

Aqui estão mais 12 canções da “primeira linha” do gênero. Tenho certeza que este disco terá a melhor receptividade dos 3 anteriores. Procurei dar o melhor de mim mesmo, e tive a companhia certa do Canhoto e seu regional que tem valorizado esta série.

A eles e a vocês o meu melhor
Muito obrigado,
Carlos José.

Cavaquinho, Canhoto; Violão de 7 cordas, Dino; Violão, Meira e Flauta, Carlos Poyares.
Contracapa do LP “Uma Noite de Seresta-vol 4” de Carlos José, lançado pela CBS em 1969.

LOBAS, DEUSAS E NINFETAS
Autor: Thiago de Góes
Editora: Banco do Nordeste

Prozador consagrado, o jornalista e escritor Thiago de Góes teve um brilhante talento ao assinar o livro “Contos Bregas”. Nesse primeiro trabalho, ele escreveu histórias baseadas em grandes sucessos populares dos anos de cantores como Amado Batista, Odair José, Waldik Soriano, entre outros.



Já neste segundo e mais recente livro (“Lobas, Deusas e Ninfetas”), Góes fez histórias baseadas em canções de cantoras como Diana, Maria Bethânia, Roberta Miranda, Joanna, entre outras. O sucesso foi tanto, que a cantora Kátia, assinou o prefácio. Sobre o trabalho, declarou Paulo César de Araújo, autor de “Eu Não Sou Cachorro Não- Música Popular Cafona e Ditadura Militar”: “É mais um trabalho que, com certeza, vai contribuir para a inclusão da chamada música brega no panorama mais alto da cultura brasileira”.


Nesta entrevista exclusiva a Zingu!, Thiago contou um pouco de seu trabalho e também do seu mais recente lançamento que pode ser achado em livrarias de todo Brasil por um preço accessível.

Z- De onde veio a idéia mesmo do trabalho anterior, de fazer músicas baseadas em canções principalmente bregas?

TG- Aos poucos, fui percebendo que a música brega contém fortíssimo conteúdo narrativo. São canções que, por si só, "contam uma história", indo muito além do sentimento. Aliás, a emoção aparece materializada na canção narrativa, como se apenas pudesse ser expressa por meio de uma história.

E a música brega consegue transmitir este sentimento, por meio de uma narrativa profundamente sintética e, ao mesmo tempo, reveladora. Simples e curtos bordões bregas, como "Eu vou tirar você deste lugar" ou "Eu não sou cachorro, não" são frases que carregam inúmeras complexidades implícitas.

O que fiz foi apenas destrinchar estas complexidades, transformando essa trama sintética da canção em estranhas histórias de amor. Encarei a canção como um resumo, um mote, uma partida, uma inspiração riquíssima para meus contos.

O primeiro conto, Garçom, surgiu do desafio de Reginaldo Rossi, que nos shows afirma que o ouvinte não sabe o que havia na carta na qual uma mulher informa de seu casamento ao ex-namorado. Então eu decidi escrever esta carta dentro de uma narrativa. A idéia dos Contos Bregas foi tanto uma homenagem à verdadeira música popular brasileira, quanto uma experiência literária na qual pude abstrair conteúdo da rica relação entre música e literatura, e também um grito contra a ditadura dos padrões estéticos.

Z- De onde veio a idéia fazer este livro?

TG- O livro "Lobas, Deusas e Ninfetas" foi uma conseqüência dos Contos Bregas. Quando vi que quase todos os contos bregas haviam sido inspirados por canções interpretadas por cantores homens, percebi a injustiça que havia cometido com as cantoras.

É como disse na apresentação do meu livro: "as mulheres, quando sofrem, o fazem com muito mais poesia". O brega feminino tem um viés diferente do masculino, mas é igualmente revelador, ou mesmo mais. São canções emotivas, porém mais refinadas, embora tão bregas quanto.

Z- Como surgiram as idéias pros contos? Você pegava um título de uma música e fazia a história?

TG- A maioria dos contos surgia, não do título da canção, mas principalmente do refrão, ou mesmo de uma passagem mais forte. Algumas canções, porém, coincidem o refrão e o título.

As canções foram o mote para os contos. Alguns deles seguem fielmente a trama narrativa das músicas. Outros, porém, foram descontextualizados dos refrões, e aproveitados numa outra realidade. Foi o caso de "Eu não sou cachorro, não", que virou não somente uma história de amor desiludido, mas um conto de metamorfose. A interpretação ao pé da letra destes refrões metafóricos também rendeu histórias interessantíssimas.

Umas duas histórias foram escritas antes da idéia dos Contos Bregas, portanto não foram inspiradas em nenhuma música. Mas, neste caso, eu não tive dificuldades em encaixá-las depois numa canção, o que prova a diversidade de conteúdo da música brega. Isto aconteceu com "A volta do boêmio", inicialmente intitulada de Sinal Vermelho.

Sobre o processo narrativo em si, eu sempre deixo um espaço para o previsível e também para o imprevisível. Ou seja, já começo a escrever com uma parte apenas da trama na cabeça. Geralmente, o final fica pra depois. Muitas vezes, eu paro para pensar na metade, e no dia seguinte escrevo o final.

Z- Você tentou ver as coisas de um modo feminino pra poder fazer o livro?

TG- Como se tratam de histórias inspiradas por canções femininas, naturalmente o universo das mulheres foi bem representado. A grande quantidade de protagonistas femininos foi uma conseqüência natural da decisão inicial de inspirar-me nos versos das cantoras.

Mas não encarei isto como uma camisa-de-força. O conto "O amor e o poder", por exemplo, tem como personagem principal um homem, muito embora a canção de Rosana mostre a história de uma mulher. Eu achei que, neste caso particular, a inversão para a visão masculina, poderia enriquecer a história.

Z- Qual a diferença fundamental do seu primeiro livro pra este?

TG- A proposta é basicamente a mesma: usar a música como mote para a literatura. Mas eu considero "Lobas, Deusas e Ninfetas" um pouco mais denso. Acho que a experiência anterior me deixou mais à vontade e mais amadurecido. Além disto, o viés feminino é realmente um diferencial do Lobas em relação aos Contos Bregas.

Z- Como surgiu o convite da cantora Kátia fazer o prefácio?

TG- Eu considero a canção Lembranças, interpretada por Kátia, uma das músicas mais lindas que já ouvi. Acho esta canção, como também sua intérprete, muito bem sintonizadas com o espírito do Lobas. Inclusive, dentre as palavras-chaves buscadas no Google e que rendem acessos ao meu blog Contos Bregas, a campeã é Kátia. Se, por alguma razão, os internautas procuram por Kátia no meu blog, e se ela tem tudo a ver com meu livro, nada mais certo que ela escrevesse o prefácio.

Então liguei para a produção do Programa Rei Majestade e pedi o telefone da empresária dela. Mandei os contos por e-mail e Kátia escreveu um belíssimo prefácio para o Lobas, Deusas e Ninfetas, assim como Falcão também fizera para os Contos Bregas.
Z- Tem algum conto preferido seu?

TG- Difícil dizer. Acho, porém, que eu tenho uma certa preferência para os contos sobrenaturais, ou ainda para aqueles que possuem final inesperado. "O amor e o poder" foi um conto que gostei muito, pois utilizei a forma "vós", que tem de belo o que tem de raro. Mas não posso dizer que há um conto especificamente do qual gostei mais.

Z- De onde surgiu o interessante nome do livro ("Lobas, Deusas e Ninfetas)?

TG- Cada um dos três elementos do título remete a um dos contos do livro. Lobas (A Loba, de Alcione), Deusas (O amor e o poder, de Rosana) e Ninfetas (Rebelde, de Lílian). Esses três contos resumem um pouco da alma feminina dos dias atuais.

Z- Você já tem algum projeto futuro?

TG- Eu quero escrever um romance sobre viagem no tempo. Este é meu grande projeto literário, mas ainda não me considero maduro o suficiente para enfrentar este desafio. Não só pela complexidade do gênero romance, mas também do tema das viagens no tempo.

Sessão dupla Eduardo Aguilar
O nosso colaborador e amigo Eduardo Aguilar convida a todos para conferir dois curtas seus, às 23h, dia 19/06, no Cinesesc-SP.



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