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Musas Eternas...
PORQUE O QUE É BOM, É ETERNO...

Claude Jade

Por Filipe Chamy

Há atores que vemos em muitos, muitos e muitos filmes e mesmo assim não sabemos seus nomes e nem nada sobre eles. Claude Jade é o típico oposto disso. Não que ela tenha feito poucos papéis (— ao contrário, fez dezenas e dezenas! —), mas mesmo que a tenhamos visto em um número restrito de obras, sua presença carismática e seu jeito doce e feminino sempre marcam os olhos e as mentes de quem a vê.

Claude nasceu em 8 de outubro de 1948, em Dijon, na França. Desde jovem demonstrou inclinação para o mundo artístico, e ainda bem moça tomou aulas de atuação e aprimorou seus dotes interpretativos. Começou como tantas atrizes, no teatro, e aos dezoito anos já foi agraciada com um prêmio, por sua performance em L'école des femmes. Ao mesmo tempo, começou a se destacar na televisão, arrancando olhares da crítica e suspiros dos jovens franceses. Henri IV e Le crime de la rue de Chantilly foram seus primeiros registros por uma câmera — televisiva.

Eis que em 1968 se dá a grande virada em sua filmografia (o famoso ano “divisor de águas”). François Truffaut a descobre e a convida para participar de seu Beijos proibidos, filme que daria continuidade à saga de Antoine Doinel (vivido pelo grande Jean-Pierre Léaud). Claude estrelaria em um dos papéis principais, Christine Darbon. Christine agradou ao personagem, ao diretor e ao público, e a bela francesinha ia ganhando reconhecimento internacional — já que o filme com que estreara na tela grande foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, o que lhe deu bastante projeção (à parte seus inúmeros méritos próprios).

Um ano depois, o nome de Claude estaria ligado ao de um dos cineastas mais famosos de todos os tempos, Alfred Hitchcock; infelizmente, no projeto mais desastrado do gorducho inglês, Topázio. O filme se pretende uma aventura de espionagem, mas Hitch errou a mão e legou ao mundo o pior filme de sua carreira, um amontoado de equívocos beirando o irritante. Mas Claude está bem e encantadora, ao lado de colegas como Michel Piccoli e Philippe Noiret. Truffaut mais tarde disse que neste filme ela poderia muito bem ser considerada como uma jovem Grace Kelly. E a atração não foi apenas profissional: os jovens François e Claude noivaram e quase se casaram. Mas em 1972 tudo estaria acabado e ela se casou com Bernard Coste, um diplomata. O casamento permitiu à jovem morar na Rússia (URSS, na época) e ter algumas oportunidades de trabalhar lá, como em Lênin v Parizhe, de 1981. O filho do casal, chamado Pierre, nasceu em 1976.

Christine Darbon fez tanto sucesso que voltou em mais dois filmes de Truffaut: Domicílio conjugal e O amor em fuga. No primeiro, Christine, casada com Antoine Doinel, responde agora por Christine Darbon Doinel, e dá à luz um menino, que acaba sendo chamado de Alphonse. Traída, termina se separando de Antoine após um período de testes — e não se pode dizer que eles não tentaram; mas Christine, como ela mesma constata, era mãe, filha e irmã de Antoine, não sua esposa. No outro filme (conclusivo da saga), eles já estão amigavelmente tratando dos papéis do divórcio. Christine conhece então Colette (Marie-France Pisier), o primeiro amor da vida de seu ex-marido, e juntas relembram as inconstâncias e problemas de suas vidas e seus relacionamentos com Antoine Doinel. E é assim que Christine sai de cena, serena, meiga e sem mágoas ou arrependimentos. Sábia, enfim, assim como Claude, que também ia amadurecendo — lembrando que onze anos separam a primeira e a última aparição da personagem Christine.

Na TV, o papel mais celebrado feito por Christine foi o de Véronique d’Hergemont, na minissérie L’île aux trente cercueils (1979). Mas sua filmografia abrange mais obras desafiadoras e importantes, de Kita no misaki (produção japonesa de 1976) a Mon oncle Benjamin (clássico de Edouard Molinaro lançado em 1969).

Seguiu trabalhando ativamente, principalmente na televisão, até sua morte prematura e completamente inesperada, aos cinqüenta e oito anos, no dia 1º de dezembro de 2006, após complicações surgidas de um câncer no olho. Foi um choque para os fãs da bela e talentosa mulher, de corpo bonito e bem definido, de sorriso espontâneo e contagiante, de um brilho vivo no olhar. Com ela, foi-se uma parte extremamente significante do cinema, da televisão e do teatro franceses. Condecorada com a Legião de Honra em 1998, Claude Jade permanece um modelo de elegância, beleza e dignidade, um pilar de cultura e competência. Tendo partido de forma tão triste e abrupta, as câmeras do cinema e da televisão souberam captar seus momentos de glória e arquivar para a posteridade a grande força que emanava de sua figura tão delicada. Sobre ela ainda não se escreveu o suficiente, mas é fácil constatar seu poder de atração e o fascínio que inconscientemente provocava: basta assistir aos primeiros minutos de Domicílio conjugal e ver suas lindas pernas andando apressadas pelas ruas parisienses.

CARREIRA DE CLAUDE JADE:

No cinema:

1968 : Baisers volés, de François Truffaut
1968 : Sous le signe de Monte-Cristo, de André Hunebelle
1969 : Le témoin, de Anne Walter
1969 : Mon oncle Benjamin, de Édouard Molinaro
1969 : Topaz, de Alfred Hitchcock
1970 : Domicile conjugal, de François Truffaut
1971 : Le bateau sur l'herbe, de Gérard Brach
1972 : Les feux de la chandeleur, de Serge Korber
1973 : Home sweet Home, de Benoît Lamy
1973 : Number one, de Gianni Buffardi
1973 : Prêtres interdits, de Denys de La Patellière
1974 : La chica de Via Condotti, de Germán Lorente
1975 : Trop c'est trop, de Didier Kaminka
1975 : Le malin plaisir, de Bernard Toublanc-Michel
1975 : Maître Pygmalion, de Jacques Nahum
1976 : Le choix, de Jacques Faber
1976 : Kita no misaki, de Kei Kumai
1977 : Una spirale de nebbia, de Eriprando Visconti
1978 : Le pion, de Christian Gion
1979 : L'amour en fuite, de François Truffaut
1981 : Le bahut va craquer, de Michel Nerval
1981 : Tegeran-43, de Alexandre Alov e Vladimir Naoumov
1981 : Lenin v Parizhe, de Serguei Youtkhevitch
1982 : Rendezvous in Paris, de Gabi Kubach
1982 : L'honneur d'un capitaine, de Pierre Schoendoerffer
1987 : L'homme qui n'était pas là, de René Féret
1992 : Tableau d'honneur, de Charles Némès
1994 : Bonsoir, de Jean-Pierre Mocky
1994 : Le Radeau de la Méduse, de Iradj Azimi
2000 : Scénario sur la drogue [La rampe], de Santiago Otheguy (curta-metragem)
2004 : À San Remo, de Julien Donada

Na televisão (alguns trabalhos):

1965 : Le crime de la rue de Chantilly, de Guy Jorré
1967 : Prunelle, série d'Edmond Tiborowsky
1968 : Les oiseaux rares, série de Jean Dewever
1968 : Allô police, episódio « Rétour à l'envoyeur »
1969 : Le songe d'une nuit d'été, de Jean-Christophe Averty
1970 : Mauregard, de Claude de Givray
1971 : Shéhérazade, de Pierre Badel
1972 : La mandragore, de Philippe Arnal
1972 : Le château perdu, de François Chatel
1974 : Malaventure, episódio « Monsieur seul », de Joseph Drimal
1974 : Au théatre ce soir: Il y a longtemps que je t'aime
1975 : Mamie Rose, de Pierre Goutas
1976 : Les anneaux de bicêtre, de Louis Grospierre
1976 : Les robots pensants, de Michel Subiela
1976 : L'internement, de Gérard Chouchan
1979 : Antenne à Francis Perrin, no papel de Marceline e de Camille
1977 : Ulysse est revenu, de Jean Dewever
1978 : Fou comme François, de Gérard Chouchan
1978 : Les amours sous la révolution, de Jean-Paul Carrère
1978 : Au théatre ce soir: Volpone
1979 : L’île aux trente cercueils, de Marcel Cravenne
1979 : Claude Jade lit Madame de Sévigne téléfilm de Jean Kerchbron
1980 : La grotte aux loups, de Bernard Toublanc-Michel
1980 : Nous ne l'avons pas assez aimée, de Patrick Antoine
1981 : Treize, de Patrick Villechaize
1982 : Lise et Laura, de Henry Helman
1981 : Au bout du chemin, de Daniel Martineau
1981 : Commissaire Moulin, episódio « L'amie d'enfance »
1984 : Ma fille, mes femmes et moi, de Pier Giuseppe Murgia
1984 : Une petite fille dans les tournesols, de Bernard Férie
1987 : Qui sont mes juges?, de André Thiery
1988 : Le grand secret, de Jacques Trébouta
1990 : Le Voyageur, episódio « Windows de René Manzor »
1990 : Fleur bleue, de Jean-Pierre Ronssin
1991 : L'éternité devant soi, de Stéphane Bertin
1992 : Au bonheur des autres, de Charles Bitsch
1993 : La tête en l'air, de obra de Marlène Bertin
1993 : Eugénie Grandet, de Jean-Daniel Verhaeghe
1994 : Navarro, episódio Sentiments mortels
1994 : Julie Lescaut, episódio Rumeurs de Marion Sarrault
1995 : Belle époque, telefilme de Gavin Millar
1995 : Porté disparu, de Jacques Richard
1997 : Un enfant au soleil, de Gilles Béhat
1998 : Une femme d'honneur, episódio « Mémoire perdue »
1998-2000: Cap des pins, série (1998-2000)
2000 : Sans famille, de Jean-Daniel Verhaeghe
2004 : La Crim', episódio Le secret, de Dominique Guillo
2005 : Groupe flag, episódio « Vrai ou faux »

No teatro (trabalhos selecionados):

1964 : L'école des femmes, de Molière (Dijon)
1967 : Henri IV, de Luigi Pirandello (Paris)
1971 : Je t'aime, de Sacha Guitry (Paris)
1972 : Les oiseaux de lune, de Marcel Aymé (Paris)
1974 : Il y a longtemps que je t'aime, de Jacques Deval (Paris)
1975 : La guerre de Troie n'aura pas lieu, de Jean Giraudoux (Lyon)
1977 : Port-Royal, de Henry de Montherlant (Lyon)
1978 : Intermezzo, de Jean Giraudoux (Lyon)
1978 : Volpone, de Jules Romains (Paris)
1980 : Britannicus, de Jean Racine (Lyon)
1983 : Les exilés, de James Joyce (Lyon)
1984 : Le faiseur, de Honoré de Balzac (Lyon)
1986 : L'interrogatoire, de Vladimir Volkoff (Paris)
1988 : Regulus 93, de Catherine Decours (Nantes)
1991 : Un château au Portugal, de Julien Vartet (Paris)
1992 : Dissident il va sans dire, de Michel Vinaver (Dijon)
2001 : Lorenzaccio, de George Sand e Alfred de Musset (Paris)
2006 : Célimène et le cardinal, de Jacques Rampal (Paris)




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