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SUBGÊNEROS OBSCUROS...

VINGADORAS VIOLENTADAS

Por Marcelo Carrard

É como eu sempre costumo dizer: Quando as garotas resolvem se vingar, na maioria das vezes dos meninos malvados, as coisas são muito mais interessantes. Nós garotos costumamos ser óbvios ao resolver nossas diferenças. Muitas vezes partimos para a porrada, para o bate boca e baixarias em geral. As meninas, pelo contrário, depuram a sua vingança, arquitetando planos muitas vezes mirabolantes como uma aranha tecendo sua teia envolvente regada a muita sutileza e intuição. Claro que existem vinganças e vinganças. No caso das mulheres que sofrem abusos violentos dos homens, as conseqüências fogem do controle, mas mesmo assim, com muita personalidade. O Cinema já contou várias histórias sobre mulheres muitas vezes inofensivas e inocentes que após serem violentadas partem para cima dos covardões escrotos com armas de diversos tipos, como uma destruidora e incontrolável força da natureza. São as Super Poderosas Vingadoras Violentadas...

Esse interessante subgênero possui exemplares clássicos, em sua maioria vindos de produções marginais, de baixo orçamento. Mas existem suas exceções. Para surpresa de muitos, diretores famosos e admirados pela crítica e pelo público mais intelectualizado, já dirigiram um filme sobre uma heroína feminina que após ser estuprada parte para sua vingança contra seus estupradores. Um desses diretores altamente sofisticados com um passado pouco conhecido é o canadense Denys Arcand, sim esse mesmo de Jesus de Montreal e de As Invasões Bárbaras. Em 1975 ele dirigiu Gina aka STONE COLD REVENGE. A atriz Céline Lomez interpreta a tal Gina do título original do filme, uma stripper que é violentada por um bando de caipiras em um quarto de hotel de uma cidadezinha onde ela está de passagem. Para os puristas fãs do diretor GINA é um equívoco feito por um cineasta na época ainda jovem e irresponsável, para os que tem um olhar menos preconceituoso, o filme tem grandes qualidades dramáticas e elementos bem trabalhados do Thriller, sendo até hoje um obscuro exemplar dos filmes de Vingadoras Violentadas.

Aproveitando que estamos por enquanto na década de 70, iniciamos essa nossa breve observação sobre esse conjunto de filmes muito especiais com o maior clássico desse obscuro subgênero: a produção sueca de BO VIBENIUS: THRILLER-A CRUEL PICTURE.. A maneira como a história é construída tem muitas irregularidades, mas em sua primeira parte o filme tem uma grande força ao mostrar a trajetória da protagonista e as conseqüências da “profanação” de seu corpo, de sua total perda da inocência. Tudo se inicia com uma subversão dos elementos da fábula ao mostrar a protagonista ainda criança, sofrendo abuso sexual de um velho no meio de um bosque. A maneira como esse abuso é sugerido não deixa de ser perturbador e a trilha sonora possui nesse momento uma importante função onde o absurdo se mistura a uma espécie de delírio. A menina Frigga (também chamada de Madeleine), cresce muda, quieta em meio ao bosque e a companhia da família e se transforma na belíssima Christina Lindberg que logo chama a atenção de todos, principalmente de um cafetão escroto que irá estupra-la, drogá-la, aprisioná-la e de quebra ainda a obriga a se prostituir. Mais uma vez a protagonista é abusada pelos homens, explorada por eles. Com sua vida destruída, Frigga ainda tem um dos olhos vazados por seu carcereiro/cafetão, em uma antológica seqüência. Quando ela surge com um tapa-olho, se configura o início de seu renascimento como Vingadora. O filme tem cenas de sexo explícito inseridas em meio ás transas dela com os clientes, mas Christina não encenou nenhuma delas, são basicamente close-ups de penetrações de vários tipos. Essa construção da figura da vingadora com o tapa-olho é o ponto forte do filme. As seqüências da vingança em si são extremamente toscas mas no final o inevitável confronto com o cafetão, com o homem que destruiu sua vida, encerra o filme em grande estilo. Fonte óbvia de inspiração para Kill Bill de Tarantino, THRILLER-A CRUEL PICTURE fez com que o Mestre NORIFUMI SUZUKI descobrisse a bela Christina Lindberg e a colocasse em tórridas cenas de lesbianismo no seu fabuloso SEX AND FURY de 1973.

Em 1978, surgiu nos EUA uma obscura produção que posteriormente ficaria famosa por seus problemas com a censura, exagerados na minha opinião, onde novamente temos em cena uma Vingadora, renascida dos infernos de um estupro. O filme: I SPÌT ON YOUR GRAVE aka THE DAY OF THE WOMEN, dirigido por MEIR ZARCHI, tem como protagonista uma cerebral e sofisticada mulher vinda da região de Nova Iorque que em uma estadia no campo, em meio a uma natureza mais selvagem e desconhecida para ela, acaba sendo estuprada por um bando de caipiras escrotos. Ao renascer desse ato de violência, como em um transe, um delírio, acaba colocando em prática um plano de vingança contra cada um de seus estupradores. A sangrenta seqüência da banheira é um dos pontos altos desse diabólico plano de vingança. Todas as leituras possíveis sobre os desdobramentos do freudiano “Trauma da Castração”, das “Mulheres Fálicas” entre outros elementos psicanalíticos, podem ser amplamente observados não só nesse como em todos os filmes a serem comentados nesse artigo.

Em 2001, uma produção independente norte-americana dirigida por ERIC STANCE, faz um remake extremo de I SPIT ON YOUR GRAVE intitulado I SPIT ON YOUR CORPSE AND I PISS ON YOUR GRAVE. Dessa vez a vingança da figura feminina ganha ares mais doentios onde são protagonizadas seqüências grotescas de tortura e humilhação com direito a coprofagia. Essa revisão de um obscuro clássico norte-americano nos remete a outra produção de um genial e marginal cineasta: nosso amado ABEL FERRARA.Mais extremo e perturbador que sua primeira Obra-Prima: O ASSASSINO DA FURADEIRA, fomos brindados no início da década de 80 com o fabuloso Ms 45. A Vingadora dessa vez é uma pobre jovem muda que em um mesmo dia sofre dois estupros absurdos, o primeiro de um freak mascarado em um beco. A jovem muda em questão se chama Thana, interpretada pela interessantíssima ZOE LUND. Ao sofrer o segundo estupro, dentro de sua casa, ela mata e esquarteja o seu agressor. Enquanto vai se livrando das partes do corpo esquartejado, se transforma em uma justiceira feminista, matando homens violentos e empunhando uma fálica pistola automática. Esse filme teve problemas também com a censura e sofreu muitos cortes. A cópia lançada em VHS no Brasil é praticamente completa e volta e meia uma versão com cortes passa na televisão. O interessante é o momento do filme onde Thana surge em cena vestida de freira e enlouquece no meio de uma festa, simplesmente genial.

Na Ásia, mais precisamente no Japão, observamos uma série de produções muito originais, onde a subversão do papel submisso da mulher na cultura oriental, sofre uma ruptura transgressora. Conhecido por lá com o nome de WWG-Women With Guns, esse subgênero tem títulos muito expressivos artisticamente. Inicialmente observamos um conjunto de vingadoras sanguinárias nas produções da TOEI, em filmes de diretores como o já citado Norifumi Suzuki. Seguindo essa brilhante tradição temos a série ZERO WOMAN, com suas histórias de ultra violência onde as protagonistas femininas são heroínas muitas vezes violentadas e que além de se vingar dos próprios estupradores ainda detonam com chefões do crime, exterminando quadrilhas inteiras. O extremo grau de violência de muitos episódios dessa série encontra um interessante contraponto em dois filmes do genial Takashi Ishii: BLACK ANGEL VOL 1 e BLACK ANGEL VOL 2. Sim, temos aí mais uma referência de Kill Bill em uma das fontes de inspiração do diretor para colocar como subtítulo de sua dobradinha de filmes sobre uma Noiva Vingadora Violentada onde ele também usa VOL 1 e VOL 2. Em Black Angel tudo gira em torno do tema da vingança e o estupro surge como mais um dos muitos motivos de nossa bela heroína surgir com sua pistola carregada, exterminando seus inimigos. Existe todo um requinte visual apurado nesses dois filmes de Ishii, com direito a uma atmosfera de sensualidade e fetiche em torno das protagonistas femininas.

Ishii retoma o tema da vingança ligado ao estupro em FREEZE-ME, onde a inocente protagonista Chihiro, interpretada por HARUMI INOUE, é violentada covardemente por três agressores. Como ocorre em muitos casos, ela se cala e não denuncia os estupradores. Tempos depois ela está vivendo em Tóquio e planeja se casar. Porém o passado bate literalmente na sua porta e os antigos agressores estão de volta. Para alguns críticos esse filme de Ishii lembra muito o clássico de Roman Polanski: REPULSA AO SEXO. Claro que agora Chihiro está pronta para recebe-los e para isso compra um conjunto de Freezers.... Dá para imaginar quais são os planos dela com relação ao trio e onde eles vão parar... Literalmente, no caso de Chihiro: A VINGANÇA É UM PRATO QUE SE COME FRIO...




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