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SUBGÊNEROS OBSCUROS...

NAZIEXPLOITATION


Por Marcelo Carrard

A década de 70 é um gigantesco manancial de Subgêneros Obscuros no Cinema. Foi uma década de experimentalismos, excessos, transgressões e deslimites estético-narrativos que surgiam como um grito de liberdade contra o Estado de Coisas que dominava o mundo daqueles tempos de Guerra Fria e repressão política. Das profundezas dessa década caudalosa e exuberante surge um dos mais bizarros e polêmicos subgêneros do Cinema Exploitation, um dos mais perseguidos pela censura e desprezado pelos críticos mais conservadores, o famigerado NAZIEXPLOITATION.

Resumidamente vamos revisar alguns desses filmes inacreditáveis e seus desdobramentos no Cinema de Arte Europeu. Boa parte dessas produções foram realizadas na Itália. Porém, a mais famosa série Naziexploitation se originou dentro do Cinema Marginal Norte-Americano, com os filmes da sádica e peituda ILSA. O primeiro filme da série foi lançado em 1974 e dirigido por Don Edmonds. ILSA SHE WOLF OF THE SS é um espetáculo extremo de sexo desenfreado, tortura, sadismo e aberrações de várias espécies. Censurado, o filme teve vários cortes e apenas recentemente teve sua versão completa lançada em DVD. Extremamente violento e perturbador esse filme tem na clássica figura de Ilsa o estereótipo clássico da figura feminina das produções eróticas/pornográficas. Loira e peituda, Ilsa comanda a perversão e a tortura extrema com mãos de ferro trabalhando com todos os detalhes fetichistas que o figurino de couro, quepes, botas e seus significantes de dominação que nos remetem diretamente a estética sadomasoquista e todos os seus desdobramentos e sub-grupos.

Após esse primeiro filme da série, Don Edmons lançou em seguida ILSA HAREN KEEPER OIL SHEIKS, que flerta com outro subgênero similar: os filmes WIP. Mesmo transportando a ação do Campo de Concentração do primeiro filme, para um exótico Harém de escravas brancas no oriente, Edmonds já havia criado a Lenda de Ilsa como a carrasca dominadora e cruel. A série continuou com o extremo ILSA TIGRESS OF SIBERIA, que também teve vários problemas com a censura e ganhou inclusive uma versão dirigida pelo Mestre Jesus Franco lançada em 1977 e intitulada ILSA THE WICKED WARDEN, com a peituda DYANNE THORNE cometendo suas atrocidades em uma prisão sul-americana.

Fixando nosso olhar na produção italiana de filmes Naziexploitation, destacamos algumas obras fundamentais e obrigatórias para fãs ardorosos do mais puro e transgressor Cinema Exploitation. Um nome: LUIGI BATZELLA. Um filme: THE BEAST IN HEAT aka LA BESTIA NEL CALORE . Alguns filmes realmente chutaram o balde e tudo mais que viram pela frente. Esse é um deles. Como fruto de experiências genéticas de oficiais nazistas surge um mutante bizarro e tarado que vive em uma jaula e estupra mulheres incautas. A seqüência dos pêlos púbicos sendo arrancados e posteriormente comidos é uma das coisas mais absurdas que eu já vi em toda minha existência, sem comentários...

Claro que os horrores não param e de um filme para outro parece que os diretores travavam uma competição para mostrar quem era capaz de fazer o filme mais extremo. Em meio a rotina de muita nudez e sexualidade mórbida rolando o tempo todo, alguns filmes ainda acrescentavam elementos extremos e grotescos como o canibalismo, presente no inacreditável L’ULTIMA ORGIA DELLO III REICH aka CALIGULA REINCARNATED AS HITLER. Lançado em 1976 e dirigido por Cesare Canevari, esse filme é um dos mais populares Naziexcploitation feitos na Itália, famoso por seus excessos até hoje.

O Mestre Tinto Brass também filmou seu exemplar Naziexploitation: SALON KITTY. Com grande requinte de direção de arte e fotografia, Brass imprime seu estilo elegante onde o erotismo está a favor da história sem deixar de ser uma obra de grande força de denúncia contra o nazismo e todo Regime de Exceção. A trama central mostra os bastidores de um Bordel freqüentado por oficiais da SS Nazista. Estiloso, SALON KITTY foi muito imitado, porém, nunca igualado. Ainda do início da década de 70 destaca-se o filme FRAUNLEINS IN UNIFORM, dirigido por Erwin Dietrich. Já na década seguinte se destaca outra produção italiana sobre o submundo da guerra onde vemos uma prisioneira judia sendo forçada a se prostituir em um campo de concentração. O filme: NAZI LOVE CAMP 27, foi dirigido por Mario Caiano, que se escondeu atrás do pseudônimo de William Hawkins. Até o genial Jean Rollin, em seu pior momento, lançou em 1980 o clássico trash ZOMBIE LAKE, onde praticamente só aparecem em cena mulheres peladas correndo de zumbis nazistas...

Existem alguns desdobramentos interessantes dentro do Cinema de Arte Europeu onde elementos fetichistas das produções Naziexploitation são muito bem trabalhados. O grande exemplo é O PORTEIRO DA NOITE aka IL PORTIERI DI NOTTE, THE NIGHT PORTER, dirigido em 1973 por Liliana Cavani. A trama polêmica causou escândalo na época e incomodou muito a censura. Vemos em cena uma sobrevivente de um Campo de Concentração, interpretada por Charlotte Rampling, reencontrando seu ex-carcereiro nazista em um Hotel de Viena, 13 anos depois do final da guerra. O jogo entre Dominador e Dominada sofre reviravoltas e explode em surpreendentes jogos sadomasoquistas. Não menos polêmico é o clássico SALÓ de Píer Paolo Pasolini, lançado pouco tempo depois e que trabalha de maneira contundente o sadismo da Obra do Marquês Sade com a insanidade do Regime Nazi-Fascista em seus últimos dias de horror extremo.

O figurino de couro preto, os quepes, as botas, os chicotes, a cultura do couro (Leather) está presente em vários grupos, de todas orientações sexuais. No polêmico filme PARCEIROS DA NOITE de William Friedkin somos transportados para o submundo da cultura Gay Leather da Nova Iorque do final dos anos 70, como cenário de uma trama de assassinatos misteriosos em bares e clubes freqüentados por homens vestidos de couro, correntes e quepes militares, totalmente diversos da cultura gay dominante que ouvia Disco Music e se vestia e se comportava de maneira totalmente diferenciada. A cultura fetichista do uniforme é o elemento básico dos filmes Naziexploitation, é o que identifica as produções. Na próxima edição essa Coluna será escrita pelo amigo e editor-Chefe: Matheus Trunk, numa espécie de continuidade dessa temática. Até mais...



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