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ESPELHO DE CARNE

Por Carlos Motta
Seleção e transcrição: Sergio Andrade

Uma fita intrigante, realizada com extrema competência profissional e apoiada num esquema de produção cuidado, tendo em vista as necessidades da trama e o espírito do filme, derivado de uma peça teatral não encenada e com ilações mágicas, eróticas e psicanalíticas. As fantasias e repressões de um tipo de sociedade burguesa muito bem-situada na vida, mas que no fundo esconde aspectos por ela ignorados – a dupla face do ser humano. Sem contar que o tema do espelho é um dos fetiches mais cinematográficos, de diversas maneiras já utilizado na dramaturgia do cinema, quer como símbolo, quer como objeto. Um executivo dá de presente à mulher um espelho art deco arrematado num leilão de obras de arte. O espelho pertence a um antigo “palácio dos prazeres”, uma requintada casa de encontros amorosos recém-desativada. Na mesma noite os novos proprietários do espelho recebem casal de vizinhos mais velhos; e depois, entra em cena uma vizinha solteira. E com o desenvolver da trama todos – incluindo uma empregada – vão sentir desejos inconfessáveis, liberando suas fantasias sob a influência do espelho. O destaque da interpretação vai principalmente para o elenco feminino, com a interessante Hileana Menezes, Maria Zilda e Joana Fomm. A primeira como a esposa mais jovem, e a segunda como a vizinha solitária e Joana Fomm como a vizinha casada com Jairo (Daniel Filho); Denis Carvalho faz o marido que adquire o espelho. O filme vem de uma carreira comercialmente expressiva no Rio. Para quem não lembra, o diretor Fontoura foi revelado com “Copacabana me Engana” (68), também sobre a classe média mas numa chave social. Seu melhor filme até agora era “A Rainha Diaba”, feito em 74. Não deixe de ver este novo trabalho.”

*Publicado originalmente no “O Estado de S. Paulo” de 03/11/85.



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