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A CASA DAS TENTAÇÕES

Por Carlos Motta
Seleção e transcrição: Sergio Andrade

Uma espécie de farandula onde se vê com ironia tanto o nosso subdesenvolvido mundo do espetáculo, quanto a corrupção dos figurões e a aflição estúpida dos que querem voltar ao dourado de seus brasões. Uma visão sarcástica, mas também humana, dos que procuram migalhas do que não existe. Na qual, ao lado do ridículo, o patético, o erótico, encontraremos conotações bíblicas ou místicas. A par de um tom de drama e comédia, num resultado algo insólito, diferente: “A Casa...” não se parece nada com o que habitualmente se faz em cinema brasileiro. Num estilo despojado, onde a cor é tratada dramaticamente, coisa rara também por aqui e em muitos filmes de fora. O extenso elenco foi tratado de acordo com seus tipos e características, possibilidades ou indiscutível talento. Flavio Portho, o irmão “hippie”, meio místico com veleidades a salvador (e dos poucos personagens tratados sem a forma sarcástica dos demais); Francisco Curcio, o irmão mais velho; Arassary de Oliveira, a esposa exigente e irascível; Áurea Campos, a babá de cor; Marilena Ansaldi, como a bailarina que faz teste para o show; Pedro Paulo Hatheyer, o político corrupto, falso sócio na exploração da casa-boate, objeto de disputas, interesse e oportunismos de toda a espécie. A fotografia, um dos pontos altos do filme, é de Cláudio Portioli, de grande intuição e participação nas intenções da direção, na concepção geral do espetáculo. Um lançamento nacional da maior importância.”

*Publicado originalmente no “O Estado de S. Paulo” de 28/08/77.



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