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Musas Eternas...
PORQUE O QUE É BOM, É ETERNO...

Lucélia Santos

Por Matheus Trunk

Mundialmente conhecida, Lucélia Santos marcou época pela sua beleza e pela sua vitoriosa carreira na televisão, no teatro e cinema. Nesse meio, sua grande marca foram as adaptações da obra do dramaturgo Nelson Rodrigues, que a caracterizaram como uma musa rodrigueana, misto de fragilidade com um lado demoníaco.

Natural de Santo André- SP, Maria Lucélia dos Santos nasceu em 20 de maio de 1957, iniciando-se no teatro bastante jovem, fazendo curso com Eugênio Kusnet. Teve elogiada atuação na peça “Transe aos 18”, onde atuou ao lado de Milton Moraes.

O papel no teatro é tão marcante que ela é chamada para fazer o papel de protagonista da novela Escrava Isaura da Rede Globo, com apenas dezenove anos. O chamado, feito por Herval Rossano e Gilberto Braga dá tão certo que a novela é um gigantesco êxito não somente no Brasil mas em todos os 130 países em que a trama foi exibida. A partir daí, não só os brasileiros, mas pessoas do mundo todo conheceram aquela linda baixinha paulista, que aos poucos se tornou a “namoradinha do Brasil”. A musa viajou a diversos países onde a novela foi exibida, entre eles Cuba onde foi recebida pelo ditador Fidel Castro, seu fã confesso.

Por sua interpretação em Escrava Isaura, Lucélia ganhou na China em 1985 o prêmio mais importante de sua carreira: o “Águia de Ouro” como atriz do ano. Foi a primeira estrangeira a receber o prêmio, de grande importância no país, eleita através de uma revista local com mais de 800 milhões de votos. Consagrada na telenovela brasileira, a musa logo partiu para o cinema.

Sua estréia foi em 1977 num episódio da pornochanchada “Já Não Se Faz Amor Como Antigamente”, assinado por Anselmo Duarte. Em seguida, trabalhou com o tarimbado Antônio Calmon no elogiado “Paranóia”. Se acostumando a todos os gêneros, excursionou na comédia urbana em “Ibrahim do Subúrbio”, como a filha de José Lewgoy. Embora a atuação do veterano ator seja maior que a dela, Lucélia consegue também mostrar toda sua desenvoltura e graça.

Isso seria somente o começo da brilhante carreira cinematográfica de Lucélia. A partir de seus vinte e quatro anos, em 1981 ela ganharia outra projeção na telinha ao fazer no mesmo ano três filmes baseados na obra de Nelson Rodrigues.

Em “Engraçadinha”, a atriz faz a personagem-título numa direção modesta de Haroldo Marinho Barbosa. O filme vale mais pelas interpretações de José Lewgoy e Wilson Grey, que pela película em si. Mesmo assim, a atriz conseguiu brilhar e ganhar o prêmio de melhor atriz no Festival de Brasília daquele ano. Ela irá se consagrar mesmo nos dois filmes seguintes de Braz Chediak, com que fez uma grande parceria.

A atuação em “Bonitinha, Mas Ordinária” é extraordinária, sendo talvez o maior papel na carreira da musa como doentia Maria Cecília. Edgar (José Wilker), é um jovem contínuo que recebe de seu chefe, doutor Werneck (Carlos Kroeber) a proposta de se casar com a filha dele e herdeira, Maria Cecília de 17 anos. Pelo dinheiro, o rapaz acaba aceitando apesar de amar mesmo sua vizinha Ritinha (Vera Fischer). A proposta não é a toa: Cecília sofreu um estupro. A trama rodrigueana é concebida com todo capricho por um realizador talentoso como Braz Chediak.

A interpretação da musa é feita de forma definitiva, dando grande força ao personagem que foi muito elogiada na época. A cena da curra causou polêmica e rebeldia. Rompendo com a figura antes estabelecida, de “namoradinha do Brasil”, a musa também exibiu sua nudez sem qualquer tipo de preconceito estético.

“A atuação dela em Bonitinha não foi fácil. Na seqüência da curra não tinha como evitar uma certa violência, os figurantes erravam muito. Repetiam dezenas de vezes cada plano e ela tinha de trocar de roupa, refazer o cabelo e toda a maquiagem, já que a cena se passava sob a chuva”, definiu o diretor Braz Chediak em sua biografia “Fragmentos de Uma Vida”, ressaltando a grandeza e o profissionalismo da atriz. A parceria com Chediak voltaria em “Álbum de Família”, baseado novamente em Nelson Rodrigues e de grande repercussão. Na mesma época, ela ainda participa da minissérie Meu Destino É Pecar, também baseada no dramaturgo carioca.

Outro trabalho no cinema que chamou a atenção foi da crítica foi “Luz del Fuego”, feito em 1982. A fita do cinemanovista David Neves, contava a vida da ex-vedete que causou grande escândalo em sua época por ter sido defensora do nudismo. Mesmo não sendo uma realização memorável, a presença de Lucélia permeia toda a película dando vida a personagem. Por esta interpretação, ela recebeu o Kikito de melhor atriz no festival de Gramado.

Em “As Sete Vampiras” e “Kuarup” faz um papéis secundário. Mas é protagonista em sua segunda parceria com Haroldo Marinho Barbosa em “Baixo Gávea” (1986), fazendo uma jovem atriz que tenta montar uma peça junto com a amiga (Louise Cardoso).

Está presente também no drama intimista “Fonte da Saudade” de Marco Altberg, onde faz três personagens. Talvez seu último grande papel no cinema seja em “Vagas Para Moças de Fino Trato” (1992) de Paulo Thiago. Feito num momento de crise do cinema brasileiro, “Vagas” é um trabalho no máximo razoável da musa ter recebido prêmio de melhor atriz no festival de Brasília. O prêmio foi dividido com Norma Benguell e Maria Zilda Bethlen, que também são protagonistas no filme.

Militante política nos anos 80, Lucélia fez campanha para partidos de esquerda e dublou os documentários “Terra Para Rose” e “O Sonho de Rose”. Esse contato com a parte documental, a transforma em documentarista assinando em 1996 “O Ponto de Mutação- China Hoje” e o premiado “Timor Lorosae- O Massacre Que o Mundo Não Viu”, sobre a questão do Timor Leste.

Após o êxito de Escrava Isaura, Lucélia foi protagonista em diversas novelas globais. Em Locomotivas (1977), fez par romântico com o português Tony Correia. Já na homenagem a chanchada (Feijão Maravilha), foi a vez de Stephan Nercessian ser o par da moça.

Papéis semelhantes ela viveu em inúmeras novelas da Globo durante toda a metade dos anos 80 (Água Viva, “Guerra dos Sexos”, Vereda Tropical e Sinhá Moça). Esta última foi sua segunda novela histórica, feita bem ao estilo de Escrava Isaura, e com êxito semelhante, sendo exibida em 63 países.

Lucélia teve rápidas passagens pela Manchete e SBT, sendo a personagem principal de produções das duas emissoras. Após sumir da telinha durante um tempo, retornou na novela global Malhação. Pouco tempo depois, foi contratada a peso de ouro pela Record, para Cidadão Brasileiro (2006).

Porém, ela abraçou agora o novo projeto da Rede TV!, de realizar “Desesperate Housewives” brasileiro ao lado de Sônia Braga, Franciely Freduzeski, Isadora Ribeiro, Viétia Zangrandi e Teresa Seiblitz sob a direção de Bruno Barreto. Lucélia foi casada com o maestro John Neschling, com quem teve um filho, Pedro Neschling, também ator.

Com mais de três décadas de realizações, Lucélia Santos é uma atriz, musa e mulher vencedora sempre presente em nossos palcos, telas e telinhas. Requerida sempre em novelas e teatro, esperamos que ela volte mais vezes ao cinema onde já demonstrou diversas vezes seu talento e formosura.

FILMOGRAFIA
1976- Já Não Se Faz Amor Como Antigamente, episódio de Anselmo Duarte
1976- Paranóia de Antônio Calmon
1976- O Ibrahim do Subúrbio, episódio de Cecil Thiré
1977- Um Brasileiro Chamado Rosaflor de Geraldo Miranda
1981- Bonitinha, Mas Ordinária de Braz Chediak
1981- Engraçadinha de Haroldo Marinho Barbosa
1981- Álbum de Família de Braz Chediak
1982- O Sonho Não Acabou de Sérgio Rezende
1982- Luz del Fuego de David Neves
1986- As Sete Vampiras de Ivan Cardoso
1986- Baixo Gávea de Haroldo Marinho Barbosa
1987- Fonte da Saudade de Marco Altberg
1989- Kuarup de Ruy Guerra
1992- Vagas Para Moças de Fino Trato de Paulo Thiago




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