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Dossiê Costinha

Entrevista com Costinha

Originalmente publicado pela revista Fiesta em setembro de 1991
Seleção e transcrição: Matheus Trunk

Entrevista inédita com Lírio Mário das Costa, um dos maiores humoristas de todos os tempos do Brasil, mais conhecido como Costinha, ou na Escolinha do Professor Raimundo, o programa do Chico Anísio da TV Globo, como o impagável e divertidíssimo Mazaritto.

Falamos com ele antes da sua apresentação em Atibaia, SP, no delicioso restaurante Flamboyant, que estava lotado e cuja platéia delirou de tanto rir.

Mas Costinha fez questão de ressaltar a diferença entre ele personagem e ele pessoa, mostrando-se um homem sério e sensível na sua vida fora dos palcos de teatro e bastidores da tevê. Nasceu no Rio de Janeiro, RJ, 1923, filho do senhor Augusto Benjamin da Costa e de dona Angelina da Silva Costa. Começou sua brilhante carreira artística como locutor da rádio Mairinque (1946), participou em programas humorísticos (1949), foi contratado exclusivo da empresa que faz dublagem de filmes, Herbert Richers. O seu primeiro papel foi Sai de Baixo de J.B. Tanko, em 1953. E, em 1957, começo na televisão Record, no programa do Moacyr Franco. Estreou no teatro em 1962, na revista O Diabo que a Carregue e vá Para Casa, sob a direção de Valter Pinto.

Além de comediante, Costinha também e escritor e soltou pela Ed. Nova Sampa, o Almanaque do Costinha, com mais de 500 piadas e desde agosto está na banca o livro infantil Costinha para as Crianças. Em outubro a Editora vai soltar os Quadrinhos, com estórias para as crianças e para adultos, evidentemente, sem palavrões. Assistido de perto por seu filho, o ativo e arrojado Alexandre Guzzardi, 22 anos, escritor e redator frila da Tv Manchete, SBT e Globo, será também homenageado por ele que em breve lançara o livro Meu Pai, Um Astro.

Depois do êxito estrondoso da peça Mamãe, Tou no Plimplim, em excusão nacional, lotando nove teatros Brasil afora, Costinha prepara um show agora para o final do ano, nO Canecão, no Rio, e no Paladium, em São Paulo.

FIESTA- Como aprendeu a interpretar piadas ? Fez algum curso ou escola nesse sentido ?

COSTINHA- Não, não acredito no artista fabricado. Ninguém ensina ninguém a ser engraçado. Isso a gente aprende fazendo, com a experiência da vida.

FIESTA- Qual a situação mais favorável para a criação de uma piada ?

COSTINHA- Tudo é motivo pra eu fazer graça.

FIESTA- Acontecimentos trágicos também ?

COSTINHA- Não, isso não. Nunca me aproveito de situações críticas.

FIESTA- Como é o Costinha no dia-a-dia ?

COSTINHA- Eu tenho duas personalidades, uma é a profissional, outra é a minha pessoal. E uma não tem nada a ver com a outra, o que o público nem sempre compreende e fica cobrando que a gente seja cômico o dia inteiro.

FIESTA- Qual o papel do humor dentro da sociedade ?

COSTINHA- A comédia é fundamental dentro da sociedade. A maior prova disso é que sempre que eu anuncio um espetáculo cômico, muitas, muitas pessoas comparecem. O humor ajuda a se enfrentar as tensões e dificuldades na vida.

FIESTA- Você sofreu algum tipo de cercamento político, oficial ou de grupos políticos ?

COSTINHA- Nunca.

FIESTA- O que é mais importante para um comediante obter sucesso, simpatia e popularidades ?

COSTINHA Embora pareça óbvio, a receita essencial é ser comediante.

FIESTA- Existem muitas improvisações na Escolinha do Professor Raimundo ?

COSTINHA- Sim, eu basicamente não tenho textos para decorar, embora sigamos uma estrutura mais ou menos identificável. Algumas pessoas precisam do roteiro bem detalhado. E quem não se atrela muito a texto, é obrigado a criar.

FIESTA- Como é trabalhar com o Chico Anísio ? E a TV Globo ?

COSTINHA- Muito gratificante, a TV Globo da bastante liberdade e há um pouco de censura interna, mas nada muito grave e que impeça-nos de fazer um bom trabalho. Quanto ao Chico, é excelente pessoa e sempre foi, também como colega.

FIESTA- Qual a sua grande satisfação e realização profissional ?

COSTINHA- Fazer os outros rirem.

FIESTA- Quem você pode considerar seus mestres ou colegas no humorismo.

COSTINHA- Tive muitos colegas excelentes profissionais, particularmente o Chico Anísio.

FIESTA- Você ganhou muito dinheiro com o humor ?

COSTINHA- Oh, nenhuma fortuna, dá para o cotidiano. Eu só vivo disso.

FIESTA- Existe uma equação para a formulação de piadas ?

COSTINHA- Não.

FIESTA- Qual a importância dos trocadilhos ?

COSTINHA- Muito grande, desde que, claro, sejam bem feitos. Tem o seu mérito e é uma arte.

FIESTA- Qual o filme cômica que considera um dos melhores ?

COSTINHA- O Grande Ditador, do Charles Chaplin.

FIESTA- Trabalha com sátira ?

COSTINHA- Não, principalmente em cima de elementos raciais ou de deficiência física, acho que deve haver respeito.

FIESTA-O brasileiro é gozador porque as coisas por aqui parecem não ter jeito mesmo ou por outro motivo qualquer ?

COSTINHA- Acho que é porque sabe que as coisas não tem jeito mesmo.

FIESTA- Rir continua sendo a melhor solução ?

COSTINHA- Totalmente !



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