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Cantinho do Aguilar...

Querô, Barra Pesada, De Palma e Ashley Judd x 2

Por Eduardo Aguilar

Querô de Carlos Cortez é um bom filme, mas é duro dizer isso, porém necessário, é muito inferior a Barra Pesada de Reginaldo Farias que também foi baseado na mesma peça de Plínio Marcos e inclusive tendo o roteiro adaptado por Reginaldo e Plínio. Bem, no caso de Querô, o roteiro se fixa demais na Febem, ainda que esta parte seja muito bem narrada, isso impede que o filme explore melhor o universo de Querô no mundo externo, e além disso, o determinismo do roteiro e que é enfatizado pela montagem rouba muito do que poderia ser sua força, aliás, a montagem é o ponto fraco do filme. Há inúmeros méritos, o mais evidente são as atuações, destaco o ator que faz o delegado, de uma credibilidade impressionante, e claro, os jovens ‘não atores’ que interpretam os garotos ‘jogados’ na vida.

Vale dizer, o afeto está mais presente no filme de Reginaldo, e nesse sentido, acho feliz a ênfase em sua ausência na versão de Cortez, nada poderia evidenciar melhor de forma tão clara a presença do ódio e da agressividade desses garotos. Lembro com muita nitidez o dia em que dirigindo um carro (e isso faz muito tempo!) ao parar num farol, um garoto com no máximo 05 anos pediu alguns trocados e eu acabei negando, quando o farol abriu o menino vociferou alguns palavrões e o susto foi grande não pelos palavrões em si, mas pela raiva que o menino expressava em seu rosto! Enquanto não entendermos essa questão, enquanto não nos determos sobre esse ponto, ainda teremos a classe média achando que a solução é diminuir a idade penal. Quem sabe quando a responsabilidade penal chegar aos 05 anos as pessoas fiquem satisfeitas, desde claro, que não ponha em risco seus filhos desavisados, afinal, esses não são bandidos, são jovens inconseqüentes que não merecem ser colocados na mesma cela que garotos da Febem.

Isso me faz lembrar de uma conhecida que ao narrar o caso de um imigrante inglês casado com uma amiga sua e morando em nosso País há algum tempo, comentou com certa naturalidade que quando o fulano foi preso por estar com duas garotas de programa menores de idade, ela e a esposa do fulano e alguns amigos não se conformaram com a possibilidade do cara vir a ser colocado em uma cela junto com bandidos, como se o dito cujo fosse o ‘mocinho’ da história. Esse é o Brasil! Confesso, um pouco ‘irado’ que desejo mais que um filho da puta desses vire a ‘mulherzinha’ dos presidiários!

Abrandando um pouco o tom de raiva, vale destacar que De Palma levou melhor direção em Veneza e It’s a Free World de Loach levou melhor roteiro. É um recado claro de que é preciso oferecer informação de forma completa e imparcial, espero que os fãs de De Palma não fiquem apenas babando com o seu já mais do que conhecido talento formal e reflitam em termos de Brasil a discussão que ele está propondo ao invés de continuarem a fazer como a grande maioria da ‘classe média culta’ reproduzindo o discurso oficial da nossa mídia.

E claro, eu assisti aos 02 filmes com Ashley Judd que estão em cartaz por aqui, a saber: Possuídos, que é até o momento o melhor filme do ano, e Encontros ao Acaso que é um ótimo filme justamente sobre o desafeto, que também não deixa de ser tema importante de Possuídos, mas nesse, o genial diretor Willian Friedkin resolveu realizar um dos estudos mais perturbadores sobre a loucura, fazia muito tempo que eu não saia do cinema tão ‘torto’, difícil imaginar filme recente que tenha me causado estado de mal estar tão grande, o último que me vem a mente é Possessão de Zulawski, curiosamente, também sobre a loucura e como ela contamina quem está próximo. E sobre a presença da maravilhosa Ashley Judd nos dois filmes, só posso dizer que mordi minha língua, pois costumava desconfiar da capacidade dos atores arianos, ainda que a lista de talentos desse signo não seja pequena e simplesmente conste nela o maior ator do cinema: William Holden. E o atual melhor ator Robert Downey Jr também é do signo de Áries, mas eu seguia teimando na minha tese, talvez justamente por não encontrar uma atriz ariana que me convencesse e Ashley Judd confirma o que eu já sabia, mas evitava reconhecer: ela é a melhor e mais bonita atriz da atualidade. E de uma beleza que não é fabricada, uma beleza real!


Ashley Judd


uma ariana

PS: Em tempo, na edição n.º 11 da Zingu! eu escrevi um texto que causou alguma polêmica entre leitores e amigos. De qualquer forma, entre os e-mails que recebi, um deles me deixou especialmente feliz, trata-se de um amigo que trabalha no meio audiovisual, não vou citá-lo, até por que, sequer pedi-lhe autorização para reproduzir parte de seu e-mail e no mais, não me interessa redirecionar a polêmica para outra pessoa, entretanto, ele compreendeu com perfeição meu pensamento sobre o mal que a fotografia de Walter Carvalho vem fazendo ao cinema nacional, abaixo, o trecho a que me refiro:

“(...) Você anda muito benevolente nas suas críticas. Gostei sobre o Walter Carvalho, acho todo o trabalho que ele faz o anti-cinema, como o Sebastião Salgado - que faz aquelas imagens belíssimas sobre a desgraça. Passei por quase todos lugares que ele passou, e fiz questão de mostrar o triste com imagens tristes, não para se colocar em galerias. Estava em Ruwanda, quando ele apareceu com aquela pose, foi vaiado por equipes de todo o mundo que estavam lá. (...)”



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