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GILDA

Por Carlos Motta
Organização e seleção: Sergio Andrade

Em 1946, uma demonstração do estrelismo quase como um paroxismo em sua capacidade de magnetizar as massas. O filme que tornou Rita Hayworth o símbolo erótico dos anos 40. Uma fantasia erótica sugerida em gestos, palavras, olhares, roupas, cenários – um cassino imaginário numa Buenos Aires também imaginária, como só a arte dos cenógrafos e decoradores de Hollywood poderia criar. Hoje se faz mar de plástico, luas e navios de papel, e todo mundo acha genial, esquecendo-se do tanto que se falou do artificialismo de Hollywood! Para realistas empedernidos, um filme falso, artificial e, portanto, sacrílego. Uma obra-prima – que, evidentemente, hoje pode ser vista como algo kitsch, mas e daí? -, cujo erotismo epidérmico, ao mesmo tempo óbvio e sutil, causou impacto junto às platéias adultas de então e a adolescentes que adulteravam a idade só para ver Rita, como Gilda, volúvel e sensual (a habitual afetação de Rita como atriz foi esplendidamente utilizada), de vestido e luvas negras, interpretando Put the Blame on Mame. Ao tecido de situações imaginadas pelo autor, A. Ellington, e pela roteirista Marion Parsonnet, foram dadas interpretações ambíguas mas, mesmo sem essas interpretações, o filme – no Brasil foi proibido até 18 anos – constituiu uma absoluta audácia em relação aos padrões da moral então vigente. Lançado em São Paulo primitivamente em setembro de 1946, no Marabá, depois em inícios de 53 no Art Palácio, mais tarde, extra-oficialmente em 1956, no Oásis, e ainda em 31 de agosto de 1964, no Regina. Há uns dez anos foi de novo reapresentado, tendo sido exibido numa das sessões malditas do extinto cine Marachá.

*Publicado originalmente no “O Estado de S. Paulo” de 03/02/85.



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