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Carta ao leitor.

Quando esta torta revista eletrônica estiver no ar, todos estarão muito mais preocupados com os vencedores da Mostra de São Paulo e de seus duzentos, trezentos, quatrocentos filmes exibidos. Porém, aqui quero deixar claro meu pequeno protesto com tão importante evento.

Antes de mais nada, quero deixar claro que essa é uma opinião extremamente pessoal e a qual queria deixar expressada na Zingu! há muito tempo.

O que adianta para uma cidade como São Paulo ter um grande evento como uma mostra e não dá valor a sua própria cinematografia ? Infelizmente, a verdade é que são muitas décadas de mostra e até hoje nenhum cineasta paulista foi homenageado pelo evento.

Nem os filmes geniais de um Carlos Coimbra, o cinema autoral de um Walter Hugo Khouri, Fauzi Mansur ou de um Ody Fraga. Nem mesmo o cinema popular de produtores como Mazzaropi ou Tony Vieira foram mencionados. Críticos do porte de um Rubem Biáfora ou de Almeida Salles foram esquecidos na melhor das hipóteses. O evento prefere repetidamente todo ano falar sempre de grandes autores estrangeiros.

Estes tem sua importância e é muito legal dar voz e conhecer a obra desses brilhantes cineastas gringos. Porém, essa verdadeira idolatria pelo que vem de fora muitas vezes pode nos fazer mal, muito mal.

Eu como pesquisador e homem tenho visto a cada dia mais pessoas morrerem sem o devido reconhecimento. Ou pra falar a verdade, sem 1% do devido reconhecimento. É mais do que o necessário que eventos como a Mostra dêem voz e reconhecimento a pessoas que ainda estão aqui como Cláudio Cunha, Luiz Gonzaga dos Santos, Alfredo Sternheim, Pio Zamuner, entre outros.

Não duvido que Leon Cakoff tenha diversos méritos pelo evento. Esta carta é escrita por um fanático pela mostra, que consegue ver cinco filmes em um dia. Sabemos do empenho e da qualidade da seleção. Porém, o cinema paulista merece uma mostra que mostre também essa cidade e seus cineastas. Sendo eles bons, ruins ou mesmo péssimos. O importante é mostrar a produção dessa cidade, sem nenhum tipo de concessão.

Venho por meio desta também informar do falescimento de duas pessoas importantíssimas no cenário do cinema paulista: Eliseu Fernandes e Rafaelle Rossi.

O primeiro, grande técnico, foi fotógrafo de trinta e seis longas-metragens. Foi grande parceiro de Ozualdo Candeias, sendo talvez o câmera preferido deste. Em filmes com um maior orçamento, Candeias sempre chamava o velho e sábio Eliseu. Já Rafalle foi o diretor de “Coisas Eróticas”, o primeiro filme brasileiro de sexo explícito.

Foi um estrondoso sucesso de público, fazendo seu realizador ganhar rios e rios de dinheiro. O problema é que Rossi investiu toda a grana no time de futebol de sua terra natal. A equipe caiu de divisão e Rafaelle perdeu suas verdinhas. Ora a extrema ambição e a extrema ingenuidade conviviam juntas na Boca de cinema.

Por uma mostra de São Paulo que fale dos cineastas de São Paulo,

Matheus Trunk
Editor-chefe da Zingu!



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