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CANTORAS

Por Matheus Trunk

Cláudia Barroso

Hoje esquecida em um país de uma memória seletiva, a feminista Cláudia Barroso foi uma das cantoras brasileiras de maior sucesso nos anos 70. O jornalista e historiador Paulo César de Araújo em seu célebre “Eu Não Sou Cachorro Não- Música Popular Cafona e Ditadura Militar” definiu a cantora de a “porta voz das amadas amantes”.

Nascida em Santo Antônio de Pádua- MG, Cláudia Barroso iniciou sua carreira musical no início dos anos 60, gravando versões de sucessos italianos do momento sem grande êxito. Uma curiosidade é que o jornalista Mino Carta era o versionista das letras da cantora antes de tornar-se um conceituado homem de imprensa. Durante muito tempo, ela também foi crooner da orquestra do maestro Copinha nos tempos do Golden Room do Copacabana Palace.

Mesmo sem grande repercussão como intérprete, Cláudia recebeu um convite para ser jurada do programa Sílvio Santos, quando a atração ainda era exibida na Rede Globo. Graças a seu charme e beleza, tornou-se conhecida nacionalmente. Após esse período a incansável cantora tentaria de novo a carreira artística mais uma vez.

Nos anos 70, o nome da Cláudia Barroso se tornou sinônimo de sucesso em todo território nacional graças as canções românticas como “Ah! Se Eu Fosse Você”, “Quem Mandou Você Errar”, “Quem Foi Você” e “Você Mudou Demais”. Mas o maior sucesso da cantora foi mesmo “A Vida É Mesmo Assim” que tendo uma letra fácil, teve uma gigantesca aceitação no disco com o nome da cantora lançado em 1971. Na mesma época, a moça foi casada com o cantor e compositor Waldik Soriano, que fez diversas canções para sua musa gravar.

Feminista, a romântica intérprete foi porta-voz de temas polêmicos em sua época como o divórcio (“Não Tenho Medo do Divórcio”, “Ninguém Pertence a Ninguém”, “Pedaço de Papel”). Além disso, ela se posicionava abertamente contra temas tabu como a virgindade. Em entrevista ao jornal Gazeta de Notícias em abril de 1972, quando estava no auge Cláudia não perdoou: “A virgindade já era. O mundo evoluiu muito e certos tabus, como esse deveriam deixar de existir. Sou contra tudo isso e principalmente contra as mocinhas que insistem em manter-se virgens”. Por este ato, a intérprete foi alvo de críticas de diversos setores da igreja.

Atualmente, a cantora dos amores impossíveis é uma respeitável senhora e mora em Fortaleza, capital do Ceará. Sua última aparição pública foi no programa “Rei Majestade” de Sílvio Santos e também numa participação especial no recém-lançado DVD de Waldik Soriano pela Som Livre.

Excelente cantora, de voz forte e bem colocada Cláudia Barroso viveu e dedicou toda sua carreira artística para seu único estilo: o bôlero romântico. Hoje é interessante ver jovens brasileiras tendo como referências artistas norte-americanas de forte personalidade que tentaram de alguma forma questionar os costumes de sua época. Mas o nome de brasileiras como Cláudia Barroso também mereciam um melhor tratamento e serem mais lembradas.

Texto complementar:

UMA CLÁUDIA DIFERENTE

Por Aramis Millarch

Pessoalmente bem diferente da cafonice que algumas músicas e parte da imprensa lhe deram, a cantora Cláudia Barroso mostrou, no último final de semana, em Curitiba, que tem condições de revelar outra face como vocalista- a de boa intérprete do nosso cancioneiro. Em shows de clubes (Curitibano, Operário de Ahú) e no restaurante Mouraria, Cláudia chegou a entusiasmar com um popurri dos melhores sambas de Lupicínio Rodrigues e Ataulfo Alves. No final, descontraída, lamentava “não poder gravar isso que eu gosto de cantar”.

Com charme dos quarenta anos, metade dos quais de anônima vida musical, como “crooner” de boates Cláudia acha que está chegando o momento de tentar uma nova jogada: melhorar o nível de seus elepês, renovar o repertório e partir para um espetáculo de teatro, para o que conta com vários trunfos: fácil comunicabilidade, um imenso público fiel junto as classes “b” e “c” e facilidade de cantar diferentes gêneros, já que durante tanto tempo foi eclética “crooner”. Mas Cláudia- que atualmente está correndo o interior do Paraná e Santa Catarina, contratada por Ary Beraldine e fazendo mais de cinqüenta apresentações- sabe de que, para isso, há necessidade de um cuidadoso planejamento, pois “não posso perder e decepcionar meu público tradicional”.

Em termos financeiros Cláudia é hoje uma mulher tranqüila: cada show lhe rende no mínimo Cr$ 5 mil e há dias em que chega a fazer 4 ou 5 apresentações. Na semana passada, a Continental lhe deu um adiantamento de Cr$ 500 mil para garantir a sua permanência por mais três anos em seu elenco, fazendo dois elepês por ano. E o meio milhão de cruzeiros (antigos) que recebeu não foi nenhum favor. Seus discos estão entre os que mais vendem e só em 1974, garantiu o faturamento de mais de Cr$ 1.000.000,00 para aquela gravadora.

*Publicado originalmente no “O Estado do Paraná” em 27 de novembro de 1975




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