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Dossiê Rubem Biáfora

O Quarto
Direção: Rubem Biáfora
Brasil, 1968.

Por Matheus Trunk

Um dos grandes filmes feitos no Brasil, “O Quarto” permanece um filme intocado e praticamente não falado. Sorte que parece que este ano numa mostra como o Filme Fashion Brasil, uma obra de dimensão como esta voltará aos nossos cinemas de alguma forma.

Realmente 1968 foi um grande ano para o cinema brasileiro. Foram lançados nesse ano, 60 filmes brasileiros. Entre eles estavam “O Bandido da Luz Vermelha” de Rogério Sganzerla, “As Amorosas” de Walter Hugo Khouri e mesmo José Mojica Marins com “O Estranho Mundo do Zé do Caixão”.

Também foi nesse ano, que o crítico paulistano Rubem Biáfora se aventurou mais uma vez na direção. O tema, tratado bem ao estilo khouriano (e paulista) é a solidão de um homem.

Funcionário público, solitário, solteiro e de cerca de quarenta anos, que tem uma vida particularmente comum. Trabalha diariamente, se aventura com algumas prostitutas e de vez em quando ainda visita a irmã que mora num subúrbio.

Mas nada parece motivá-lo a viver. O personagem principal, feito com maestria por Sérgio Hingst (considerado por Biáfora o maior ator brasileiro de todos os tempos), está perdido e sem qualquer motivação para a vida. Mas de repente, ele conhece um novo amor, que parece devolver toda a crença na vida. Ele então, falta diversas vezes ao trabalho, por causa do novo amor.

A moça por quem o protagonista está apaixonado é uma grã-fina, e como Eduardo Aguilar bem definiu, Hingst não passa de um “fudido”. Mesmo assim, ele se ilude e passa a amar a nova namorada. Mal ele sabe que tudo passava apenas de um romance, ou como a amante lhe explicará mais tarde: “Eu queria beber pinga e você champagne”.

Para a interpretação do ator ser mais marcante, Biáfora fez Sergio assistir diversas vezes o clássico No Nosso Alegre Caminho da Vida de King Vidor, em que o garçon praticamente bate o copo com água sobre o balcão. O diretor queria que seu possível alter-ego fosse tratado de maneira desprezível e que o garçon colocasse realmente aos trancos, um prato sobre o balcão.

Não se sabe se alter ego ou não, o resultado é que “O Quarto” é um filmaço, que prende o espectador desde o primeiro momento. Em matéria de técnicos, o realizador não economizou: o fotógrafo é Rodolfo Icsey, que veio da Vera Cruz e fotografou todos os primeiros filmes de Khouri, incluindo “Noite Vazia” e a montagem é do professor Máximo Barro.

A crítica foi favorável, e Hingst ganhou dois prêmios pelo papel na fita. A grande pena é que o crítico-realizador só voltaria a dirigir mais um único filme, apenas seis anos depois desse.



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