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Cantinho do Aguilar...

Caminhos, descaminhos e novos caminhos! - Parte - 1

Por Eduardo Aguilar
(para Ana)

Muitos assuntos na cabeça, mas nenhum que me apaixone e como escrevi quando fechei o falecido blog A Rebeldia, O Sonho e o Cinema: se não sinto tesão, não rola! Mas por conta do carinho pela Zingu! procurei encontrar alguma coisa instigante, e mesmo que me parecesse algo meio cabotino, vaidoso demais, o que me entusiasmou a escrever nesta edição foi a vontade de falar sobre esse meu novo caminho profissional e artístico na direção do teatro e que resultou no espetáculo: Os homens são singelos, as mulheres não, que por enquanto teve uma única apresentação.

Não arrisco dizer que abandonei o cinema, o mundo dá voltas e posso em breve estar pensando em algum projeto audiovisual, mas o fato concreto é que o meu entusiasmo atual está concentrado na vontade de me embrenhar no universo do teatro, ainda que tenha consciência que preciso buscar referências, ler muito, pesquisar, etc e tal, mas ao mesmo tempo e como bom canceriano que sou, acredito no meu lado intuitivo e foi assim que resolvi dar o primeiro passo em direção ao desconhecido.

No 2.º semestre deste ano fui convidado pela Casa Mário de Andrade para apresentar um projeto de oficina, recuperei a idéia central de trabalhos anteriores e dos quais haviam saído alguns dos meus curtas, entretanto, o diferencial seria estabelecer como resultado final um espetáculo teatral. Na verdade, não havia essa certeza, a busca era e ainda é por um possível caminho híbrido entre audiovisual e teatro, mas não necessariamente uma perfomance, nem mesmo algo que se pautasse na estrutura do audiovisual, era e foi importante que o resultado final tivesse forte vínculo com a essência do teatro: dramaturgia; atores; público e o efêmero!

Sim, a idéia do efêmero como elemento marcante do teatro e diametralmente oposto a idéia de permanência do cinema foi seguramente o canto da sereia que me deixou fisgado pelo teatro. E isso, somado ao fato de que cada apresentação é sempre mutável pela presença de um certo frescor que revitaliza todo o processo, seja através de uma improvisação ou de uma ‘falha’ no andamento da ‘mise’en’scène’, ou da mudança do espaço cênico ou qualquer outro elemento, o que permanece é essa noção de que uma apresentação é única e somente quem a viu é que poderá guardar de fato as reais sensações que a dita apresentação conseguiu provocar. Essa premissa muito me fascina: supor que cada nova apresentação jamais será uma repetição da anterior. É claro que rever um filme sempre irá nos permitir enxergar outros aspectos além dos percebidos na primeira visão, mas isso não é a mesma coisa, pois o filme não estará se revigorando por si mesmo, mas o nosso olhar é que estará aumentando seu poder de alcance. Nesse sentido, após a apresentação que realizamos propusemos um debate que foi altamente estimulante, e uma das primeiras perguntas ia nesse caminho, sobre a mutabilidade do teatro. E lembro que resolvi citar e contrapor um pensamento de Sidney Pollack, um cineasta canceriano que muito admiro. Pollack diz que não curte teatro por que quando os atores sobem ao palco ele tem a certeza que o controle não é mais seu, e do meu lado, uma das coisas que mais me interessa nesse novo caminho é a possibilidade do descontrole, pois o que desejo, inclusive na minha vida pessoal, é não controlar mais nada! Não sei se vou conseguir, mas o teatro me parece uma maneira muito estimulante de exercitar essa idéia.

No mais, tenho que enfatizar que muito mais do que a técnica e a ‘mise’en’scène’que caracterizam a arte cinematográfica, e que em outros tempos sempre me fascinou, hoje me interesso pelo contato com os atores e busco ao máximo eliminar as intermediações tecnológicas: a máquina atravessando e se sobrepondo ao contato humano! Daí que o teatro me parece o terreno adequado para exercitar esse meu fascínio por essa gente com tanta coragem de se expor, na maioria das vezes, muito além de uma questão corporal, e por isso, é fundamental compartilhar o processo de criação junto a eles, além de ser um caminho absolutamente descontrolado, é absurdamente fascinante e enriquecedor, mas sobre o processo de criação em si, deixo para falar na “Parte-2” desse texto, que devo publicar na minha próxima coluna.

E por fim, apenas as incertezas da paixão pelo teatro e por Ana!



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