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Coluna do Biáfora

O Estripador de Mulheres

Por Rubem Biáfora, artigo selecionado por Sergio Andrade

É inevitável (e sobretudo natural e desejável) a contribuição de nossa operosa colônia oriental ao cinema que se faz aqui. Depois do êxito de “Ninfas Diabólicas”, de John Doo, uma mistura do “motivo” de “As Gatinhas” com os mitos de Circe ou mais Eros e Tanatos, temos agora a estréia do crítico, ex-cineclubista “programador de arte” (“Grupo Cena Quatro”, auditório do SESC) Juan Bajon, elemento de origem nipo-filipina e, como John Doo, também nascido na China, em Shangai, mais precisamente. Para seu primeiro filme, Bajon, cujo jovem e entusiasmado interesse pelo cinema, escolheu três temas centrais que – o jovem psicopata, o “ovelha negra” da cidade, a histeria generalizada – motivam vários outros e, o que é mais importante, procuram dar uma visão entre irônica e amarga de toda uma comunidade de periferia que um dia descobre que maníaco assassino vem agindo em seu meio. Começa então o ambiente de medo e a oportunidade para que o diretor-autor exponha as mazelas, o farisaísmo, a impiedade e o grotesco de toda uma galeria de personagens e situações. Usura, ignorância, desprezo pela vida alheia, prostituição, leviandade, insânia, procura de brilho e realização pessoal mesmo se para tal tiverem que condenar e arruinar a vida de qualquer um, não importa seja culpado ou apenas vítima de frágeis evidências. Claro, alguma coisa de “The Lodger” (“Ódio que Mata”), 1944, que John Brahm realizou com Laird Cregar e Merle Oberon sobre os crimes de “Jack, o Estripador”, talvez algo apresentado ao “The Big Carnival” que o repórter marrom Kirk Douglas desencadeava em “A Montanha dos Sete Abutres” (1957). Para a equipe Bajon fez questão de procurar o mais possível elementos novos ou que nem sempre haviam tido a devida oportunidade no cinema paulista, desde o iluminador e câmera Ciambra, aos responsáveis pela música, concentrando-se no elenco encabeçado por Ewerton de Castro (o desiquilibrado), Renato Máster (o delegado), Carlos Koppa (o acusado), Henrique César (nunca esteve tão bem como o advogado mercenário), a francesinha Sylvie Lamboi (a dançarina “espanhola”), a veterana Nieta Junqueira (a locatária), Novany Novakoski, Lídia Costa (a velha linguaruda), Gina Rinaldi e Cleyde Singer (as amalucadas donas da pensão), além das participações especiais de Abrahão Farc (o astrólogo), Aldine Müller (a descontraída mariposa), Ivete Bonfá (a aluada locutora de TV), Lola Brah (a parteira) e Marlene França (a “Madame”).

*Publicado originalmente no “O Estado de São Paulo” de 10 de dezembro de 1978



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