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SUBGÊNEROS OBSCUROS...

THE LAST HOUSE MOVIES

Por Marcelo Carrard

Em 1972, o então desconhecido Diretor Wes Craven, se uniu a um grupo de amigos para fazer um filme barato contando a escabrosa história baseada em fatos reais de duas garotas que foram violentadas e mortas por um bando de maníacos. O tempo se encarregou de tornar esse filme um clássico absoluto do Cinema Exploitation e uma referência marginal/cult que originou uma série de produções similares mundo afora. O filme de Craven em questão é: THE LAST HOUSE ON THE LEFT. Na produção aparecem os nomes de Sean S Cunningham e Steve Miner, que anos depois iriam criar a “franquia” SEXTA-FEIRA 13, o grupo de slasher movies mais populares de todos os tempos. Craven, no início da década de 80, lançaria outra franquia milionária: A HORA DO PESADELO, cujo nome do vilão: Freddy Krueger, lembra o vilão de The Last House on the Left: Krug, interpretado pelo impagável David Hess, que também assina a trilha do filme.

A importância de The Last House on the Left é tão grande que existe inclusive um livro, editado pela FabPress sobre sua produção e os desdobramentos de seu impacto sobre o público e outros realizadores. Na trama central vemos a jovem Mari e uma amiga sendo seqüestradas por um grupo de quatro maníacos/tarados/safados e escrotos ao caírem numa armadilha ligada a compra de um baseado. Em uma paisagem campestre, em meio ás árvores e próximas de um rio, as duas amigas sofrem vários tipos de tortura e estupro antes de serem brutalmente executadas, em seqüências bem extremas para uma produção do início dos anos 70. O interessante do roteiro é que depois de tudo, os tais maníacos vão parar acidentalmente na casa dos pais de Mari que ao descobrirem a identidade dos visitantes, partem para uma sangrenta vingança que inclui castração e o uso de uma serra-elétrica, dois anos antes de O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA de Tob Hopper.

Com o sucesso inesperado do filme, principalmente por suas brigas com a censura e seu trailer muito divertido onde é repetida a frase: “It’s Only a movie, only a movie...”, outros diretores passaram a produzir filmes similares explorando essa fórmula que mistura doses cavalares de Sexo e Violência, em produções baratas, para um circuito marginal de cinema. Talvez o mais absurdo e chocante desses LAST HOUSE MOVIES, seja a produção de Vitor Janos, cuja verdadeira data de lançamento varia de 74 a 77, intitulada: LAST HOUSE ON DEAD END STREET. O nome Vitor Janos é falso, assim como o da maioria da equipe que atuou/trabalhou usando pseudônimos. A trama é absurda. Um ex-presidiário psicótico decide reunir um grupo de amigos também com vários “parafusos a menos” na cabeça, para realizar, em um casarão semi-abandonado, uma série de Snuff Movies. O filme era para ter se chamado THE FUNHOUSE, mas foi mudado para THE LAST HOUSE ON DEAD END STREET para pegar carona no filme de Craven. Aliás, THE FUNHOUSE acabou se tornando o nome do cultuado slasher movie de Tob Hopper feito anos mais tarde.

As sequências das “filmagens” dos snuff movies são absurdas. Mesmo com efeitos especiais toscos, não deixam de ser absolutamente perturbadoras. Diz a “Lenda” que o filme originalmente teria 3 horas de duração. A versão analisada aqui é a intermediária com mais de 90 min, originada de uma obscura edição vinda da Venezuela. O gore desenfreado e teatralizado parece antecipar as pirotecnias sanguinolentas da notória série japonesa GUINEA PIG. As últimas seqüências onde surgem elementos interessantes de gênero como o travestismo e o sadismo fetichista, criam uma dupla de seqüências finais realmente inacreditáveis. Um clássico absoluto do Cinema Marginal, sem dúvida.

Na Itália, o Diretor ALDO LADO, lançou em 1975, um interessante filme que é uma refilmagem não assumida de THE LAST HOUSE ON THE LEFT de Wes Craven, intitulada NIGHT TRAIN MURDERS. A trama é praticamente a mesma, só que a tortura, o estupro e o assassinato ocorrem em um trem noturno, em plena época natalina. Duas amigas acabam no mesmo vagão que dois ladrões psicóticos estão usando como esconderijo, acompanhados de uma diabólica loira interpretada pela atriz Macha Meril, a mesma que encarnou a Parapsicóloga Helga de Profondo Rosso de Dario Argento. O acabamento do filme é superior ao de Craven e até mais violento, além de ter uma cena final fabulosa e antológica. Da Itália desse período temos outro filhote do filme de Craven que teve o título internacional de THE LAST HOUSE ON THE BEACH. Originalmente chamado de LA SETTIMA DONNA, o filme foi dirigido por Franco Prosperi e conta a história de uma religiosa, interpretada por Florinda Bolkan, que leva um grupo de garotas para uma casa isolada na praia, onde pretendem ensaiar uma peça. Claro que as coisas não vão sair do jeito que elas pensavam, pois um grupo de tarados acaba invadindo a tal casa e promovendo barbaridades no local, mas o jogo se inverte e acaba rolando uma vingança. Essa mesma inversão ocorre no já citado nessa coluna, nos Disco Movies, LA CASA SPERDUTA NEL PARCO aka THE HOUSE ON THE EDGE OF THE PARK, de Ruggero Deodato, onde mais uma vez David Hess encarna um psicótico que ao lado de um comparsa interpretado por Giovani Lombardo Radice, promove cenas de horror e tortura em uma festa de ricaços.

Antes de destacar algumas produções brasileiras que exploraram esse subgênero, lembro do segundo episódio da série japonesa ALL NIGHT LONG, que já destaquei na Zingu em minha Coluna Cinema Extremo. Muitos foram os filmes que trabalharam com essa trama central do ataque de “seres selvagens” do mundo externo no mundo seguro e hermético de uma casa de classe média. No Brasil os exemplares são bem ecléticos. Existe o cultuado filme de Antônio Calmon, de 1976: PARANÓIA, onde um bando de sádicos ataca uma casa. No elenco se destacam Lucélia Santos e Nuno Leal Maia. Em 1979, é lançado o inacreditável SEXO E SANGUE, de Élio Vieira, onde vemos uma festa de ricaços, cheia de piranhas, ser tumultuada com a invasão de um bando de fugitivos de um presídio. A personagem Raimunda é sensacional e ainda tem a presença do antológico ator Wilson Grey. Mas o mais bizarro exemplar de todos é o primeiro filme brasileiro com cenas de sexo-explícito: VIAGEM AO CÉU DA BOCA, onde uma família tem a casa invadida por marginais tarados, com a presença em cena de um travesti básico...

Não poderia encerrar esse breve texto sem destacar o filme do Mestre Joe D’Amato: SEXSHOP ON THE SEVENTH STREET, onde um bando de fascínoras invade justamente uma loja de artigos Pornô... Não precisa nem dizer como as coisas prosseguem. Enfim, são muitos filmes e muitas emoções...
It’s Only a movie, only a movie, only a movie, only a movie...




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