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Dossiê Costinha

Costinha: O Rei do Riso

Por Matheus Trunk

Fazer os brasileiros rir foi a principal ocupação da vida do carioca Lírio Mário da Costa que ficou conhecido nacionalmente como Costinha. Hoje, graças ao esquecimento de grandes fíguras da nossa cultura, esse importantíssimo e genial comediante encontra-se na mesma situação de dezenas de ídolos brasileiros de outros tempos como Rodolfo Arena, Humberto Catalano, entre outros.

Nascido em 1923, no Rio de Janeiro, capital federal na época, Costinha vem de família de cunho artístico: seu pai foi palhaço de circo. A infância circense iria influenciar a trajetória do humorista de forma definitiva. Porém, a situação estável da família muda quando ele completa treze anos: seu pai e grande ídolo, abandona a família. Então, o então menino Costinha tem de deixar a vocação artística e pegar no batente. É office boy, garçom de botequim, engraxate e até apontador de jogo do bicho. Esse convívio ao lado de tipos urbanos e muitas vezes até marginais do Rio dos anos 40, seria muito importante nos personagens feitos pelo humorista posteriormente.

Em 1942, emprega-se como faxineiro da rádio Tamoyo. Pelo novo veículo ganha sua grande chance, sendo radioator em diversos e importantes programas da época como Cadeira de Barbeiro, Recruta 23 e mesmo na primeira versão radiofônica da Escolinha do Professor Raimundo. Fez parte do cast de importantes emissoras da época como a Record e também a Mayrink Veiga. Também era cômico no Teatro de Revista, tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro.

A passagem pela televisão seria logo em seguida, no veículo pelo qual se tornaria um astro nacional pelas piadas obscenas e pelas famosas imitações de homossexuais. Já como grande personalidade consagrada, Costinha fez diversas propagandas, destacando-se na das Loterias do Rio de Janeiro (onde chegou a ser dirigido pelo cinemanovista Cacá Diegues). A série de discos de humor nos anos 70 e 80 “O Peru da Festa” e “As Proibidas do Costinha”, tiveram grande vendagem pelo selo CID.

No cinema, a participação do humorista é intensa desde os anos 50. Sua primeira participação foi logo no polêmico “Anjo do Lodo” de Luiz de Barros. O filme foi a segunda adaptação do livro “Lucíola” de José de Alencar as telas. Voltaria as ordens de Lulu de Barros em “O Rei do Samba”, biografia do lendário sambista Sinhô.

Seu tipo franzino e marcadamente de cabelos engomados, era perfeito para papéis secundários e pontas das chanchadas. Essa função, ele desempenharia com gigantes como Wilson Grey, Wilson Viana e tantos outros dessa geração extraordinária. A produtora dominante da época, a Atlântida tinha astros cômicos como Oscarito e diretores como Carlos Manga. Já a secundária mas não menos importante, Herbert Richers apostava em outros nomes da época, como Ankito e em realizadores como Victor Lima e J.B. Tanko.

Costinha logo é chamado pela segunda para desempenhar papéis secundários. Ás vezes conseguia ser bandido (“De Pernas pro Ar”), um aspone do Carlos Imperial (“Garota Enxuta”) ou mesmo um fotógrafo de jornal (“É de Chuá”). O melhor filme de toda essa fase é a obra-prima “Sherlock de Araque”. Victor Lima, embora chamado de forma preconceituosa de “artesão da marreta”, é gênio. Tirando sarro dos filmes policiais americanos, Lima deixa Costinha e Carequinha como uma dupla de policias que acaba se envolvendo no roubo de uma joalheria. Outros filmes do período na época são feitos ao lado do inesquecível Zé Trindade.

Com a chegada de movimentos cinematográficos mais voltado as questões sociais de Glauber e seus pares, o espaço de comediantes oriundos da chanchada foi a televisão. Nos anos 60, pouquíssimas comédias ou filmes populares foram feitos no Brasil comparados com os anos 50. Uma exceção é um interessante ciclo de fitas policiais e nazi-exploination (“Os Carrascos Estão Entre Nós”). Porém, nomes como Oscarito, Grande Othelo, Ankito se viram mais sem meio do cinema e sem o estrelato de antes.

Mas a televisão, se é um excelente meio para os até então secundários em chanchadas. Por ele, Costinha consegue se tornar uma personalidade conhecida em todo território nacional, levando milhares de brasileiros a darem risadas.

Os anos 70, trazem os velhos comediantes de volta as telas. O cinema volta a ter popular. Seja em filmes urbanos (“Como Ganhar na Loteria Sem Perder a Esportiva”), homenagens a chanchada (“Salário Mínimo”), filmes de juventude (“Amor em Quatro Tempos”) ou mesmo em pornochanchadas ( “Histórias Que As Nossas Babás Não Contavam”). Outra coisa típica da década mais dinâmica da carreira cinematográfica do comediante foi as paródias em que ele foi o personagem principal em diversos filmes. Isso ocorre em fitas como “O Libertino”, “O Homem de Seis Milhões de Cruzeiros Contra as Panteras”, “Costinha, o Rei das Selvas”, “Costinha e o King Mong”, “As Aventuras de Robinson Crusoé”...

Neste último, nosso herói faz par com Grande Othelo, numa estranha e memorável direção de Mozael Silveira. Continuando atuando em diversas peças de teatro, programas como “Planeta dos Homens” e “Chico Anysio”, Mário Lírio Costa continuou levando alegria e risos para milhares de compatriotas.

É importante se ressaltar que Costinha foi o humorista mais censurado na época da Ditadura. Afinal, para o humor e a simpatia de um personagem como ele, era impossível haver algum tipo de Censura ou controle. Fora dos palcos e dos sets, era um senhor casado, pai de sete filhos, sendo três adotados. Costinha morreu em 1995, vítima de uma efizema pulmonar.



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