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Coluna CINEMA Extremo
ONDE O CINEMA PODE SER VIOLENTO...
Por Marcelo Carrard

Papaya dei Caraibi
Direção: Joe D’Amato
Itália, 1978.

No final da década de 70 e início dos anos 80, Joe D’Amato dirigiu uma série de produções com locações no Caribe, mais precisamente na Republica Dominicana. Esse conjunto de filmes é conhecido como a “Fase Caribenha” de Joe D’Amato, onde o erotismo aparece como o mais intenso elemento estrutural de obras antológicas como Notte Erotiche dei Morti Vivi aka Erotic Nights of the Living Dead, Orgasmo Nero e Porno Holocaust. Uma delas porém chama atenção pelo roteiro bizarro e pelo conjunto de grandes momentos que espectadores mais interessados nas cenas de sexo e gore não prestam muita atenção em uma primeira revisão do filme.

Na abertura, em seus primeiros minutos de duração já vemos uma seqüência absurda que mescla erotismo e horror com a sabedoria que só o Mestre D’Amato sabia fazer. Vemos em cena, dentro de uma choupana, a bela protagonista do filme, que atende pelo nome de Papaya. Interpretada pela morena Melissa Chimenti, que nos créditos iniciais aparece apenas com o nome de Melissa. Ela está iniciando uma transa com um pobre incauto estrangeiro, mostrando para ele todas as delícias daquele paraíso tropical. Para incrementar o Blow Job ela passa nos genitais do homem pedaços de mamão papaia, assim tipo para uma degustação mais prazerosa. Só que o pobre coitado, no auge do babado todo solta um aterrador grito e vemos que a bela morenaça Papaya, arrancou os genitais do pobre coitado. Em seguida ela sai da cabana que é incendiada por capangas amigos dela. Esses são, tipo, os primeiros 2 minutos do filme, imaginem o que virá depois. Temos aí uma lição meninos: cuidado com essas brincadeiras com cremes, chocolates e assemelhados na hora do Blow Job, nunca se sabe o que pode acontecer...

Em meio a paisagem tropical da ilha surge um casal de estrangeiros: Sara e Vincent, interpretados respectivamente por: Sirpa Lane e Maurice Poli. Eles estão ligados a uma companhia que deseja explorar o lugar com fins meio anti-ecológicos, numa antecipação da trama de Porno Holocaust. Obviamente eles conhecem Papaya e começa a rolar um triângulo amoroso/erótico bem interessante entre eles. D’Amato foi esperto ao escalar como suas duas protagonistas femininas uma morena: Melissa/Papaya e uma loira: Sirpa/Sara. Nas cenas de lesbianismo que obviamente vão ocorrer entre elas é criado um efeito muito interessante entre os corpos da morena e da loira, principalmente nas tórridas sequências de “colação de velcro” na praia entre as palmeiras que ainda contam com a participação de um nativo negão que mostra para Sara alguns “pratos típicos” da região.

Um dos momentos de maior importância do filme é o Ritual de Vodu que é encenado de maneira muito bizarra. D’Amato havia alardeado para a imprensa que iria filmar um ritual autêntico, nunca mostrado antes. Tudo caô. O tal Ritual Vodu é um amontoado de bizarrices fora do comum. Existe todo um preparo na criação de uma atmosfera para o espectador se sentir ansioso pelo que irá acontecer. Sara e Vincent seguem por ruas misteriosas, recebem flores de uma menina para serem usadas no ritual e ao chegarem se deparam com um grupo de nativos com umas roupas meio carnavalescas, uma espécie de pai de santo abrindo a barriga de porcos onde vemos as vísceras saindo sem nenhuma cerimônia e depois vemos uma sequência onde o tal pai de santo faz um absurdo sacrifício humano comendo o coração do tal sacrificado. Então uma jovem negra inicia uma dança que vira uma espécie de Carnaval-Disco e todos fazem uma coreografia absurda e começa uma espécie de bacanal. Os enquadramentos e a edição dessa sequência são muito divertidos e só poderiam ter saído da mente doentia e genial do nosso amado Meste Joe D’Amato.

O filme ainda oxibe cenas de Briga de Galo, banhos de banheira com os três protagonistas e uma série de clichês onde vemos o confronto entre os membros do “mundo civilizado” europeu em contato com os nativos e seus hábitos exóticos. A trilha sonora do sempre sensacional Stelvio Cipriani, ilustra muito bem essa viagem de belas e ao mesmo tempo “sujas” imagens que D’Amato concebeu em sua visão de um paraíso á beira do abismo. Mesmo com o forte teor erótico o filme não tem cenas de sexo explícito. A estética do sexo hardcore será melhor trabalhada no próximo texto dessa coluna na Zingu 12 onde destaco o famigerado PORNO HOLOCAUST. Por enquanto ficamos aqui aportados em águas caribenhas. Peçam seu Martini, coloquem seus óculos escuros e o chapéu e apreciem a paisagem, com um certo cuidado é claro...




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