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RUÍDO
MÚSICA DE VERDADE.

THE KINKS - THE KINKS ARE THE VILLAGE GREEN PRESERVATION SOCIETY

Por Raphael Carneiro

Não há dúvida que a banda The Kinks é, ao lado dos Beatles e do The Who a melhor das bandas britânicas, e que devido a um estranho “embargo” não ficou tão conhecida do grande público. Era um dos principais nomes da chamada INVASÃO BRITÂNICA e após uma bem sucedida turnê nos EUA, ficaram banidos e proibidos de tocar no país por quatro anos, o que decretou seu fracasso no maior mercado consumidor da época. Nenhum motivo específico foi apresentado para explicar o embargo até hoje, embora muitos creditem isso as letras de duplo sentido de Ray Davies, que poderiam ser consideradas obscenas pelo governo americano.

O fato é que com ou sem embargo, o som da banda persistiu e constitui um dos capítulos mais ricos, sofisticados e inteligentes da música popular britânica. Desde o começo crú do álbum homônimo lançado em 1964 até o fim da década de 70 os Kinks eram imbatíveis, e embora muitos apontem The Kinks Are The Village Green Preservation Society de 1968 como o melhor disco da banda, Arthu, lançado no ano seguinte também merece esse título. Em Face to Face, de 1966, a banda já havia começado a “polir” o som, por assim dizer, e as composições de Ray Davies já começavam a soar ainda mais irônicas e críticas do british way of life. Essa crítica ao Império Britânico atingiu seu auge nos discos de 1968 e 1969, e em especial no último.

A grande diferença do Kinks para outras bandas “engajadas”, pelo menos para mim, sempre foi a riqueza literária de seus versos, que ainda hoje impedem que as canções se tornem datadas. Uma das primeiras coisas que notamos ao escutar o VILLAGE GREEN, é como a psicodelia da época influenciou a banda, que era formada por Ray Davies (guitarrista e vocalista), David Davies (guitarrista e vocalista), Michael Avory (baterista) e Peter Quaife (baixista). Muitos gostam de dizer que o álbum em questão é o St. Pepper’s de Ray Davies, o que é uma besteira. O disco dos Kinks sobrevive muito bem sem a ajuda de seu “irmão” mais famoso. E é muito melhor que o mesmo, inclusive.

Village Green, trata-se, antes de tudo, de uma evocação as coisas esquecidas e uma homenagem aos ídolos de Davies (entre eles figuras como Sherlock Holmes, Drácula, Pato Donald, Vaudeville e Fu Manchu, todos citados nas letras). Existe também quem veja isso como uma resposta ao conservadorismo americano, até porque os críticos americanos detestaram o disco. Todas as faixas são excelentes, mas deixo destacadas a faixa título, Picture Book Phenomenal Cat que lembra aqueles desenhos dos anos 50. Um clássico. Embora o disco tenha sido um fracasso comercial, o mesmo permanece como uma das obras mais coesas e bacanas da década de 70. No quesito melodia, funde com perfeição blues, country e pop. E as letras de Ray, como diria o nosso editor Gabriel Carneiro, são um “estupro mental”. No bom sentido, lógico.



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