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Coluna do Biáfora

OS PASTORES DA NOITE

Por Rubem Biáfora, artigo selecionado por Sergio Andrade

Não bastam os adventícios e “oportunos”, os “amantes do cinema” que já temos aqui e ainda tem que nos haver com “líricos”, com “admiradores do exotismo”, com “almas singelas” como o sr. Marcel Camus de “Mort en Fraud” (“bolado” na Indochina em 54), “Orfeu do Carnaval” e “Os Bandeirantes” (perpetrados em 59 e 61, no Rio e Brasília), e também de trruques efêmeros como “L’Oiseaux de Paradis” e “Vivre la Nuit”, de 62 e 67, e nos quais teve que se contentar com e se subordinar à França mesmo. Aqui ele pega em mais um romance (ou dois) de Jorge Amado e torna a capitalizar e a se deliciar com tudo o que nenhum diretor deve se deliciar: miséria, embriaguês, amor ao “chomage”, prostituição, permissividade para estrangeiros que sonham com paraísos inconfessáveis, etc. Desta vez, porém, nem mesmo o “engagement” da revista “L’Ecran” (novembro último) se deixou deslumbrar como aqui o fizeram com o predatório “Orfeu” todos aqueles que queriam ficar com a maré, participar do bolo “cannoise” e tirar suas castanhas com a mão do gato. No elenco, a heroína Mira Fonseca até que parece Eartha Kitt, isto é, uma Simone Simon de chocolate; Antonio Luiz Sampaio que “folcloricamente” e contra o conselho que uma vez nos pediu mudou seu nome para Pitanga, talvez ainda seja o bom ator de antes, e Zeny Pereira deve continuar a contrafação e a inadequação de sempre.

*Publicado originalmente no “O Estado de São Paulo” de 14 de agosto de 1977



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